E trata-se, de fato, de um filmaço. Daqueles filmes que ficam na sua cabeça, te fazendo repensar o desenrolar da história, te "perturbando" (no melhor sentido do termo, se é que o termo chega a ser apropriado), te fazendo pensar e ter dúvidas quanto à tudo aquilo que você acabara de ver. O filme terminou há mais de duas horas, e ainda está vivo, muito vivo.
Se você não o assistiu e tem a idade mínima recomendada pela censura, encaminhe-se para uma sala de cinema e saboreie a obra. Faça isso e interrompa a leitura disso que estou digitando. Vou compartilhar com vocês - de preferência que já tenham assistido - como interpretei o filme. Exatamente, como interpretei. Scorsese foi tão brilhante no desenvolvimento e no desencadear dos acontecimentos que deixa o espectador na dúvida sobre o que efetivamente era "a verdade" naquilo tudo. E isso torna o filme ainda mais especial e instigante.
Abaixo, a "ficha técnica" do filme.
Ilha do MedoRepito: se você ainda não assistiu, termine a leitura aqui. Se possível, volte depois de assistí-lo.
Título original: (Shutter Island)
Lançamento: 2010 (EUA)
Direção: Martin Scorsese
Atores: Leonardo DiCaprio , Mark Ruffalo , Ben Kingsley , Emily Mortimer , Michelle Williams
Suração: 148 min
Gênero: Suspense
Status: em cartaz
Bom, agora que só ficaram os leitores que já assistiram o filme, vamos em frente, rumo à uma interpretação possível do filme "Ilha Do Medo".
O agente federal Teddy Daniels (Leo DiCaprio), inteligentíssimo, acaba se metendo numa encrenca. Encrenca essa que ocupa basicamente a totalidade das quase duas horas e meia de filme. Encrenca essa que é na melhor das intenções, na tentativa de desvendar um mistério desafiador e de fazer justiça com o assassino de sua mulher. Isso mesmo, na minha opinião Teddy de forma alguma matou sua mulher. Quem quer que você cogite essa hipótese é o sagaz diretor Scorsese - além, é claro, da junta psiquiátrica altamente mafiosa que toma conta da ilha.
Pois bem. O filme teve a audácia de denunciar os tratamentos psiquiátricos que fazem uso de cobaias involuntárias, isto é, que de nenhuma forma consentem em oferecer seus cérebros para a satisfação de interesses alheios. Teddy não apenas discorda disso tudo, mas quer provar que aquilo de fato ocorre no perímetro da ilha. Mas como fazê-lo se, lá dentro, as pessoas querem levá-lo a pensar que ele mesmo enlouqueceu, sendo mais um paciente a ser tratado? Sinistro, muito sinistro. Ao meu ver, o filme tem algumas cenas-chave. [1] O bilhete "run" que uma paciente deu ao agente federal (sem que o "seu parceiro" pudesse observar); [2] a aparição de uma falsa Rachel Solando; [3] o diálogo arrebatador com George Noyce; e [4] a conversa "esclarecedora" na caverna, com a verdadeira Rachel Solando. Tudo isso junto me parecem as pilastras de sustentação de um filme onde não há uma única fagulha colocada em falso. Nem a de Andrew Laeddis.
O fato desse filme me fazer postar pra falar sobre ele e de me fazer sair da sala de cinema cheio de dúvidas - felizmente, tive a sorte de assistir com alguém que argumentou de uma maneira que corroborou minhas (pseudo)convicções - indicam que, mais do que valer o ingresso, é um filme para se guardar na memória. Ou mesmo para se ver novamente.
Parabéns, Scorsese, DiCaprio e a todos envolvidos nessa obra-de-arte cinematográfica.
Filmaço.