quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Hana Khalil, Tiago Leifert E O Pão De Forma No BBB

Não vi a cena do Tiago Leifert tentando ridicularizar a Hana no veganismo. Mas, pelo que soube a respeito, ocorreu o seguinte:
Hana, a única participante declaradamente vegana no Big Brother Brasil (nessa edição e provavelmente em toda a história do BBB), foi abordada pelo apresentador Tiago Leifert sobre ter comido um pão de forma que contém ovos na composição. 
Surpreendida com a colocação, Hana reclamou da falta de informações a respeito dos ingredientes, pois a embalagem não continha qualquer menção a nada naquele produto. Leifert, mais tarde, teria desmentido sua própria afirmação, dizendo que o pão de forma não continha ovo na composição.
Tiago Leifert é funcionário das Organizações Globo, ou seja, trabalha para uma corporação cujos maiores financiadores são empresas que lucram explorando animais. É o caso da JBS-Friboi, BRF, Seara, Sadia, McDonald's, Burger King e tome lista gigante. O veganismo confronta isso.

Ao fazer chacota com o fato de o pão de forma conter ovo na composição (depois desmentido pelo próprio), Tiago Leifert mostra que não faz idéia do quanto o veganismo é coisa séria. Sua piada acabou sendo tão desnecessária quanto é desnecessário o consumo de ovos, laticínios, carnes e quaisquer insumos vindos de seres sencientes.

Das duas, uma: ou Tiago não sabe o que se passa na indústria de galinhas poedeiras, ou sabe, mas honrou a condição de empregado da Globo.

O agro não é pop e os animais não são objetos.

Força, Hana.
Hana Khalil, a vegana no BBB. Enquanto ela vira meme, galinhas viram escravas perpétuas de consumidores de ovos.

sexta-feira, 14 de setembro de 2018

Breves Reflexões Em Tempo De Eleições - Brasil, 2018


“A esquerda está dividida e isso pode abrir caminho para o fascismo”.

Li frases idênticas, parecidas ou análogas a essa de diversas fontes.

Hoje, olho para aquela afirmação de maneira mais relativista. Talvez a esquerda não esteja dividida. Talvez a esquerda, no Brasil, seja apenas algo em torno de 1% da população.

Antes de mais nada, é importante diferenciar o que é se declarar de esquerda e o que é, de fato, ser de esquerda (algo que não precisa de declaração, basta apenas ser). Uma abordagem interessante é trazida por Barry Clark: 


“o desenvolvimento humano floresce quando os indivíduos se envolvem em relações de cooperação, de respeito mútuo que podem prosperar somente quando as diferenças excessivas de status, poder e riqueza são eliminadas. De acordo com os esquerdistas, uma sociedade sem igualdade substancial irá distorcer o desenvolvimento não só de pessoas depravadas, mas também daqueles cujos privilégios minam sua motivação e sentido de responsabilidade social. Esta supressão do desenvolvimento humano, em conjunto com o ressentimento e o conflito gerado por diferenças afiadas de classe, acabarão por reduzir a eficiência da economia”.


Hoje, no Brasil existem apenas duas candidaturas de esquerda. Uma que podemos adjetivar de moderada e uma que daria para chamar de radical (no sentido de “esquerda raiz”). Todas as outras ditas candidaturas de esquerda são, na mais sinistra das hipóteses, centristas. O centro do jeito que a direita moderada gosta. Ou, pelo menos, tolera. E são exatamente essas as candidaturas com razoáveis chances matemáticas de irem ao segundo turno contra (ou seria com?) a direita menos moderada.

Reforma agrária, por exemplo, é um tema clássico para definir o espectro esquerdista. Nunca uma chapa que comporte uma pessoa que afirma não haver latifúndio no Brasil poderá ser considerada de esquerda. A questão agrária brasileira é uma tragédia do ponto de vista da exclusão social e da degradação ambiental. Não confrontar essa lógica seria se comprometer a manter dezenas de milhões de pessoas alijadas do acesso à terra.

O fato é que a cada quatro anos temos a oportunidade de mudar radicalmente, seja a realidade agrária, seja a urbana. Porém, o sistema inibe a viabilidade dessa possibilidade de mudança – seja em função do desigual tempo de televisão, seja pelo aterrador conceito de “voto útil”. No fim, as urnas eletrônicas acabam refletindo que ou temos medo da mudança ou estamos acomodados numa zona de pseudo conforto.

Infelizmente, a mínima parcela de satisfeitos é a mesma parcela que faz a narrativa hegemônica sobre quais são “as reformas que o Brasil precisa”. Isso prova o perigo que é um país ter os meios de comunicação de massa concentrados nas mãos de poucos - e todos muito ricos. Talvez seja essa narrativa hegemônica que esteja abrindo caminho para o fascismo...

quarta-feira, 17 de janeiro de 2018

Tiffany, Esporte, Transfobia - Quando A Bola Está Com Todos Nós

A transexualidade - situação de um indivíduo que identifica seu gênero de forma diversa à sua condição biológica de nascimento - está em pauta no âmbito esportivo.

Felizmente, hoje compreendemos que transexualidade não é uma questão de transtorno mental (a própria OMS está de acordo). Assim sendo, identificar-se com um outro gênero merece ser encarado com a naturalidade de tantas outras decisões identitárias que permeiam a vida de um indivíduo.

Rodrigo se via mulher. E assim fez-se Tiffany. Uma brasileira, jogadora de vôlei desde os tempos de Rodrigo, que fez a transição de gênero e de competição, passando do masculino para o feminino. E é aí que começa a pauta no âmbito esportivo.

Tiffany vem apresentando rendimento destacável na Superliga Feminina de Vôlei. Desempenho que chama a atenção pelas estatísticas e que colocou no Brasil um debate inédito em torno da questão trans: é justo que Tiffany atue competitivamente com as outras mulheres?

Acredito que se o desempenho de Tiffany fosse fraco (ou não atravessasse muito a fronteira do razoável), essa questão jamais entraria em discussão. Estaríamos nesse momento reproduzindo o doce discurso de que o esporte é democrático, de que o esporte abraça, de que o esporte tem um importante papel de incluir socialmente, de que no esporte não deve haver espaço para o preconceito. Etcétera.

Só que não. Tiffany, em apenas três jogos pelo Bauru, já superara Tandara (jogadora da seleção brasileira na modalidade) e assumira, na média por set, a liderança entre todas as pontuadoras na Superliga. Com isso, vem o debate. É justo?




Primeiramente, devemos considerar que o vôlei enquanto competição não inclui uma atleta trans automaticamente. São realizadas exigências - inclusive hormonais - para dar aptidão à atleta. Tiffany cumpriu cada um desses requisitos regulamentados. Então, sim, é justo.

O que pode desdobrar dessa discussão é se deve haver alguma reformatação no regulamento. Talvez fosse tema mais específico para fisiologistas esportivos. Dá debate.

Independentemente de para onde avance a discussão em torno da presença de atletas transexuais no esporte em geral e no vôlei em particular, é de fundamental importância observar a realidade do mundo de hoje. Um mundo que herdamos de gerações passadas e que deixaremos como herança para gerações futuras. Um mundo que, há menos de dois séculos, mantinha pretos em senzalas como propriedades de brancos. Que, há algumas décadas, negava direitos de voto às mulheres. Que, hoje, questiona a presença de transexuais no âmbito esportivo.

Quando Pierre de Frédy (vulgo Barão de Coubertin) declarou que mais importante que vencer é competir, esse pensamento foi maciçamente transformado em um sinônimo do "espírito esportivo". Tiffany, antes de ser uma ótima competidora na Superliga Feminina de Vôlei, é uma vencedora na vida. Resistiu em meio ao preconceito para chegar onde chegou. O mínimo que podemos fazer por ela é manter as portas abertas. E, para evitar que eventualmente ocorram distorções na competitividade, aperfeiçoar os mecanismos de inclusão. Mas, jamais, deixar qualquer indivíduo - transexual ou não - à margem pelo simples fato de ser quem é.

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Análise Dos Sambas-Enredo Do Carnaval 2017 - Grupo Especial, Rio De Janeiro

Faltam 2 finais-de-semana para o maior espetáculo da Terra. E é no embalo das canções que chega essa postagem: vamos analisar brevemente os 12 sambas do Grupo Especial para os desfiles de 2017 no Rio de Janeiro.

Estação Primeira de Mangueira. Atual campeã do carnaval, a Verde-E-Rosa novamente será a última escola a desfilar. E virá com um samba bem ao seu estilo: para cima. Literalmente, para cima. Se por um lado o refrão principal soa cansativo ao rimar "Aruanda" com "demanda" e "samba", por outro, há passagens belíssimas como aquela que versa: No peito patuá, arruda e guiné / Para provar que o meu povo nunca perde a fé. É uma composição de muita qualidade e que certamente vai levantar a Sapucaí. Pode botar fé que vai.

Unidos da Tijuca. Não que eu seja favorável a fazer comparações do agora ao que já passou, mas no caso da Tijuca-2017, isso ficou praticamente inevitável. Primeiramente porque a própria agremiação, em 2006, já havia trazido "música" como tema (Wantuir era o intérprete). Outro fator que força a comparação reside no fato de que o samba desse ano me lembrou demais - melodicamente - o de 2014 (homenagem a Ayrton Senna). Samba esse que, entre elogios e críticas, funcionou - e a Tijuca foi campeã. Mas a comparação final é talvez a mais cruel: do ano passado para este, é flagrante a queda na qualidade da composição. De toda forma, por mais que eu não seja fã de pegar o Borel e americanizar (prefiro fazer do Borel a Shangri-Lá, com o perdão de mais uma comparação), eu sempre hei de respeitar uma escola que tem Tinga no microfone e mestre Casagrande na condução da bateria. E eles são tão competentes, que é bem capaz de ajudarem a salvar esse samba na Sapucaí. 

Portela. Quem nunca sentiu um déjà vu se instalar ao ver a Portela sobre rio falar? A águia parece estar escolhendo as águas como habitat natural nos últimos anos. Gilsinho traz bastante suíngue para uma composição simples mas com bastante apelo emocional às raizes portelenses. Salve a Velha Guarda, os frutos da jaqueira / Oswaldo Cruz e Madureira. Agora é aguardar o rendimento do samba na avenida, com a escola tendo como grande trunfo o desenvolvimento do enredo nas mãos do genial Paulo Barros. E por falar em rendimento, ficou muito interessante o desempenho da bateria na primeira estrofe do samba, terreno fértil para bossas e paradinhas. Quem ousa vence!

Salgueiro. O samba de 2017 veio cumprindo a missão de carnavalizar a vida que é feita pra sambar. Aliás, isso vem sendo marca registrada no Salgueiro: sambas sambáveis. Daqueles que, com ou sem o título na apuração na quarta-feira de cinzas, podem ser lembrados numa roda de batuqueiros em outros carnavais. A letra é facil de memorizar - mesmo assim, eu consegui o feito de cantar "devoto dessa tal felicidade" e aprendi hoje, lendo a letra para publicar esse texto, que o verso diz "devoto da infernal felicidade". Enfim, nada que impeça de vislumbrar o paraíso no firmamento. Só entende quem é Salgueiro.

Beija-Flor. Iracema é enredo sob medida para o jeito Beija-Flor de fazer carnaval. E a narrativa do bonito samba não deixa dúvidas de que a escola explorará o modo de vida indigenista, com rituais, aldeias, divindades. Pra fazer de qualquer gringo um mameluco na Sapucaí. Neguinho, patrimônio vivo do carnaval, dá nova aula de interpretação. Há passagens muito interessantes, colocando poesia no romance entre a índia na floresta e o branco apaixonado. Porém, há que se dizer que achei cansativo o refrão principal (talvez fosse mais interessante não usar aquela seqüência de versos como refrão). De toda forma, talvez na avenida essa sensação seja atenuada em relação à gravação do CD. A conferir.

Imperatriz Leopoldinense. O primeiro ponto positivo do samba da Imperatriz foi ter mexido - mesmo que sutilmente - com o status quo. O simples fato de dizer que o belo monstro rouba a terra dos seus filhos / Devora as matas e seca os rios causou reboliço no setor do agronegócio, que vestiu a carapuça no Congresso Nacional e resolver atacar a agremiação. Incrível como a essa altura do campeonato ainda tem quem ouse defender a usina hidrelétrica de Belo Monte. E o que dizer da pecuária, atividade que mais intensifica as mudanças climáticas globais com suas emissões de metano, degradações florestais e tantas outras mazelas? O samba da Imperatriz tem passagens em tom de lamento/apelo e outras em tom de grito de liberdade. Se for cantado em peso pelos componentes, proporcionará belíssimos momentos no carnaval 2017. E que a mensagem seja internalizada. Cantar - e viver - com sentimento é outra coisa. O clamor que vem da floresta não pode ser descartado ao término do desfile e precisa ecoar para muito além do carnaval. Queria ou não o Congresso Nacional.

Grande Rio. Pensa num samba com refrão fácil e pra cima. Pensou Grande Rio 2017. Não é difícil imaginar que vai rolar a festa e que vai levantar poeira quando a escola caxiense passar pela Sapucaí com a Invocada cantando Ivete. E como se não bastasse a letra fácil e o enredo altamente popular, de quebra há ainda dois versos mágicos na arte de "chamar para o refrão": Comunidade, povo do gueto eu sou / Caxias me abraçou. Outro ponto forte é a narrativa em primeira pessoa, que acontece em todo o decorrer do samba - exceto no refrão principal. Enfim, o fato é que se animação fosse quesito, esse samba estaria um degrau (talvez um palco, ou quem sabe um trio elétrico) acima dos demais.

Vila Isabel. É o samba do ano. Como se não bastasse a Vila vir conseguindo sistematicamente encaixar grandes composições com belas interpretações, em 2017 a escola superou as expectativas. Desde sacações geniais como Eu faço um pedido em oração / Ouví-la pra sempre no meu coração até trocadilhos com gêneros musicais, tudo ganha ainda mais beleza na excepcional condução de Igor Sorriso. O povo do samba deve agradecer aos envolvidos nessa obra-prima do carnaval carioca. Valeu, Zumbi, a lua no céu / É a mesma de Luanda e da Vila Isabel.

São Clemente. Depois de ouvir o samba da Vila, o CD do Grupo Especial parte para a São Clemente. E você fica na dúvida se, na verdade, não partiu foi para o Grupo de Acesso (com todo respeito à segunda divisão do carnaval do Rio de Janeiro). Não sei precisar qual o maior erro em "Onisuáquimalipanse" (sim, é esse o título do enredo clementiano). Mas a sensação é de que o caráter descritivista histórico da composição muito mais atrapalha do que ajuda a agremiação. Mas nem tudo está perdido: na Sapucaí, essa história será contada pela Rosa Magalhães. Então, a coisa deve melhorar de figura. Mas o samba em si, sinceramente, acho que não tem salvação.

Mocidade Independente. A Verde-E-Branco da Zona Oeste pode bater no peito e dizer: "temos um samba". Samba para contar o enredo. Samba para levantar o componente. Samba com o selo Wander Pires de qualidade. Samba no embalo da bateria Não Existe Mais Quente. Lembra, pelo menos levemente, o explosivo "O Quinto Império", de 2008. Mas esse de 2017 sobre o Marrocos é mais melodioso e brincalhão. Com direito a Aladin no agogô e tantan nas mãos de Simbad. Padre Miguel tem o direito de sonhar.

União da Ilha. Não se assuste com Macurá dilê no girá, tampouco com Nzambi, Kitembo ou Nzara Ndembu. Sem espantos com a raiz Nzumbarandá, com Katendê, Kiamboté ou Kiuá. Só de boa com Kukuana, Ndandalunda e Kalunga. Também são dos nossos Nzazi e Matamba. Pode não ser tão simples de cantar, mas há muita beleza no samba da Ilha desse ano. Ito Melodia, que é a cara e voz da agremiação insulana, mandou ver mais uma vez com uma firme e encaixada interpretação. E o que temos aqui é algo com aquele astral dos (bons) sambas antigos. Daqueles que lembramos anos adiante. Coisa típica da União da Ilha do Governador.

Tuiuti. A Tropicália está aí, na Tuiuti e no vozeirão do Wantuir. Li e ouvi algumas críticas a esse samba. Sim, há alguns aspectos que poderiam ser melhorados. Mas ele é muito melhor do que dizem e digitam por aí. Rico de conteúdo (talvez tenha pecado pelo excesso) e com algumas passagens melódicas saborosas, sendo a minha preferida a que diz Quanta mistura, intercâmbio cultural. A missão da escola é dificílima: abrir os desfiles num ambiente onde há preconceito com quem vem de baixo e com quem vem primeiro. Isso por si só já causa certa apreensão. Mas raiou o sol, iluminando os versos da canção.
Imagem de divulgação dos sambas-enredo 2017 no Grupo Especial. Safra boa e para (quase) todos os gostos.

quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Marchinhas Banidas? Trago Soluções!

Está rolando um reboliço por conta de alguns blocos carnavalescos estarem banindo de seus repertórios musicais algumas marchinhas.

Primeiramente, há que se destacar o óbvio: o repertório é do bloco, então o bloco se responsabiliza pelo repertório. Simples assim. Sendo mais específico: você dificilmente verá a execução do hino do Clube de Regatas Vasco da Gama num bloco de exaltação ao Clube de Regatas Flamengo.

Desta forma, se o bloco zela por igualdade de gênero, fenótipo, espécie, escolha afetiva, religiosa ou seja lá o que for, cabe a este bloco selecionar o seu repertório. Se isso soa chocante, acho melhor terminar a leitura por aqui.

(Obrigado por continuar)

Mencionaram quatro dessas marchinhas. Vou opinar sobre cada uma delas e apresentar possíveis soluções não traumáticas.

1. Maria Sapatão

A letra é tão simples, mas tão simples, que substituí-la seria uma tarefa elementar para analfabetos funcionais. Imagine se os responsáveis por essa composição quisessem colocar em evidência um homem heterossexual em vez de uma mulher supostamente homoafetiva.

Teríamos, por exemplo:

João heterozão, heterozão, heterozão
De dia é João, de noite é João.

Lembrando que o fato da Maria ter supostamente preferências homoafetivas no período da noite, isso não gera uma mudança de nome no RG ou a necessidade de emissão de uma nova cédula identitária para uso noturno. Maria continua sendo Maria. Incrível, né?

2. Cabeleira Do Zezé

Na extrema falta do que fazer e no que refletir, não há nada como... cuidar da vida dos outros. Pausa para lembrar que estamos nesse momento na 17ª edição do Bígui Bróder Brasil. Fim da pausa.

Zezé, indivíduo de cabelo considerado grande em suas dimensões aparentes, tornou-se alvo de suspeitas comportamentais absolutamente irrelevantes para o convívio social.

Mas para não ficarmos sem essa tradicional marchinha (seria muito difícil viver sem ela, praticamente uma obra-prima da música brasileira, talvez tendo sido composta por algum pseudônimo de algum gênio do carnaval), vai uma sugestão de adaptação.

Olha a cabeleira do Zezé
Será que ele quer? Será que ele quer?

Será que ele quer deixar grande?
Será que ele já vai cortar?
Parece que o cabelo é dele.
Então é melhor respeitar.

Deixa o cabelo dele!
Deixa o cabelo dele!

3. O Teu Cabelo Não Nega

Considerando que o termo "mulata" seja de origem espanhola (feminina de "mulato", "mulo", indicando um animal híbrido que descende do cruzamento de uma égua com um jumento ou de uma jumenta com um cavalo), não há muito o que fazer. Estamos nos referindo a um vocábulo propositalmente depreciativo, usado em referência aos filhos mestiços das escravas que coabitaram com os senhores (leia-se escravocratas) brancos.

Uma sugestão automática seria trocar "mulata" por uma cor. "Branca", por exemplo.

4. Índio Quer Apito

Evidentemente, índio não faz questão de apito. Índio, em 2017, está mais interessado em simplesmente existir enquanto índio mesmo. Por falar nisso, a Imperatriz Leopoldinense, tradicional escola de samba do Rio de Janeiro, trouxe como enredo neste ano "Xingu - O Clamor Que Vem Da Floresta". E por falar algumas verdades inconvenientes (bem sutis, por sinal), a agremiação foi repreendida por membros da bancada ruralista no Congresso Nacional. É uma boa ilustração para mostrar quem é que manda e quem é que sofre nesse país.

Trazendo um pouco mais de veracidade à marchinha, poderíamos cantar assim:

Ê, ê, ê, ê, índio quer demarcação
Tá na Constituição

Lá no bananal, capanga de branco
Deu no índio uma surra a pedido do patrão
Índio ficou dolorido e estatelado no chão
- Eu não quero violência! Eu quero demarcação!

Provavelmente, essa última marchinha seria banida. Mas não por meros mortais blocos carnavalescos...

sábado, 30 de julho de 2016

Viajar Pelo Brasil Em Feriados: A Farra Das Empresas Aéreas

Estava olhando o calendário de 2017 para dar uma conferida mais detalhadamente nos feriados que estão por vir. Pude concluir que o próximo ano trará mais "finais de semana prolongados" do que 2016, o que já se pode automaticamente encarar como uma boa notícia.

Agradou-me de maneira mais específica a sinergia entre dois feriados relativamente próximos entre si: Tiradentes (21 de abril) e Trabalhador (1º de maio). A sincronicidade é perfeita: a data em homenagem ao inconfidente cai numa sexta-feira enquanto a data dos neo-escravos cai precisamente numa segunda-feira.

O cálculo que fiz é simples: pedir férias entre a segunda-feira posterior a 21.04 e a sexta-feira anterior a 1º.05.2017 (24, 25, 26, 27 e 28 de abril). Dessa maneira, serão cinco dias que se transformarão em onze. Mais do que dobrando as férias!

Faltando mais de oito meses para começarem a se lembrar de Joaquim José da Silva Xavier, fui pesquisar preços de passagens aéreas para vôos domésticos. Meu objetivo é bem específico: de Brasília para o Rio de Janeiro. E eis que levo um susto: por mais que esperasse que os valores fossem "inflacionados" em função do feriado, não imaginava que as companhias aéreas começassem com tanta antecedência a fazer sua tarifa-ganância. E isso vale para Avianca, Azul, Gol e Latam, sem exceção.

Na simulação para viajar na quinta-feira pré-Tiradentes e retornar na terça pós-Trabalhador, a opção "mais barata" encontra-se em R$1147, pela Latam. Por esse preço, dá para escolher entre ir até a América Central ou até a América do Norte - atento a promoções, dá pra cruzar o oceano Atlântico desembarcando na Europa! Ida-e-volta!
Pesquisa realizada em 30.07.2016: preços elevadíssimos mesmo com mais de 8 meses de antecedência.

Considerando a necessidade de voar na noite de quinta e voltar na manhã de terça, pois são dias "trabalhados", o valor das viagens entre as capital federal atual e a anterior sobe para R$1245, também pela Latam. É a tarifa-ganância que costuma ser cobrada em época de folia na capital mundial do carnaval. E olha que as concorrentes conseguem fazer pior: Azul começa as tarifas a partir de R$1419; Avianca não tem nada a oferecer por menos de R$1539; e a Gol só começa a conversar partindo de R$1596. Será que a ANAC sabe disso?

Enfim, pelo menos houve uma pequena consolação. Fazendo a pesquisa trecho a trecho, sem vincular a ida com a volta numa mesma companhia, foi possível encontrar uma maneira de economizar (leia-se perder menos dinheiro no comparativo aos parâmetros abusivos que vimos anteriormente). Os preços começam em R$171 no trecho Brasília-Rio (de manhã, pela Gol) e em R$255 no Rio-Brasília (a noite, via Avianca).
Embora majoritariamente caros, há alguns preços mais acessíveis isolando trecho a trecho.

Em diversas datas do ano, paga-se menos que este trecho para fazer a ida e a volta entre as cidades.

Consegui encontrar um vôo noturno na quinta por R$197,9 (pela Gol, indo para R$223,63 com a taxa de embarque) e um matinal na terça por R$280 (via Avianca, R$307,82 se incluir a taxa de embarque). Aliás, taxa de embarque é outro item digno de discussão.

De toda a forma, vejam a diferença: 223,63 + 307,83 = 531,46. Menos da metade do preço da opção "mais barata" (não esqueça das aspas e de que aqueles valores lá em cima não incluíam as taxas de embarque).

Portanto, a dica é: simule sua compra de passagem fragmentando a ida e a volta para ver se compensa viajar na mesma companhia. Há uma dica ainda mais importante: pressionar, do jeito que possível for, as companhias aéreas a baixarem os preços. Sabemos que dá. Sabemos que a parte vulnerável nessa relação entre empresa e cliente não é aquela que lucra bilhões de reais anualmente. Só não sei se a ANAC sabe disso.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2016

Pré-Apuração Carnaval 2016

Saudações carnavalescas.

Tive a alegria de conseguir assistir, domingo no setor 10 e segunda-feira no setor 3, os desfiles das escolas de samba no Grupo Especial do Rio de Janeiro. Após a passagem da Portela de Paulo Barros, não suportei mais que alguns minutos da Imperatriz (sertanejamente) Leopoldinense e tomei o rumo de casa, sentindo que já havia assistido o melhor desfile do ano. E consegui acompanhar a Mangueira, no conforto de casa, em uma bela homenagem a Maria Bethânia.

Vou, então, fazer uma síntese dos desfiles. Achei que nesse ano houve pelo menos três destaques positivos, que foram as alas das baianas (algumas delas dignas de premiações), os refrões dos sambas, que não raramente contagiavam pela força (embora nem todos tenham rendido o máximo que poderiam) e as comissões de frente. "É o ano do cavalo", como disse mamãe. Diversas escolas trouxeram o simpático quadrúpede em algum momento do desfile, sendo que duas delas deram protagonismo ao animal eqüino em suas comissões.

Domingo

O lindo cavalo branco roubou a cena no desfile da Estácio.
A Estácio de Sá fez um dos melhores desfiles de abertura dos últimos anos. Os primeiros setores da escola estavam dignos de escola que passa pela Sapucaí para ser campeã. Uma das mais belas comissões de frente do ano, um abre-alas imponente e tudo isso ao som de uma bateria que arrepiou em sua performance, com direito a bossas criativas e também coreografias. A ala das baianas também merece elogios, com um colorido e leveza encantadores.

Porém, a agremiação do morro de São Carlos não conseguiu manter o alto nível estético do início da apresentação durante todo o desfile. Se isso tivesse ocorrido, estimo que São Jorge poderia até conduzir a Estácio para uma posição entre as 6 primeiras, garantindo um lugar no sábado das campeãs. Como não ocorreu, fica a expectativa para que o Berço do Samba consiga, pelo menos, permanecer no Grupo Especial. Na minha opinião, a Estácio merece.

1º casal da Ilha chamou atenção pela maquiagem caprichada.
Depois da Estácio, foi a vez da União da Ilha se apresentar. O enredo olímpico conseguiu trazer alguns momentos interessantes, conseguindo fugir um pouco da mesmice que costuma cercar o tema. A comissão de frente foi uma aula de superação e abriu muito bem a passagem da agremiação insulana, a exemplo do belo carro abre-alas, que trouxe os deuses do Olimpo e as medalhas olímpicas.

Entre a exuberante caracterização do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, o dourado das baianas, a bateria tricolor de mestre Ciça e todo o empenho de Ito Melodia para salvar um samba entre os mais fracos da safra, é fato que a Ilha mostrou força. Mas não consigo vislumbrar uma posição melhor que a do ano passado, quando os insulanos amargaram a nona colocação.

Final azul no dourado desfile da Beija-Flor.
Na seqüência, entrou a sempre favorita ao título Beija-Flor de Nilópolis. Com um enredo sobre Marquês de Sapucaí, a Deusa da Passarela optou por dar ênfase ao ouro, fazendo a apresentação mais dourada que eu tenha lembrança de ter assistido. Alegorias ricas em detalhe, com um acabamento que contrastava aos das escolas que a antecederam, dando a entender que "crise" é uma palavra que não faz parte do vocabulário da escola.

Neguinho conduziu o samba com sua habitual maestria e, se por um lado o enredo parece deixar brechas, por outro é inegável que a parte estética da escola a credencia a sonhar com mais uma conquista. Em termos de emoção, essa se limitou à excepcional comissão de frente.

Baianas azulejadas da Grande Rio.
Quarta escola a desfilar, a Acadêmicos do Grande Rio trouxe Santos como enredo. E cravo aqui: foi a maior decepção do carnaval 2016. Não que houvesse necessariamente muitas expectativas de minha parte em torno da temática escolhida pela escola de Duque de Caxias, mas depois de ver trabalhos de alto nível do carnavalesco Fábio Ricardo, imaginei que viesse algo muito melhor do que aquilo que se apresentou no sambódromo. Santos levou de 7a1 de Maricá.

Podemos destacar no desfile caxiense: (1) a comissão de frente, que novamente apostou em truques (marca registrada da dupla de coreógrafos que assinou comissões da Tijuca com Paulo Barros e que fazia sua segunda exibição na Tricolor); (2) a bateria de mestre Thiago Diogo, que esbanjou segurança e cadência; e (3) as baianas, que vieram de azulejos. Houve ainda alguns outros momentos interessantes, mas o conjunto da obra foi bastante abaixo daquilo que se espera de um dos carnavalescos mais promissores dessa geração.

Cavalo se destacou na versátil comissão da Mocidade.
A Mocidade Independente de Padre Miguel veio gigantesca. É animador ver a estrela-guia se fortalecendo após anos tenebrosos num passado recente. Não que o desfile sobre Dom Quixote traga expectativas de colocar um ponto final nos vinte anos sem títulos, longe disso, mas acende a chama da esperança de que a Gigante da Zona Oeste esteja trilhando o caminho que a reconduzirá aos anos de glórias.

Desde a impactante comissão de frente até o gigantismo das alegorias, passando pelo bom gosto nas fantasias, há muito o que celebrar no desfile da Mocidade. Porém, houve erros que tendem a manter a agremiação novamente fora dos desfiles das campeãs: o quesito evolução foi explicitamente problemático, com direito a correria de diversas alas no último módulo de julgamento. Além disso, algumas alegorias apresentaram imperfeições no acabamento. Talvez seja fruto do fato da escola ainda não estar preparada para a grandeza a qual pertence por natureza.

Estou muito curioso de como será a avaliação da bateria e do samba-enredo. Dudu trouxe uma cadência firme, apontando uma identidade para a Não Existe Mais Quente, enquanto Bruno Ribas encaixou uma interpretação melódica que permitiu esse casamento.

Detalhe do belíssimo e monocromático abre-alas da Tijuca.
Fechando a noite de domingo, a Unidos da Tijuca cantou a agricultura e a pecuária trazendo uma estética interessante e um samba dos mais poéticos da safra. Fez muito mais que o suficiente para retornar no sábado das campeãs. Conseguiu passar o enredo com emoção, o que aumenta o mérito da comissão de carnaval. Como nem tudo são flores - e aqui vai muito mais uma opinião pessoal deste blogueiro -, a abordagem tijucana exaltando o agronegócio acaba prestando um desserviço à nação. Enquanto a Vila, campeã de 2013, preferiu dar ênfase ao homem do campo enquanto agricultor familiar, a escola do Borel, três anos depois, trouxe um viés ideológico da monocultura, do defensivo agrícola, chamando insetos de "pragas". Deve ter sido a pressão do patrocínio. Lamentável.

De toda forma, com muitos quesitos fortes, há a possibilidade real de a Tijuca conseguir melhorar a quarta colocação do ano passado. A bateria de mestre Casagrande, de novo e novamente, foi espetacular. E a ala das baianas, de ipê roxo, foi possivelmente a mais bela na noite de domingo.

Segunda-feira

O galo da madrugada misturou os carnavais e coloriu a Vila.
Trazendo um samba difícil, mas que funcionou bem (salve, Igor Sorriso!), a Vila Isabel abriu a segunda noite de desfiles com um desfile de superação. Ficou evidente que a agremiação estava com um orçamento reduzido em relação a muitas das que desfilaram domingo, mas não faltou disposição da comunidade para apresentar o enredo homenageando Miguel Arraes.

Com dignidade e amor, a escola de Noel Rosa conseguiu se equilibrar sobre palafitas e passou sua mensagem na avenida. Houve momentos bonitos na passagem da agremiação, mas confesso esperar (muito) mais de alguém do talento do Alex de Souza. A Vila deve ter feito o suficiente para manter-se no Grupo Especial, possivelmente melhorando a décima primeira posição de 2015. Mas é pouco para aquela que vinha se acostumando a colecionar grandes apresentações, ora ganhando o carnaval, ora chegando perto do título. A Vila precisa e merece sair da seca.

Quem dá as cartas é o Salgueiro, pode apostar.
Segunda escola a desfilar na segunda-feira e atual segunda colocada no carnaval carioca, a Acadêmicos do Salgueiro trouxe a malandragem como enredo. Foi o samba mais entoado de todos que presenciei. Se "energia" fosse quesito, a vermelho-e-branco teria gabaritado com folgas. Vibrante no chão e nas arquibancadas, com uma estética digna de Renato Lage e com uma fácil leitura da mensagem, a Academia do Samba estará, mais uma vez, disputando o título na apuração. Se vai levar, é outra conversa. Mas, disputará.

Entre tantos pontos fortes, destacaria a comissão de frente, a deslumbrante ala das baianas e a sempre empolgante bateria de mestre Marcão, que veio fantasiada com ternos cor de rosa, em homenagem a um travesti da Lapa. Felizmente, não houve uso de pombas, evitando a repetição da tragédia vista no ensaio técnico. Provavelmente, a última alegoria seria o local onde se instalaria o caos.

O belo colorido no abre-alas da São Clemente.
Na seqüência, foi a vez da São Clemente de Rosa Magalhães brincar o carnaval. Brincar no sentido mais irreverente da coisa, pois o enredo sobre palhaços foi isso: uma brincadeira. Às vezes de conotação mais séria, ao ponto de bater panela em referência a manifestações impitimeiras de motivações fundamentalmente direitistas. Ficou a dúvida se a agremiação da Zona Sul chamou o paneleiro de palhaço ou se apoiou o movimento político-partidário.

Pelo sim, pelo não, a São Clemente passou bem. Poderia haver maior criatividade, como disse minha irmã durante o desfile - estou de acordo. Mas o bom gosto nas fantasias e alegorias conseguiu manter um nível interessante durante todo o transcorrer dos acontecimentos. A cereja no topo do bolo foi a performance da bateria, possivelmente a melhor da segunda-feira. Dificilmente a escola conseguirá repetir o oitavo lugar do ano passado, mas sua apresentação deverá mantê-la em segurança no Grupo Especial.

O gigante está desperto.
Diferente de todas as outras, esbanjando criatividade e ovacionada pelo público. Essa foi a Portela, que foi agraciada pelo carnavalesco Paulo Barros com um desfile arrebatador. O portelense lavou a alma na Sapucaí e certamente aguarda com ansiedade a leitura das notas na expectativa de sair da longa fila de espera por um novo título.

É inviável destacar um ou outro setor da escola. Desde a comissão de frente até a última alegoria, passando pelas baianas hipnóticas, foram muitos os segmentos elogiáveis. Alguns deles, para marcar o carnaval. Dificilmente alguém conseguirá esquecer dos dinossauros capturando as arqueólogas na floresta. Ou do Gulliver levantando-se imponente (imagem ao lado). Teve até aterrissagem de nave espacial. Enfim, um desfile para relembrar, independentemente do resultado. O mundo que Paulo criou conseguiu transformar o tradicional em vanguardista sem rompimentos traumáticos, apenas mesclando e incorporando. Como se fosse fácil. Talvez seja. Afinal, no mundo dos gênios, tudo é possível.

Após a passagem da Portela, veio a Imperatriz. Zezé di Camargo e Luciano foi/foram (é no singular ou no plural?) um convite (ou dois?) a tomar o rumo de casa. Então, não fico à vontade para julgar o desfile da agremiação, pois a acompanhei apenas até o início do segundo setor. Em seguida, apresentou-se a Mangueira. Rejuvenescida e praticamente reinventada, a Estação Primeira ressurgiu na ótima homenagem a Maria Bethânia. Como acompanhei pela transmissão da emissora hegemônica que a cada ano parece se superar na capacidade de passar o irrelevante e omitir o essencial, também não fico à vontade para fazer maiores avaliações. Só que ficou evidente o quanto a Manga evoluiu do ano passado para este. Tenho forte convicção que isso irá se refletir na apuração.

domingo, 5 de julho de 2015

Pela Proibição Total Dos Testes Em Animais - Alterar O PLC 70/14

O Brasil está com a oportunidade de abolir o uso de animais em testes para cosméticos. Medida que outros países pelo mundo já adotaram e que reflete o (re)conhecimento de que os animais (incluindo os humanos e também outras espécies) possuem direitos intrínsecos em suas existências.

Encontra-se nas mãos do senador Cristóvam Buarque o PLC 70/14 (antigo PL 6602/13) e cabe a nós solicitarmos a ele - que é o relator do projeto - que não seja dada nenhuma possibilidade de uso de animais. A proibição de uso de animais para testes cosméticos deve ser integral e imediata!

Qualquer brecha que permita o uso de animais seria um retrocesso que caminharia na contramão dos avanços internacionais na matéria, como por exemplo o da União Européia. Portanto, o momento é esse, a causa é essa e recomenda-se que seja feito um contato com o senador nesse sentido.

Dica: enviar uma mensagem respeitosa para o senador Cristóvam Buarque, onde no corpo do texto transmitamos nossa confiança numa ação sensata por parte dele e indiquemos o nosso pleito, apontando que não há razões para não avançarmos em direção à proibição total de uso de animais.

Importante: a proposta precisa receber alteração porque, do jeito que se encontra atualmente, admite o uso de animais em situações excepcionais. Devemos exigir a proibição em sua integralidade e imediatamente, sem concessões.

Abaixo, a mensagem que enviei hoje para ele, via endereço eletrônico "cristovam.buarque@senador.leg.br". Lembrando que ele também é usuário assíduo no Tuíter, ou seja, não é difícil estabelecer comunicação.
Saiba mais: "Proposta sobre testes em animais que tramita no Senado precisa ser alterada e você pode ajudar".

sábado, 4 de julho de 2015

Vitória Para Recordar (Ou: Algo Além De Um Jogo De Xadrez)

Essa semana joguei uma partida de xadrez que lembrarei com carinho. O jogo começou no dia 1º de julho e interrompemos após 52 minutos, registrando os posicionamentos e anotando a próxima jogada - precisávamos retornar aos nossos postos de trabalho naquele horário de almoço de quarta-feira.
Momento da interrupção do jogo, após 52 minutos. Brancas atacando intensamente. Foto: Paulo Sérgio.

Demos continuidade na sexta-feira, 03.07.2015, sendo a minha intenção sobreviver ao ataque adversário. Essa sobrevivência, pensava eu, passava por causar-lhe alguma ameaça ao mesmo tempo em que realizava a defesa. Mas como reverter o cenário?

Dizem que "o tempo é o senhor da razão", ditado reforçado por aquele que diz: "nada como um dia após o outro". No tabuleiro, nada como um movimento após o outro. Aos poucos - bem aos poucos mesmo -  fui conseguindo equilibrar a partida. Até o momento em que passei a me ver em vantagem.

Eis um dos motivos por lembrar com carinho dessa partida: foi um jogo onde primeiro busquei a sobrevivência, e sobreviver àquele poderoso ataque oponente foi uma espécie de vitória. Depois, veio a vitória de direito, com a desistência do adversário. Contabilizei 179 minutos na soma dos dois dias, duração que representa um recorde em todos os jogos registrados naquela instituição

O fato de ser um torneio talvez seja até o de menos, embora essa competitividade de uma certa maneira estimule a concentração e a criatividade, tudo reforçado pela presença de diversos colegas assistindo os acontecimentos. Se há uma lição nisso tudo? Bem, devem haver várias. Uma delas, seguramente, seria: "nada como um dia (ou movimento) após o outro".
Momento em que as brancas desistem: xeque ao rei e iminente captura do bispo. Quase 3 horas de partida.

Algumas lembranças do jogo

(1) Adversário vinha de uma derrota para um jogador o qual eu tinha vencido duas vezes.
(2) Na condição de atual campeão enfrentando alguém que não jogava há anos, me colocaram como favorito na partida. Algo que foi desfeito com o simples desenrolar das jogadas. Favoritismo é algo abstrato demais para ser levado a sério!
(3) Estimam que o fato de eu não ter realizado o "roque" complicou minhas possibilidades defensivas, expondo o rei demasiadamente. É possível que seja esse o ponto-chave do domínio adversário, que teve todos os méritos por se colocar em uma posição flagrante de vantagem tanto de material quanto territorial.
(4) Curiosamente, após o movimento da "jogada secreta" dama G6, demoramos aproximadamente meia hora para retornarmos ao mesmo posicionamento da interrupção. Respeito mútuo.
(5) A rainha branca foi figura imponente no tabuleiro.
(6) As galopadas foram fundamentais - no ataque e na defesa - para a construção da vitória das pretas.
(7) Cada peão importa.
(8) Acredito fortemente que o fator torcida exerce influência, e conto com uma mãe que é fã incondicional. O triunfo também é dela. Quando soube do resultado, comemorou mais do que eu.
(9) Bendito seja o inventor do xadrez.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Seletividade Penal: Arcanus Para Quem?

Arcanus é um termo latim que quer dizer "secreto", "misterioso". A Polícia Federal, que costuma escolher nomes extravagantes para suas empreitadas, apelidou de Operação Arcanus sua ação que privou de liberdade funcionários da ANVISA e da própria PF, supostamente envolvidos em crimes tipificados no Código Penal. Considerando que os policiais prenderam pessoas meramente suspeitas, isto é, sem possuir provas sobre a culpabilidade dos detidos, o nome que sugere Segredo e Mistério para a Operação Arcanus é absolutamente adequado.

Em nome do espetáculo midiático ou seja lá do que for, nesse exato momento tem pai de família honesto em cárcere do Estado. O mesmo Estado que faz vista grossa com corrupção ativa do alto escalão do governo.

Gozam liberdade aqueles cuja corrupção se flagra. Imunizados.

Aqueles contra os quais sequer há provas, a prisão se deflagra. Injustiçados.

Nunca pensei que fosse sentir com a força que sinto agora o quanto não somos iguais perante a lei. Que todas as vítimas de injustiça sejam amparadas. E que nós consigamos viver sem sermos injustos com ninguém. Do contrário, entraremos todos pelo (Ar)canus.
Enquanto você vê o porto do Rio de Janeiro (cenário da Operação Arcanus), um político nos furta em Brasília (por baixo dos panos).
 Operação Arcanus na mídia: Jornal do Brasil, O Dia, Manchete Online. Perceba como os textos se repetem e como ninguém se preocupa em verificar se há ou não há provas. A quem interessa tudo isso? Em tempos de enxugamento de contas públicas, convém desconfiar a forma como estão tratando esses agentes.