segunda-feira, 13 de maio de 2013

Festival De Cinema Francês 2013

Já virou tradição este blogueiro assistir e comentar sobre o Festival de Cinema Francês. Ano após ano, desde 2010, o público brasileiro foi agraciado com ótimas seleções da recente filmografia francesa, podendo desfrutar de obras de altíssimo nível. E dessa vez não foi diferente. A grande maioria dos filmes assistidos entram, no mínimo, na lista dos recomendados. E não são poucos os que merecem o rótulo de imperdíveis.

Infelizmente, porém, esse ano o festival teve um acúmulo de inconvenientes jamais visto antes na história desse evento anual. Filme cortado (sim, cortado, com sequências inteiras não aparecendo, fragmentando abruptamente a obra), filme dessincronizado entre áudio e imagem (palavras do próprio diretor, que compareceu na sessão), sessões praticamente vazias com a ilustre presença dos artistas (testemunhei isso noutros anos e o cenário se repete) e artistas que não compareceram (incluindo a garota-propaganda do festival). De quebra, o Rio de Janeiro, que ano passado teve duas semanas de exibições e ainda uma bela repescagem, dessa vez não contou com mais que uma semaninha em cartaz. Nem assistindo dois filmes por dia o cinéfilo conseguiria dar conta das quinze obras disponíveis. Enfim, muitos erros cometidos mas, mesmo assim, aquele sabor de quero mais. Quero mais tempo, quero mais respeito, essas coisas.
  
Há também tópicos sobre as edições de 2010 (este e mais este), 2011 e 2012 do Festival.

Renoir
Confesso ser um completo ignorante sobre a vida de Pierre-Auguste Renoir. E como o filme dirigido por Gilles Bourdos aborda um curto espaço temporal do artista, além do azar de ter assistido uma exibição defeituosa (com cenas e sequências que não foram apresentadas no cinema Odeon Petrobras), teoricamente seria um ingresso jogado no lixo. Só que não. A delicadeza da filmagem, a exuberante fotografia, a atuação magistral de Michel Bouquet (87 anos de idade e uma performance tão precisa que parece que ele e o pintor são uma pessoa só), além da beleza estonteante de Christa Theret (a musa do artista) são ingredientes que engrandecem esse belo filme. Pretendo assistir novamente, pois se já foi emocionante acompanhar a história entrecortada por problemas técnicos, creio que vê-la na íntegra será ainda melhor. Também teria sido ainda melhor se os artistas convidados tivessem comparecido, embora eles merecessem uma sala lotada e uma exibição correta.

Adeus, Minha Rainha
Uma ousada reconstrução dos últimos dias de Maria Antonieta no trono, sob uma ótica que jamais tinha visto na história da retratação da Tomada da Bastilha. O diretor Benoît Jacquot conseguiu fazer uma sólida narrativa que colocou a leitora da rainha (a belíssima Léa Seydoux) como protagonista numa obra que polemiza ao supôr uma relação homoafetiva entre Maria Antonieta (Diane Kruger) e sua grande amiga Gabrielle de Polignac (Virginie Ledoyen). Além de ser um retrato de época muito bem realizado e proporcionar uma forte mensagem sobre o conceito de fidelidade, o filme também vale pela beleza feminina daquelas três. Um final capaz de arrancar lágrimas, um trio capaz de arrancar suspiros.

Anos Incríveis

Com um ótimo tempo de comédia, Michel Leclerc foi muito feliz ao tratar de temáticas polêmicas permeadas pelo bom humor. A história corre com um dinamismo marcante, com ótimas sacadas que vão ajudando a manter o filme interessante, embora possam haver algumas cenas desnecessárias. As críticas à sociedade capitalista e à mídia golpista não eliminam uma reflexão sobre os ideais revolucionários socialistas, onde a grande conexão entre uma coisa e outra é cada risada que é proporcionada ao espectador. Comédia com cê maiúsculo mesmo. Achei particularmente muito bacana rever a atriz Maiwenn, que esteve ótima em Polissia (Festival de Cinema Francês 2012) fazendo uma personagem também ativista pelos direitos humanos, mas com uma personalidade um tanto distinta desta em Anos Incríveis. Ah! Fica comprovado que a combinação Michel Leclerc + Sara Forestier + Revolução = boa comédia. Palavras de quem assistiu Os Nomes Do Amor (Festival de Cinema Francês 2011).

Camille Claudel 1915

Filmaço. Os elogios feitos ao diretor Bruno Dumont após assistir Hadewijch mostram que o blogueiro não estava sendo precipitado: é, sim, um dos grandes diretores do cinema atual. O andamento lento do filme é na medida certa para retratar o drama de Camille Claudel (na pele da ótima Juliette Binoche). Há na obra uma virtude louvável de passar mensagens e reflexões com tamanho vigor e sutileza que é como se não pudéssemos escapar à nossa própria consciência - mérito de todos os envolvidos com direção, roteiro, fotografia, atuação etc. A cena final com as legendas retratando a biografia do que aconteceria com a protagonista é alguma coisa arrebatadora, de fazer reduzir o estoque líquido armazenado no aparelho lacrimal. De novo: filmaço.

O Homem Que Ri
De uma sacada genial os perfis dos três personagens que conduzem o filme. Do homem de semblante amargo mas que parece sempre sorrir (vivido por Marc-André Grondin) à mulher cega mas que tudo parece enxergar (Christa Theret, aquela que faz a musa de Renoir), passando pelo filósofo encarnado por Gérard Depardieu, são muitos os elementos que colocam em xeque as sociedades humanas, não faltando argumentos para questionar a ética monárquica, cristã e a própria conduta individual. Muitas vezes caminha para o clichê, mas mensagens dessa natureza são sempre bem-vindas, assim como este filme dirigido por Jean-Pierre Améris também o é. Diria que a obra completa é muito melhor do que o trêiler pode sugerir (e olha que assisti ele umas três vezes).

Aconteceu Em Saint-Tropez

Para quem gosta de um filme onde simplesmente não há como definir onde começa e onde termina a tríplice fronteira entre o drama, a comédia e o romance, eis uma obra cinematográfica daquelas imperdíveis. O conflito familiar em torno de dois irmãos cheios de diferenças consegue conciliar o que muitos suporiam impossível, com a capacidade de preencher até o supostamente trágico com altas possibilidades de risadas. Falando em risada, o pai dos irmãos protagonistas é a garantia certa. E pra quem identificar a semelhança física dele com o Roberto Carlos (aquele indivíduo que comete algumas canções), as coisas podem ficar ainda mais cômicas. E pra quem acredita que tudo está bem quando termina bem, o negócio é relaxar e curtir o muito bem dirigido filme de Danièle Thompson.

O Menino Da Floresta

Os brutos também amam. Esta frase talvez seja a síntese da animação dirigida por Jean-Christophe Dessaint. Para o público acostumado aos filmes produzidos pelos estúdios Pixar, é possível que O Menino Da Floresta pareça superficial demais. Mas acredito haver neste filme muito mais coisa oculta do que propriamente explícita. A amizade construída entre o pequeno selvagem e a simpática Manon, além de reflexões em torno do quanto a nossa personalidade é moldada pela forma como somos educados por nossos pais (e como há momentos em que a desobediência é a única alternativa ética) são alguns dos ingredientes que compõem um filme que tem na simplicidade da leitura uma de suas maiores virtudes.

Prenda-me
Diferente de tudo o que já vi, essa foi provavelmente a história mais genial (ou, pelo menos, original) que assisti no Festival de Cinema Francês 2013. E a genialidade (ou, pelo menos, originalidade) gira em torno de algo relativamente simples, só que absolutamente incomum: a autora de um dito crime perfeito resolve assumir, anos depois, a autoria do assassinato do seu marido (até então visto como suicida). Mas o que torna esse filme imperdível transcende esse ato em si, pois o grande barato está em observar as nuances que levam a mãe de família à delegacia e a delegada ao perdão. Destaque também para a técnica de filmagem onde a câmera filma em primeira pessoa, fazendo o espectador enxergar com os olhos da protagonista (grande sacada!). Conceitos de liberdade e prisão transitam filosoficamente de maneira a repensarmos o que é, em essência, estar livre. Sophie Marceau e Miou-Miou estão ótimas em seus papéis, mas talvez nem precisassem: Jean Paul-Lilienfeld dirige algo tão brilhante que é como se a história em si já se bastasse. Mas vá lá, as duas estão realmente muito bem (sem esquecer do altamente convincente Marc Barbé). E você não pode deixar de assistir. Do contrário, estará preso.

Ferrugem E Osso
Aquele que teve a oportunidade de assistir o pesadíssimo O Profeta e associou o filme ao nome do diretor já deve ter ido ao cinema "preparado" para acompanhar o mais novo filme de Jacques Audiard. Pesado, de novo. Talvez não tanto quanto aquele, mas, como bem definiu minha mãe: visceral (e olha que ela só assistiu o anterior, mostrando que tem os dez dedos do diretor nessa arte de fazer filmes marcantes). A personalidade de Ali (Matthias Schoenaerts, absolutamente excepcional) e a química dele com os demais personagens (sobretudo a Stéphanie vivida magistralmente por Marion Cotillard) é uma coisa de louco. E, assim sendo, muito se deve às ótimas atuações destes e de todo o elenco em geral. Só que faço questão de exaltar também o genial Audiard, que dirige, produz e faz o roteiro de maneira a beirar a perfeição. Com intensidade e sensibilidade até dizer chega, Ferrugem E Osso é um filme para ficar para sempre na memória. E a cena do pai querendo salvar o filho no gelo me dá arrepios só de digitar... Assista. Mas vá "preparado".

quarta-feira, 17 de abril de 2013

513 Anos Depois...

Inédito. Como diria o outro, nunca antes na história desse país um grupo de indigenistas adentrou o Congresso Nacional, encarando a ordem estabelecida institucionalmente e reivindicando os seus direitos constitucionais, para espanto e surpresa de amedrontados deputados.

Brasília. Construída estrategicamente para sediar a capital da República Federativa do Brasil, afastando geograficamente os governantes do grande contingente populacional. O Congresso, inacessível que só ele, recebeu ontem ilustríssimos visitantes em seu plenário.

Estranhos. Mas que visitantes são esses? Não usam ternos nem gravatas. Cobrem pouco o corpo e estão demasiadamente coloridos para os padrões desta Casa. O que querem fazer aqui? O Estado Democrático de Direito não pode tolerar esse tipo de situação.

Direitos. Aqueles indivíduos ali presentes estavam reivindicando direitos que foram conquistados após séculos de dizimação e opressão, seja por colonizadores europeus, seja por engravatados eleitos. Um grito pacífico de indigenistas contra a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 215.

Pecado. Essa PEC é um pecado. Mortal. Quer dar (mais) poderes ao Congresso Nacional, retirando da FUNAI a incumbência da demarcação das terras indigenistas. E se as coisas caminham muito mal nas supostas mãos da Fundação Nacional do Índio, imagine sob domínio da bancada ruralista!

Revoga, revoga! Basta de afrontar os direitos dos verdadeiros donos dessa terra. Não são estranhos, são e somos nós, nosso sangue. E se há alguma barbárie ou selvageria nos tempos de hoje, esta é o massacre diário que se promove a mando de latifundiários usurpadores da liberdade alheia.

Foi numa terça-feira, datada dezesseis de abril de dois mil e treze, quase quinhentos e treze anos depois de Pedro Álvares Cabral berrar Terra à vista! à bordo de uma caravela. Jornais impressos podem evitar publicar, emissoras televisivas podem fingir não existir, portais de grandes grupos midiáticos podem se esforçar para ignorar e omitir. Mas a verdade ninguém apaga. Em 16.04.2013, na opinião deste que vos digita, aconteceu o fato mais marcante da história desse país. E hoje, um dia após o acontecimento emblemático em pleno plenário, aumenta a convicção de que a revolução não será noticiada. Pelo menos não por esses que estão no poder.

segunda-feira, 11 de março de 2013

11.03.2013

O movimento pelos direitos animais comemora nesse dia onze de março de dois mil e treze uma conquista das mais significativas: a proibição de comercialização de cosméticos testados em animais.

Trata-se de uma decisão histórica e que a princípio se refere à União Européia, mas que certamente encontra um potencial gigantesco para chegar a todos os blocos econômicos mundiais.
(Leia também: Fim dos testes de cosméticos em animais, anuncia marca japonesa Shiseido)

A medida vem ao encontro de reivindicações que datam de mais de duas décadas, envolvendo esforços da cadeia The Body Shop e da organização Cruelty Free International.

A partir desta data, coelhos não perderão a visão para que uma criança britânica escove os dentes. A partir desta data, macacos não serão submetidos a condições severas de estresse para que um adolescente alemão passe sabonete no corpo. A partir desta data, animal nenhum será entorpecido até a morte para análise de cosméticos usados por um habitante italiano. Entre muitos outros exemplos.
(Leia também: Teste em animais)

É evidente que estamos diante de um avanço no percurso em direção à libertação animal. Mas há muito ainda o que ser percorrido. Indústrias como a alimentícia, a farmacêutica e a de vestuários, para só citar essas três, carregam em si a dor e o sofrimento de bilhões de seres inocentes.

Enquanto a legislação não avança no sentido de dar proteção legal aos animais não-humanos, cabe ao indivíduo consciente boicotar os produtos que exploram animais. Exatamente como sugeria Mahatma Gandhi: Seja a mudança que você quer ver no mundo.

Enfim, comemoremos essa data que tem tudo para ser um marco. O trajeto não termina aqui. Estamos apenas começando. Rumo ao abolicionismo.

sábado, 2 de março de 2013

Sobre Adolf Hitler E Todos Nós

Quase uma unanimidade quando o assunto é mau exemplo para a humanidade, o líder que conduziu a Alemanha ao maior conflito do século XX (a Segunda Guerra Mundial) trata-se de uma figura que desperta sentimentos intensos.

Particularmente, não vejo condições de criar simpatia e muito menos admiração por alguém que seja responsável pela matança sistemática e premeditada de tantos seres inocentes.

Mas o que temos nós a ver com isso?, poderá perguntar alguém ao ler esse tópico. Hitler é totalmente diferente da gente!, exclamaria em seguida.

Talvez a maior diferença entre Adolf Hitler e muitos de nós esteja no uso daquele bigode um tanto exótico. Em se tratando da matança sistemática e premeditada de tantos seres inocentes, a semelhança é grande.

No período em que Adolf Hitler esteve no poder, grupos minoritários considerados indesejados - tais como Testemunhas de Jeová, eslavos, poloneses, ciganos, homossexuais, deficientes físicos e mentais, e judeus - foram perseguidos no que se tornou conhecido como Holocausto. A maioria dos historiadores admite que a maior parte dos perseguidos foi submetida a Solução Final, enquanto certos seres humanos foram usados em experimentos médicos ou militares (ver: Experimentos humanos nazistas).

No período em que a indústria de animais para consumo está prosperando, grupos de animais considerados mercadorias – tais como vacas, bois, porcos, frangos, galinhas, cavalos e peixes – foram perseguidos no que se tornou banalizado como cultura. A maioria dos cientistas admite que a totalidade dos perseguidos é submetida a situações de tortura, enquanto certos animais são usados em experimentos médicos ou militares (ver: Vivissecção).

Hitler não era um mau cidadão durante 100% do tempo. Infelizmente, suas empreitadas cruéis deixaram milhões de vítimas ao longo de uma década. Agora, e quanto a nós? Será que somos bons cidadãos durante 100% do tempo? Infelzimente, algumas de nossas escolhas cruéis (na maioria das vezes impensadas, pois simplesmente não paramos para refletir sobre o tema) deixaram e continuam deixando bilhões de vítimas todos os anos.

Testemunhas de Jeová, vacas, eslavos, bois, poloneses, porcos, ciganos, frangos, homossexuais, galinhas, deficientes físicos e mentais, cavalos, judeus e peixes, para somente citar alguns exemplos, pois a lista é mais extensa, são todos eles, sem exceção, seres capazes de experienciar alegria, prazer, dor e sofrimento. Respeitemos. Façamos escolhas conscientes. Do contrário, corremos o risco de agirmos como Hitler para os outros.
Acima, Hitler com sua esposa e a amada cadela Blondi.
Abaixo, uma cidadã comum indiferente aos restos daquilo que nos acostumamos a chamar de presunto, salame, mortadela, carne suína... Será que cada um sabe onde guarda o seu holocausto?

Para mais informações, pode-se ver o verbete sobre Adolf Hitler e assistir o filme "Terráqueos" ("Earthlings").

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Salve A Mocidade (Nunca Foi Tão Sério)

O hino composto por Elza Soares e que em muitos carnavais foi o "esquenta" da tradicional escola de samba Mocidade Independente de Padre Miguel (inclusive em 2013) é uma exaltação à agremiação, notadamente à bateria, que revolucionou os desfiles com a invenção da paradinha.

Hoje, talvez mais do que nunca, "Salve A Mocidade" virou uma expressão de clamor por dias melhores à verde-e-branco de Padre Miguel. Desde que Paulo Vianna assumiu a presidência desse grêmio recreativo é público e notório o declínio da estrela-guia.

O acúmulo de maus resultados foram se acentuando. Já não se entra na Sapucaí para disputar o título. Desfile das campeãs, outrora habitual, não acontece desde 2003. E, para piorar, são três vezes na 11ª colocação nos últimos sete anos, perigando o rebaixamento para o Grupo de Acesso.

A situação chegou a tal ponto que, mesmo quando desfila em grande nível (caso de 2012, quando Alexandre Louzada desenvolveu enredo sobre Cândido Portinari de maneira magistral), a escola não conquista "o respeito" do corpo de jurados. Em 2013, o rigor nas notas mais pareceu perseguição.

Mas quem será que estão perseguindo? Por que será que estão perseguindo? Questões políticas à parte, há que se cobrar justiça nas notas, pois o carnaval é um entretenimento e competição, envolvendo paixões humanas e investimentos financeiros. Só que não. Não é apenas no âmbito do mau julgamento que reside a preocupação independente. É, também, no fato de que falta à Mocidade aquela cara de Mocidade. De escola que chega de maneira arrebatadora na avenida e deixa o sambódromo aos gritos de "é campeã".

É chegada a hora de o senhor presidente Paulo Vianna reconhecer que não será trocando de carnavalesco, de mestre-sala, de porta-bandeira, de intérprete de samba-enredo, de coreógrafo de comissão-de-frente, de diretor de bateria (tudo isso e muito mais já foi mexido e alterado) que a escola irá retomar seu brilho. É preciso mudar um posto. O posto máximo. O de presidente da escola. E, a partir daí, fazer a renovação que Padre Miguel tanto deseja. A estrela pode estar decadente. Mas o coração independente há de guiá-la de volta, firme e forte, à fortaleza do firmamento.

Salve a Mocidade! Renuncie, Paulo Vianna!



O vídeo acima é uma manifestação de ilustres independentes, pessoas com trajetória de vida que se confundem com a da própria Mocidade. É também uma convocação à mobilização popular, com passeata marcada para o sábado, 23.02.2013, às 19h, em Padre Miguel.

Petição pública pedindo a renúncia do presidente Paulo Vianna disponível em http://www.peticaopublica.com.br/PeticaoVer.aspx?pi=P2013N36079.

Salve a Mocidade!

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Carnaval 2013 - Eu, Jurado

Quesito a quesito, jurado a jurado, saberemos somente na quarta-feira de cinzas o resultado do carnaval na Sapucaí. A maioria dos desfiles foi de alto nível, embora o número de imprevistos também tenha sido relativamente elevado.

Vou aqui fazer uma espécie de avaliação comparativa e escolher as melhores exibições de acordo com cada objeto de análise. Depois, coloco uma lista de classificação de acordo com a preferência pessoal e as expectativas com relação aos julgadores oficiais selecionados pela LIESA.

Repetindo que assisti os desfiles de domingo no setor 10 e os de segunda-feira no setor casa. São inversamente proporcionais na questão do conforto e da precisão em torno do que está acontecendo. Eis as notas. Digo, vamos em frente.

Imagem do carro abre-alas da Unidos de Vila Isabel
Melhor desfile: Vila Isabel
Bateria: Mocidade
Samba: Vila Isabel
Intérprete: Luizinho Andanças (Mocidade)
Enredo: Salgueiro
Alegorias: Vila Isabel
Fantasias: Ilha
Baianas: Imperatriz
Ala: Torta alemã (Tijuca)
Carro alegórico: Floresta Encantada (Tijuca)
Comissão de frente: Imperatriz
Mestre-sala e porta-bandeira: Vila Isabel
Carnavalesco: Rosa Magalhães (Vila Isabel)
Personalidade: Mestre Marcão (Salgueiro/São Clemente)

Parte da frente de alegoria da Império da Tijuca
Melhor desfile no Grupo de Acesso (Série A): Império da Tijuca
Bateria: Cubango
Samba: Viradouro
Intérprete: Davi do Pandeiro (Viradouro)
Enredo: Cubango
Alegorias: Estácio
Fantasias: Império Serrano
Baianas: Alegria da Zona Sul
Ala: Tatus (Renascer)
Carro alegórico: Abra-alas da Estácio
Comissão de frente: Império Serrano
Mestre-sala e porta-bandeira: Unidos de Padre Miguel
Carnavalesco: Paulo Barros (Renascer)
Revelação: Júnior Pernambucano (Império da Tijuca)
Personalidade: Shangai (Cubango) e Davi Corrêa (Tradição)


Classificação por preferência e expectativa na apuração

1º Vila Isabel (termina entre os 3 primeiros lugares)
2º Tijuca (entre o 3º e 5º)
3º Salgueiro (entre 2º e 4º)
4º Imperatriz (entre 4º e 6º)
5º Beija-Flor (termina entre os 3 primeiros lugares)
6º Mocidade (entre 8ºe 10º)
7º Ilha (entre 6º e 8º)
8º Mangueira (entre 7º e 9º)
9º Grande Rio (entre 6º e 8º)
10º Inocentes (11º ou 12º)
11º Portela (entre 8º e 10º)
12º São Clemente (11º ou 12º)

No Grupo de Acesso, acredito que o título fique entre Viradouro, Estácio, Império da Tijuca e Cubango. O descenso fica entre Jacarezinho, Vila Santa Tereza, Parque Curicica, Tuiuti e Tradição. Aliás, das três que caem, dá para afirmar que será Vila Santa Tereza e mais duas.

Grupo Especial 2013 - Segunda Noite De Desfiles

Assistir pela TV é muito diferente de estar presente na Sapucaí. Mas vamos assim mesmo analisar a noite de desfiles que encerrou as apresentações no carnaval 2013 no Rio de Janeiro (veja os comentários sobre a noite dominical).

São Clemente

Com um canto forte (que ficou evidenciado nas ousadas paradinhas da bateria onde até o intérprete Igor Sorriso parava de cantar) e um desfile irreverente, a São Clemente abriu bem a segunda noite de apresentações no sambódromo. O carro "Caminho das Índias" estava primoroso, com esculturas irrepreensíveis de Shiva. As baianas vieram com um bonito colorido, mas num chapéu que parecia desconfortável de tão grande. Mas talvez pior do que o chapelão seja o fato de as senhoras clementianas desfilarem enfileiradas, o que me passa uma idéia de restrição à liberdade de movimentos. Quem mais do que as baianas merece passar pela Sapucaí bem à vontade?

Entre altos e baixos na passagem da aurinegra de Botafogo, foi a primeira vez que vi um merchandising em pleno tripé de comissão de frente, onde os telões mostravam o logotipo da mesma emissora de televisão que transmitia o desfile e que monopolizava o "Horário Nobre" enredado. O que se viu foi muito mais uma reverência à empresa de comunicações, pois não houve espaço para nenhuma obra que tenha sido transmitida em outros canais. A bateria, ponto alto da apresentação tanto pela fantasia irreverente quanto pela performance dos ritmistas, contava com ninguém menos do que Mestre Marcão (ele mesmo, que dirige a bateria Furiosa do Salgueiro) tocando caixa. Humildade e competência.

Mangueira

A Mangueira teve um grande avanço na parte estética se compararmos esse desfile de 2013 com o de 2012, ambos com Cid Carvalho como carnavalesco contratado. Se naquele ano a escola conseguiu um sétimo lugar, poderíamos pensar que não seria difícil a Mangueira partir em direção ao título dessa vez, notadamente por se tratar de uma escola de forte apelo popular e que parecia encontrar uma plástica funcional para narrar o enredo. Mas o desfile da Manga teve problemas. Algumas alas pareciam repetitivas, a evolução foi irregular, componente da comissão de frente deixou o chapéu cair em frente a uma das cabines de jurados e, de quebra, a escola concluiu o desfile sete minutos além do tempo máximo regulamentar.

Mas a Estação Primeira tem mais motivos para ser lembrada por seus acertos do que erros. A bateria ousou em vir com 496 ritmistas, fazendo transições entre os grupos que tocavam os instrumentos. Porém, o que mais me impressionou não foi nem essa transição, e sim o recuo "inventado", pois o tradicional não comportaria todos eles - foi uma parte para o recuo de sempre e outra para um corredor, do lado oposto, alguns metros a frente. Manobra arriscada e muito interessante. Só que a agremiação não soube lidar com as inovações conciliadas à grandeza da escola, e a correria e o atraso foram consequências quase naturais. O agravante foi o último carro alegórico, que tinha uma libélula em altura maior do que o último obstáculo. Tentaram de várias maneiras abaixar a libélula, mas a solução acabou sendo inusitada e inédita: o inseto voador passou por cima do concreto! Isso sim é que é passar voando pela Sapucaí. No geral, considero que a Verde-e-Rosa esteja de parabéns, principalmente pela homenagem ao eterno Delegado, em plena comissão de frente.

Beija-Flor

Chamando de "Amigo Fiel" aquele mesmo ser que é explorado e escravizado para as mais diversas atividades, a Beija-Flor fez do Mangalarga Marchador um enredo trágico filosoficamente. Primeiramente, pela falácia de que haja uma relação de amizade com o oprimido. Segundo, e não menos importante, pelo uso abusivo de penas de animais para a confecção de fantasias e alegorias. Fantasias e alegorias essas que souberam transmitir a mensagem calculada pela agremiação, a maioria delas de uma estética belíssima e efeitos deslumbrantes.

A alegoria com 20 mil tufas de palha foi um ponto alto no desfile nilopolitano. Além do visual bem resolvido e funcional visto nesse carro alegórico, antes 20 mil tufas de palha do que uma pena de faisão. O carnaval precisa se desvincular do sofrimento animal. Urgência ética. Diria que o desfile da Beija-Flor nessa segunda-feira foi a antítese do desfile da Renascer de Jacarepaguá, no sábado, onde a mensagem de preservação foi passada pelo enredo e pela escolha dos materiais. Ademais, parabéns ao Kennedy pelo magnífico trabalho de pintura desenvolvido na agremiação.

Grande Rio

Como de hábito, Roberto Szaniecki e Grande Rio trouxeram um carnaval carregado de gigantismo. O tema patrocinado dos royalties foi um prato cheio para a megalomania, que passava por fantasias individuais como a dos robôs, alas como a das baianas e alegorias como a da plataforma petrolífera. Sobrou até pra comissão de frente, trajando pés-de-pato enormes e passando pela Sapucaí de maneira heróica, pois imagine você a dificuldade de andar naquelas condições.

O pior samba do ano não foi de todo trágico, e isso se deve à sensacional bateria Invocada. Sob o comando de Mestre Ciça, os ritmistas caxienses deram um show com paradinhas e coreografias que são o atestado de genialidade desse ícone do carnaval carioca. O final do desfile da escola foi arrebatador, com uma das mais belas alegorias de todo o carnaval desse ano: um lindo iguana com deslumbrantes águas vivas que pareciam flutuar na Sapucaí, seguidos pelo contraste com a poluição de desastres ambientais. Adoraria ter visto a saída da bateria do recuo, até por se tratar de um momento do desfile conhecido por os ritmistas fazerem uma graça. Mas a emissora preferiu filmar o próprio estúdio montado na dispersão...

Imperatriz

Cahê Rodrigues estreou de maneira sublime na escola de Ramos. Foi possivelmente o desfile mais surpreendente do Grupo Especial: poucos falavam da Imperatriz como capaz de trazer uma bela apresentação, mas o que se viu foi uma passagem digna de escola campeã do carnaval. A comissão de frente estava sensacional, as alegorias de muito bom gosto e as fantasias eram praticamente todas elas de um visual limpo e caprichado. Não sei se houve alguma escola mais bem vestida do que a Imperatriz Leopoldinense, com destaque para a ala das baianas e a bateria. Aliás, que som da Swing da Leopoldina... #MestreMarconeVive

O Pará e os paraenses devem ter ficado orgulhosos pela homenagem prestada, mas há que se dizer que faltou um teor crítico. O tal "exemplo pro mundo" é um verso muito sério para retratar um cenário onde índios são assassinados por fazendeiros, coisa que em momento algum foi exposto no desfile, desfile esse que trouxe a figura de indígenas em praticamente todos os setores. Ótimas fantasias, alegorias e esculturas, mas a mensagem mascarou um estado de covardia que nem todos querem admitir que existe. Oremos à Virgem de Nazaré, pois mesmo se um dia a força nos faltar, a luz do seu olhar vai nos abençoar.

Vila Isabel

Os gritos de "é campeã" vieram sob medida para a apresentação arrebatadora da Vila de Noel, Martinho e... Rosa Magalhães. A Maga do carnaval acertou a mão mais uma vez e trouxe a escola praticamente impecável para a Sapucaí. A comissão de frente era de arrancar lágrimas dos olhos. O abre-alas, de uma deslumbrante riqueza e limpeza. As primeiras alas, impactantes.

Mas a grande covardia era o samba-enredo, um dos melhores da história catalogada do carnaval. Poesia do início ao fim. Coube à bateria dos Mestres Paulinho e Wallan a tarefa de não ofuscar o samba, pois não havia nada que precisasse ser melhorado. Missão cumprida. E, não satisfeitos, fizeram mais: sob coreografia de Carlinhos de Jesus, a Swingueira de Noel saiu do recuo e montou um arraiá em plena Sapucaí. Me arrepiam os pêlos só de digitar, olhos começam a lacrimejar. Enfim, não haveria maneira melhor de se encerrar as apresentações. Faltou só o dia clarear. Ainda era noite na manhã de terça-feira. Mas o galo jamais cantou tão alto. Parabéns, Vila Isabel!
O espantalho Julinho e o canavial Rute: casal de mestre-sala e porta-bandeira da Vila Isabel estava arrebatador. Desfile coloca a escola como forte candidata a levantar o terceiro título.

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Grupo Especial 2013 - Noite Mágica De Domingo

Após assistir os 19 desfiles na Série A (Grupo de Acesso), era chegada a hora do Grupo Especial passar pela Sapucaí no carnaval 2013. Presente no setor 10, o blogueiro se encantou, se emocionou, vibrou, enfim, teve uma noite mágica diante do "maior espetáculo da Terra".

Vamos aqui fazer alguns comentários com enfoque naquilo que foi visto de lá da arquibancada. Posteriormente, tive acesso a informações sobre fatos ocorridos em pontos do sambódromo onde não fui capaz de perceber os acontecimentos relatados. Acontecimentos, leia-se problemas.

Faço questão de registrar, porém, o quanto lamento - e lamento profundamente - a postura da emissora Rede Globo de Televisão em como lidar com esse tipo de situação. A "profissional" Ana Paula Araújo chegou ao cúmulo de expôr e salientar os imprevistos para criar desconforto absolutamente descabido, desnecessário e fora de contexto naquele que era o maior responsável pela festa maravilhosa que foi o desfile da Unidos da Tijuca, o carnavalesco Paulo Barros. Convidam o sujeito para participar da transmissão, ele atende prontamente mesmo após vivenciar momentos de euforia e tensão e é assim que o recebem? São essas as boas-vindas? Se houvesse um código de ética regendo a organização, era caso para demissão por justa causa. Lamentável.

Inocentes de Belford Roxo

Gostei do desfile da estreante no Grupo Especial, principalmente dos primeiros setores. A comissão de frente foi impactante na apresentação arrojada dos acrobatas e mais ainda na performance precisa das doze criaturas que representavam o zodíaco oriental. O ótimo e bem vestido casal composto por Rogerinho e Lucinha também deverá render boas notas à agremiação belford-roxense.

A alegoria "Ancestralidade" (segundo carro da escola) era belíssima. O 6º carro ("A fé refletida na paz de um lugar"), infelzimente passou apagado por grande parte da avenida. Acredite se quiser, logo após tirar uma foto dessa bonita alegoria, tcharam!, as luzes se acenderam. Talvez fosse melhor para a Inocentes se eu estivesse no setor 1...

Acadêmicos do Salgueiro

Foi uma aula de como se fazer carnaval com irreverência, bom gosto e originalidade. A começar pela comissão de frente, de leitura fácil e agradável. O abre-alas, no estilo raitéqui característico do carnavalesco Renato Lage estava também muito interessante. A famosa bateria Furiosa veio homenageando Che Guevara, com uma fantasia que deixou os ritmistas de mestre Marcão bem à vontade para desfilar.

Com alegorias caprichadas, alas belíssimas (a das baianas foi de longe a mais bonita da noite) e uma evolução sem problemas aparentes, não tenho dúvidas de que o Salgueiro retorna sábado. E bem posicionado.

Unidos da Tijuca

Da comissão de frente novamente surpreendente ao último carro alegórico, Paulo Barros trouxe uma apresentação para mais uma vez guardarmos na memória. O carro "A floresta encantada" estava primoroso. Alas como a da montagem automobilística e da confecção da torta alemã são para entrarem na história da Marquês de Sapucaí.

Soube depois que houve problemas, incluindo dificuldade para colocar o abre-alas dentro da avenida, desmaio de componente de alegoria, princípio de incêndio. Onde estive, pude perceber que a evolução da escola foi irregular. Mas, mesmo assim, foi a melhor apresentação, aquela que mais entreteve e envolveu o espectador. Um espetáculo mesmo. Coisas que o carnaval deve ao Paulo Barros.

União da Ilha

Cativou pela singeleza da homenagem ao poeta Vinícius de Moraes. Entrando na Sapucaí após as passagens vigorosas de Salgueiro e Tijuca, o carnaval de orçamento menos pomposo trazido pela agremiação insulana não causou o mesmo impacto visual que esses dois desfiles antecendentes. Mas a mensagem foi passada com clareza e bom gosto.

O conjunto das fantasias foi o ponto alto do desfile, que trouxe alegorias majoritariamente simples. Destaque para a original "Arca de Noé" (6º carro da escola), que desembarcou os animais na avenida e veio representada como se fosse um caderno em movimento.

Mocidade

Contagiou. O samba-enredo funcionou de maneira formidável, mesmo com sua letra um tanto restrita e carente de poesia. Deve ter sido o casamento poligâmico entre o ótimo canto do intérprete Luizinho Andanças, a energia dos componentes da escola, a fácil e feliz leitura do enredo desenvolvido por Alexandre Louzada e, talvez principalmente, a performance arrebatadora da bateria Não Existe Mais Quente.

O carro abre-alas foi uma atração à parte, com as estátuas da liberdade segurando guitarras com a estrela símbolo da agremiação e fazendo bolas de chiclete, com direito ao "ploct!". Um estouro! Mesmo com as restrições orçamentárias (não sei onde foi parar - se é que veio - o tal investimento do Rock In Rio no desfile), a escola conseguiu empolgar. Resta saber se terá a aprovação dos jurados para tentar voltar no sábado das campeãs, coisa que não acontece há muito tempo em Padre Miguel.

Portela

Comissão de frente "lugar-comum", águia bastante modesta no abre-alas e fantasias de pouca criatividade mostraram que as coisas não caminham bem pelas bandas de Madureira. De toda forma, a homenagem ao bairro teve alguns momentos interessantes, como a alegoria "O partideiro que versou no Mercadão". O 2º casal de mestre-sala e porta-bandeira juntou Portela e Império Serrano, num casamento bonito e muito feliz.

Não sei até que ponto isso se deve ao fato de a escola desfilar depois do explosivo desfile da Mocidade, mas o que me pareceu é que a Portela passou mais fria do que o habitual. Foi a apresentação mais fraca da noite. Atrevo-me a dizer que se não tivesse o nome que tem, estaríamos falando de uma forte candidata ao rebaixamento. Mas ter 21 estrelas no pavilhão não é pouca coisa não, e como cabeça (ou caneta) de jurado é um negócio misterioso, pode acabar conseguindo uma colocação razoável.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

Noite De Encerramento Da Série A 2013 Foi Belíssima No Rio De Janeiro

A segunda noite de desfiles no novo Grupo de Acesso no carnaval do Rio de Janeiro (Série A 2013) foi maravilhosa. Além de apresentações bonitas visualmente e alguns sambas interessantes, tivemos um memorável encerramento através da Renascer de Jacarepaguá de Paulo Barros: um desfile sem uso de nada de origem animal. Considero isso como um marco para o carnaval. A prova viva de que é possível, viável e aconselhável trazer uma escola ética, colocando na prática a preservação e o respeito que tantas vezes são teorizados em diversos enredos. Espetacular. Que vire tendência! A vida agradece!

Agora vamos analisar as apresentações dessas últimas dez escolas, assim como fizemos com relação às nove primeiras.

União de Jacarepaguá

Veio falando da cidade de Vassouras e, enquanto desfilava, a emissora que deveria transmitir a passagem da escola preferiu manter sua grade habitual, com novelas, reáliti e companhia. O jeito foi aguardar o VT, que passou após o encerramento da Renascer de Jacarepaguá. E valeu esperar: a escola veio bem, desfilando um colorido muito bem distribuído. Os primeiros setores foram quase que integralmente nas cores da agremiação alviverde, com direito à presença do carnavalesco Jorge Caribé num belo tripé vegetacional. Foi um desfile leve, com três alegorias (a maioria das escolas trouxe quatro) e o encerramento com um tripé (nesse caso não achei uma escolha acertada, pois "esfriou" o desfecho da apresentação). A bateria de Mestre Marquinhos foi generosa em suas bossas, sendo o destaque nessa "abertura" da segunda noite (abertura para quem estava lá, quase fechamento para quem acompanhava pela emissora noveleira).

Paraíso do Tuiuti

Carente de irreverência, o enredo sobre Chico Anysio passou pela Sapucaí de maneira sem graça. Teve um ou outro momento interessante, mas o conjunto da obra foi um desfile pesado esteticamente, por vezes beirando a confusão visual. A comissão de frente, que teve dois componentes sendo flagrados com mal-estar após a apresentação, me pareceu mal concebida, não aproveitando a versatilidade do humorista retratado no enredo. De mais belo, achei a rainha de bateria Mayra Cardi. De mais engraçado, a entrevista de um repórter com uma integrante da ala das baianas (elas vieram vestidas de noivas): "Dona Edna, como você faz para segurar seu casamento?", perguntou. Ao que a componente respondeu: "Eu matei os dois". Chico deve ter sorrido, onde quer que estivesse.

Tradição

Foi a primeira escola pela transmissão televisiva, a terceira para quem estava lá. Estou aqui pensando se seria melhor (ou menos pior) para a escola entrar abrindo a noite ou vir na posição que veio. Sinceramente? Pouco importa. O desfile foi feio visualmente, com fantasias de gosto pra lá de duvidoso. Sem entrar no mérito do orçamento limitado, já sabendo que isso realmente interfere significativamente na execução das idéias, mas o fato é que não é porque não se tem de dinheiro que as coisas tenham que ser bizarras. De toda forma, a Tradição possibilitou um dos grandes momentos da Série A: o compositor Davi Corrêa, autor da obra original de 1981 e que foi reeditada 32 anos depois, não apenas estava lá esbanjando carisma como cantou junto do intérprete oficial, Marquinhos Silva. Uma viagem no tempo. Irregular esteticamente, a Tradição foi a dona da noite na parte sonora do espetáculo, com um samba que funcionou novamente. E tem cara de que funcionará sempre, sobretudo na ilustre presença de Davi Corrêa. Cabe também elogiar a proposta da escola de reciclar os materiais. O gosto a gente discute, uns podem se agradar e outros nem tanto (meu caso). Mas um desfile reciclado e com uso de materiais alternativos será sempre melhor que um degradante ética e ambientalmente.

Império Serrano

Trazendo a cidade de Caxambu como enredo, o Império Serrano conseguiu fazer um desfile abordando as águas sem cair na mesmice que o tema tanto escorrega. Mérito para o carnavalesco Mauro Quintaes, que proporcionou um desfile com alguns momentos memoráveis. A começar pela comissão de frente, que sofreu o desfalque do tripé (por alguma razão, o elemento alegórico ficou de fora do desfile) mas que não sentiu a falta da alegoria: com uma coreografia funcional e fantasias sensacionais, a comissão imperiana inovou e encantou. O carro abre-alas, limpo e tecnológico, remete ao estilo raitéqui de Renato Lage, com direito a um telão circular que deu um efeito muito legal de movimentos de água. Por fim, o último carro alegórico foi belíssimo: mulheres grávidas formavam a coroa, símbolo da agremiação. As fantasias foram de alto nível, mantendo um padrão de qualidade do início ao fim. Se vai subir para o Grupo Especial, não sei. Mas foi um baita desfile da escola.

Cubango

"Teimosias da Imaginação" foi a confirmação do talento desse carnavalesco chamado Severo Luzardo. Acertou a mão na ala das baianas (espetaculares em preto-e-branco), trouxe o mais belo tripé da Série A 2013 (um rinoceronte em vime) e teve na figura de Shangai, homenageado, um momento a ser lembrado por muitos carnavais, de emocionar mesmo. Um enredo ousado e uma bateria abusada, com o talento de Mestre Jonas ajudando a tornar o desfile ainda melhor. Faltou o canto dos componentes, prejudicando a harmonia, mas foi um desfile com vários atributos que colocam a Cubango entre as mais fortes concorrentes ao troféu.

Sereno de Campo Grande

Caçula do grupo, a Sereno de Campo Grande nem alcançou a maioridade e já fez um desfile de gente grande. O enredo é daqueles que são sempre bem-vindos, trazendo a proposta de um mundo com mais consciência. É uma temática que cai para o abstracionismo, mas que materializada em alegorias e fantasias consegue passar a mensagem. O samba era praticamente um hino à paz, com passagens belíssimas, porém de difícil memorização. Fantasia e maquiagem da comissão de frente, esculturas no florestal abre-alas e a ala da reciclagem foram momentos fortes no desfile. Lamento é o camarada falar em paz, harmonia, unicidade e colocar tantas penas de seres abatidos covardemente. A se repensar, para que teoria e prática caminhem e desfilem juntas.

Império da Tijuca

Juninho Penambucano, carnavalesco da escola, é pra mim a revelação do carnaval 2013. A África estilizada no abre-alas causou bonito impacto visual, que me remeteu ao desfile da Vila Isabel homenageando Angola, ano passado. Deve ter rolado influência sobre esse desfile. O jogo cromático foi dos mais bonitos na noite e há que se dizer que encerrar o desfile sobre mulheres negras com uma imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida trata-se de algo formidável. Abençoando a apresentação. Teve perfil de campeão. Aguardemos a apuração.

Caprichosos de Pilares

Com um dos enredos mais originais do ano (diria até que possivelmente o mais original), a Caprichosos trouxe sua irreverência habitual para falar sobre os fanatismos. A performance ilusionista da comissão de frente, a bateria vindo de Profeta Gentileza e a crítica ao fanatismo religioso foram momentos para se recordar. Pelo conjunto, tivemos um desfile cheio de mensagens, algumas talvez até mesmo menos explícitas do que outras, mas também presentes, sendo ao mesmo tempo crítico e irreverente, porém, pecando no visual. E pecar no visual após uma apresentação como a da escola que a antecedeu tem um peso maior. Uma questão de fanatismo por comparações.

Unidos de Padre Miguel

África novamente. E lá vamos nós comparar com tantos desfiles que retrataram o continente. Dessa forma, por mais que a Unidos de Padre Miguel tenha conseguido uma apresentação correta, pouco ou nada acrescentou de novo. Achei belíssima a roupa do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, reunindo cores que não são habituais nessas vestimentas. Também gostei muito do setor em torno da alegoria da Galinha de Angola: o carro ficou bacana, a ala que o antecedeu era uma das mais bonitas da noite e ala seguinte, das crianças, estava o maior barato. Possivelmente a ala de crianças que melhor passou pela Sapucaí. No final das contas, um desfile que você gosta mas se pergunta se é só isso. Era.

Renascer de Jacarepaguá

Um encerramento de Série A para lavar a alma. Com um enredo preservacionista, a Renascer desfilou o preservacionismo em todos os seus componentes, da comissão de frente ao último integrante da escola. As alegorias-vivas marcaram presença com a assinatura do gênio Paulo Barros, proporcionando momentos como o belíssimo carro das joaninhas nas plantas, onde humanos faziam uma revoada de pássaros. Soluções como os guarda-chuvas floridos foram muito interessantes. Mas o grande destaque foi o conjunto das fantasias, impecável. Impecável na estética, impecável na mensagem, impecável na confeccção. Nada de origem animal, ou seja, a crueldade com faisões, patos, gansos, araras, pavões e tantas outras vítimas da depenagem não esteve presente. Desfile pra nos fazer renascer em uma nova consciência. Que se esteja criando uma nova tendência! Parabéns, Renascer! Parabéns, Paulo Barros!
 Renascer de Jacarepaguá fechou os desfiles na Série A 2013 com uma apresentação memorável, que marca época pela confecção de um carnaval sem uso de penas nem plumas, preservando a vida e trazendo soluções muito felizes para fantasias e alegorias. Mais uma marca deixada por Paulo Barros, para o bem do carnaval.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Ótima Noite De Desfiles No Rio De Janeiro

A primeira noite de desfiles na Sapucaí no carnaval 2013 foi altamente positiva. Com essa história de inchar o novo Grupo de Acesso (agora chamado de Série A), ficou ensacarada uma diferença no nível de organização e investimento entre as apresentações de escolas menos badaladas e outras mais conhecidas.

Vou aqui fazer breves análises sobre as nove agremiações que passaram pelo sambódromo na noite de sexta-feira para sábado. Assisti todos os desfiles pela televisão, cuja emissora detentora dos direitos de transmissão só foi mostrar as duas primeiras escolas depois de concluída a passagem da última, dando preferência a um VT do que àquilo que acontece ao vivo, o que considero um desrespeito ao samba.

Unidos do Jacarezinho

Abriu o carnaval da Série A fluminense com uma homenagem ao eterno Jamelão, maior intérprete de todos os tempos. O desfile em si foi bastante simples, pecando no acabamento em algumas alegorias, mas mantendo um conjunto sem grandes oscilações. Não há como deixar de comentar o fato de o segundo casal de mestre-sala e porta-bandeira ter assumido o posto de primeiro casal instantes antes de iniciar a apresentação: é que rolou um imprevisto de última hora (talvez de últimos minutos) com a roupa da primeira porta-bandeira, Raessa. Se você acha isso um absurdo, fique calmo, pois ainda vamos mostrar nesse tópico contratempos ainda mais bizarros. No mais, foi legal ver a última alegoria da escola trazendo uma escultura do Jamelão com um largo sorriso, em homenagem bem-vinda e que poderia - e deveria - ter sido prestada pela Mangueira. Então, obrigado à "Estação Primeira" do Jacarezinho pelo enredo.

Porto da Pedra

Fazendo uma viagem sobre o mundo dos calçados, o Tigre passeou do fútil a uma crítica social forte, passando pelo irreverente, num desfile de qualidade estética digna de uma escola acostumada ao Grupo Especial. O grande destaque na apresentação da escola de São Gonçalo foi a bateria Ritmo Feroz, comandada pelo competente Thiago Diogo. Ousada, cadenciada e intensa, a bateria foi um dos pontos altos de toda a noite de desfiles, pronta para arrebatar as quatro notas máximas, assim como conseguiram ano passado, apesar do rebaixamento. Muitas mulheres bonitas e pouco fantasiadas também deram uma levantada na performance da Porto da Pedra. Rose Barreto, por exemplo, foi uma que veio a frente do último carro alegórico e me deixou na dúvida: seria ela componente, tripé ou alegoria? Um espetáculo, isso com certeza. A escola, embora não tendo sido uma das minhas favoritas, tem chance de título.

Santa Cruz

Terceira escola a desfilar e primeira a ter sua transmissão ao vivo, a Acadêmicos de Santa Cruz trouxe um desfile colorido e com fantasias bem elaboradas. Houve problemas com a evolução devido às manobras de pelo menos dois carros no momento de entrar na avenida, mas a escola conseguiu, no geral, uma apresentação correta. Foi pouco para tentar disputar o título mas mais do que o suficiente para se manter no grupo. Cumpriu o seu papel, trazendo um desfile compacto e agradável de se assistir. Inclusive na parte sonora, pois o samba era bacana e contava com ninguém menos que o multicampeão Paulinho Mocidade no microfone.

Vila Santa Tereza

Para quem acredita naquela idéia de que os obstáculos aparecem para que futuramente possamos evoluir, então a Vila Santa Tereza deu um passo largo para a perfeição em anos vindouros. Foram muitos os contratempos que atingiram a agremiação, incluindo as fantasias da ala das passistas (as meninas vieram de calcinha e sutiã), da bateria (os ritmistas foram com trajes improvisados daqueles que vemos em blocos de carnaval bem xexelentos) e até a ala das baianas, que desfilou com apenas vinte e duas componentes, abaixo do mínimo exigido por regulamento. O chão da escola está de parabéns pela alegria genuína de desfilar nessas condições supracitadas. Destaque para a comissão de frente estilo afro, de coreografia ousada e com um visual simples e funcional.

Parque Curicica

Homenageando os noventa anos da Portela e reeditando o samba portelense de 1994, a União do Parque Curicica esteve bem na voz de Ronaldo Yllê e na bateria faceira de Lolo, mas o desfile não emplacou. A comissão de frente afro acaba nos levando a compará-la com a escola anterior, e a agremiação que a antecedeu pareceu-me superior nesse quesito. De toda forma, há que se dar os parabéns: a escola quase fechou as portas e somente definiu enredo três meses atrás. Exemplo de superação.

Estácio de Sá

Excelente. A Berço do Samba trouxe uma comissão de frente de arrepiar, um abre-alas imponente e um desfile de estética bem definida, com bastante luxo permeando alas e alegorias. Tudo isso num samba de refrão forte e com as bênçãos de uma bateria de pegada intensa. Foi um dos melhores carnavais assinados por Jack Vasconcelos que tenha assistido até hoje. A dúvida que fica é o quanto a correria e o décimo perdido pelo minuto excedente no cronômetro poderão impactar na busca da Estácio em retornar ao Grupo Especial. Subindo ou não, o fato é que a escola conseguiu um desfile à altura de suas tradições, numa bonita homenagem ao músico Rildo Hora.

Alegria da Zona Sul

Para mostrar toda sua alegria, a escola enfrentou incêndio no barracão e até uma enchente, sendo desafiada para conseguir trazer seu enredo para a Sapucaí. E não apenas trouxe como saiu-se bem homenageando o Cordão do Bola Preta, com uma simpática bateria vestida de Nêga Maluca e a ala das baianas mais bonita que passou pelo sambódromo nessa primeira noite - coloridonas sem perder a leveza, fugindo das fantasias brancas monocromáticas que predominaram entre as demais agremiações, as baianas da Alegria da Zona Sul foram o grande destaque da apresentação da escola.

Acadêmicos da Rocinha

Novamente com um enredo original, a Rocinha trouxe a alimentação como tema, numa abordagem criativa e irreverente por parte de Luiz Carlos Bruno. Uma pena que a temática tenha sido desenvolvida sem o teor crítico que merecia, banalizando a matança de animais para promover churrasquinhos de gato (comissão de frente), feijoada (em vários trechos do desfile), junk food (que teve uma alegoria inteirinha só para si) etc. Dado o talento inventivo do carnavalesco, diria que se ele fosse vegetariano poderíamos estar diante de um desfile para marcar época. Mas não foi o caso. Apesar dos pesares, foi maior barato ver componentes trajados de almôndegas pulando contentes num pratão de macarronada. Coisas do carnaval. Ah! Cabe aqui elogiar a bateria de Mestre Maurão, com um andamento muito legal e a quantidade recorde de 37 cuícas.

Viradouro

A Unidos do Viradouro fechou a primeira noite de desfiles com chave-de-ouro. Diria que foi uma apresentação arrebatadora por parte da escola carnavalizada por Max Lopes, homenageando o Salgueiro de maneira encantadora e emocionante. O samba-enredo é uma maravilha, disparado o melhor que ouvi até agora na Série A - se fosse no Grupo Especial, diria que só não é melhor que o da Vila Isabel, superando todos os demais. Davi do Pandeiro interpretou com maestria, trazendo uma melodia belíssima num samba sem refrão, mas que ecoou fortemente entre a passarela e as arquibancadas: houve um problema no som e, quando não se ouviam intérpretes, foi possível ouvir e se arrepiar com o canto forte das vozes humanas, sem microfones, a plenos pulmões. Mestre Pablo totalmente caracterizado, Carlinhos Coreógrafo espetacular, comissão de frente funcional e integrada ao primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, um abre-alas memorável, uma belíssima rainha de bateria e um carnaval onde Max mais uma vez mostrou porque é chamado de "Mago das Cores". Teve tudo isso e algo mais. A Viradouro está mais do que na disputa pelo título. Está de parabéns.
Homenageando a Acadêmicos do Salgueiro, a Unidos do Viradouro fechou a primeira noite de desfiles no Rio de Janeiro com uma apresentação sensacional. Para o blogueiro, uma forte concorrente ao título na Série A 2013.

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Por Um Carnaval Sem Covardia Na Fantasia


O presente tópico vem em clima e ritmo de carnaval. Numa das épocas mais festivas do ano e considerado por muitos como o maior espetáculo da Terra, os desfiles das escolas de samba costumam trazer temas que muitas das vezes remetem para o bem, para pensamentos de preservação etc e tal. Mas de que adianta falar de preservação se não se faz a preservação?

Então, o blogueiro reeditou refrões de sambas-enredo desse ano de 2013, fazendo uma brincadeira com coisa séria. Na melhor das intenções. Quem sabe, um dia, olhemos para trás e pensemos: "caramba, a gente fazia fantasia violando corpos animais?". Precisamos parar com essa cultura de exploração. Viva o carnaval com ética e respeito. No falar e no fazer.

Deus Thor me chamou, vou nessa viagem
Que felicidade, é vegan meu bem
Metade da minha fantasia é sem plumas
A outra metade é sem plumas também
(Unidos da Tijuca)

Tá na capa da revista, o meu pavilhão
E na cara dessa gente, o orgulho a emoção
Sem plumas de bicho no peito
Tem banca, moral, respeito
(Acadêmicos do Salgueiro)

Fantasia sem crueldade, é pra lá de bom
Ao som do fole, eu e você
A Vila vem plantar felicidade no amanhecer
(Unidos de Vila Isabel)

Sou coerente, meu amor
Um vencedor, meu limite é o céu
Eu vim brilhar com a Beija-Flor
Valente e guerreiro, vegano fiel
(Beija-Flor de Nilópolis)

Um animal que sente dor, sou eu
Vem cá, me dá, o que é meu, é meu
(Acadêmicos do Grande Rio)

Cai na folia sem pluma, meu bem, vem na fé
Na ilusão da fantasia
Tem consciência quem quer
(Portela)

Mangueira... o trem da emoção
Viaja na imaginação
Minha fantasia é sem pluma, matou ninguém não
É poesia que faço de coração
(Estação Primeira de Mangueira)

Onde anda você, "ararinha"?
Saudade mandou te buscar
A Ilha é vegan na avenida
Mais que nunca vou te respeitar
(União da Ilha)

Uma onda me embala, invade a alma
No peito explode a minha paixão
Um mundo melhor, que felicidade
Minha fantasia não tem crueldade
(Mocidade Independente)

No norte a estrela que vai me guiar
Exemplo pro mundo: Pará
O talismã do meu país
Sem plumas a Imperatriz
(Imperatriz Leopoldinense)

Olha quem chegou, tem caçador na mata
As aves estão fugindo desesperadas
Fantasia sem pena, por favor, minha gente
Na tela da São Clemente
(São Clemente)

Meu oriente é você
Vim mostrar o meu valor
Inocentes, as aves merecem viver
Boicote penas e plumas, amor
(Inocentes de Belford Roxo)
Exemplo de "resto de uma fantasia". Abaixo, vídeo mostrando exemplo de uma indústria de penas.

domingo, 6 de janeiro de 2013

Análise Dos Sambas-Enredo Do Carnaval 2013 - Grupo Especial, Rio De Janeiro

Já virou tradição nesse blógui analisarmos os sambas-enredo das agremiações no Grupo Especial do Rio de Janeiro. Fizemos isso em 2010, em 2011, em 2012 e, pela quarta vez, estamos marcando presença para comentar as impressões a respeito de cada composição. Como esse tópico está sendo publicado antes dos ensaios técnicos na Sapucaí, não teremos vídeos como aqueles que foram vistos ano passado. De toda forma, espero que seja proveitosa a leitura.

Escola: Unidos da Tijuca
Enredo: "Desceu Num Raio, É Trovoada! O Deus Thor Pede Passagem Para Mostrar Nessa Viagem A Alemanha Encantada"
Trecho: Vai brilhar em cada cinema, um anjo sonhar / Em prosa e poema, se eternizar
Análise: O enredo é um passeio pela Alemanha, e o passeio é tão longo que pode ser considerado um mérito da escola o fato de o samba não ter ficado enfadonho. Pelo contrário. Tirando o refrão principal, que destoa pelo vazio de conteúdo, merece elogios a obra tijucana. E tudo deverá ficar ainda melhor quando se revelar cada ala e cada alegoria no desfile elaborado pelo genial Paulo Barros.

Escola: Acadêmicos do Salgueiro
Enredo: "Fama"
Trecho: Sou eu o artista, famoso sambista / Me chamo Salgueiro
Análise: É impressionante como qualquer coisa que caia nas mãos e no gogó do Quinho, dá samba. Se analisarmos friamente a letra do Salgueiro para 2013, a composição é muito abaixo da do ano passado. Mas a alegria é a mesma de sempre e dá aquela vontade de se mexer, de sambar sem parar quando se ouve essa parceria dos intérpretes com a Furiosa Bateria.

Escola: Unidos de Vila Isabel
Enredo: "A Vila Canta O Brasil Celeiro Do Mundo – Água No Feijão Que Chegou Mais Um…"
Trecho: Agradeço a Deus por ver o dia raiar / O sino da igrejinha vem anunciar
Análise: A Vila está se mostrando especialista em fazer samba que concilia poesia e empolgação. No meu entendimento, é isso o que se espera de um bom samba-enredo. Essa é a segunda ou terceira vez nos últimos quatro anos que vejo na escola de Noel Rosa a melhor composição da safra. Salve, Martinho! Parabéns, Tinga!

Escola: Beija-Flor
Enredo: "Amigo Fiel – Do Cavalo Do Amanhecer Ao Mangalarga Marchador"
Trecho: Eu vou cavalgar pra encontrar / A minha história nesse mundo de meu Deus
Análise: É a Era dos patrocínios. Exploradores de equinos derramaram dinheiro em Nilópolis e a escola resolveu falar sobre o "puro sangue". Estivéssemos no século dezenove, grandes seriam as possibilidades de algum grêmio recreativo escola de samba se prestar a promover a escravidão de pretos para honrar as verbas injetadas pelos senhores de engenho. E Neguinho, de tão "profissional", se prestaria a cantar. E sabe o que mais? Muitos sambariam...

Escola: Acadêmicos do Grande Rio
Enredo: "Amo O Rio E Vou À Luta: Ouro Negro Sem Disputa"
Trecho: Um Grande Rio de amor, sou eu / Vem cá, me dá, o que é meu, é meu
Análise: É a Era dos patrocínios... A Grande Rio, que "surgiu" como uma escola que dava um banho de cultura, passou a ser uma captadora de recursos sem critérios. Dessa vez, foram os royalties do petróleo que seduziram a agremiação caxiense. O pior não é nem isso: a letra é medonha e há inclusive comentários levianos sobre a extração do combustível fóssil. Levianos para não dizer falaciosos. A palavra "preservar" deveria ser proibida de ser colocada em vão. Fico eu aqui imaginando se Nêgo, que retornou à tricolor, não sente saudades daqueles tempos em os enredos da Grande Rio eram escolhidos com menos influência financeira do que filosófica.

Escola: Portela
Enredo: "Madureira… Onde O Meu Coração Se Deixou Levar"
Trecho: Cai na folia comigo, meu bem, vem na fé
Análise: O samba portelense desse ano me lembra muito o do ano passado. Gilsinho seguiu a mesma linha melódica de 2012 e, novamente, a escola virá com uma composição gostosa de se cantar. Dessa vez, o apelo aos torcedores da escola é maior, pois o enredo conta a história do bairro de Madureira. Ninguém me perguntou nada, mas preferi o samba do ano passado.

Escola: Estação Primeira de Mangueira
Enredo: "Cuiabá, Um Paraíso No Centro Da América"
Trecho: Meu samba é madeira, é Jequitibá / É poesia dedicada a Cuiabá
Análise: Achei interessante o fato de as rimas mangueirenses serem verso-a-verso, praticamente na totalidade da letra. Isso não é receita de sucesso, mas quando a melodia ajuda, facilita demais para o samba cair na boca do povo. E essa é a impressão que tenho: será um dos sambas mais cantados em 2013. Com as bênçãos da Surdo Um.

Escola: União da Ilha do Governador
Enredo: "Vinícius, No Plural. Paixão, Poesia E Carnaval"
Trecho: Onde anda você, "Poetinha"? / Saudade mandou te buscar
Análise: Não apenas gostei - e muito - do samba da Ilha como achei esse trecho acima um dos mais belos feitos nos últimos anos. É simples e profundo, direto e reflexivo. Ito Melodia, mais uma vez, acertou no tom. Na Era dos patrocínios, há que se valorizar um enredo autoral homenageando um "imortal". Dinheiro nenhum compra isso.

Escola: Mocidade Independente
Enredo: "Eu Vou De Mocidade Com Samba E Rock In Rio – Por Um Mundo Melhor"
Trecho: Um mundo melhor… que felicidade / No Rock in Rio eu vou de Mocidade
Análise: Sou suspeito pra falar de samba da Mocidade pois não sei precisamente onde fica a fronteira entre o analista e o apaixonado. E, somando-se a isso o fato de ser um apreciador do festival denominado Rock In Rio, o melhor a fazer seria ficar calado dada tamanha parcialidade. Mas há pelo menos duas coisas que não posso deixar de dizer. A primeira é que não achei um grande samba e muito disso se deve às limitações que o próprio enredo impõe. A segunda é que, apesar disso, acho que há grandes chances de o samba puxado pelo Luizinho Andanças casar com o desfile preparado pelo Alexandre Louzada. De toda forma, nada que possa se comparar com a poesia que se fez ao Portinari no carnaval passado.

Escola: Imperatriz Leopoldinense
Enredo: "Pará, O Muiraquitã Do Brasil"
Trecho: Oh! Mãe… Mesmo se um dia a força me faltar, / A luz que emana desse teu olhar / Vai me abençoar
Análise: Muito legal ver um samba nas vozes de Dominguinhos e Wander. E o samba da Imperatriz tem muito a cara deles, principalmente do Dominguinhos. Não sei como será o funcionamento disso na avenida, mas torço para que seja o melhor possível. O refrão principal me parece um pouco problemático no sentido de que pouco passa de mensagem. Mas o trecho que o antecede é de tamanha beleza que talvez consiga amenizar um eventual estrago.

Escola: São Clemente
Enredo: "Horário Nobre"
Trecho: Nem adianta me ligar agora / Eu estou grudado na tela
Análise: Tem a irreverência característica da São Clemente. Ano passado, o "bububu no bobobó" funcionou bem na Sapucaí, ajudando a agitar componentes e arquibancadas. Resta saber se, em 2013, nessa apologia noveleira, o resultado poderá ser semelhante. A letra não me agrada, mas em meio a uma safra tão fraquinha, esse samba está longe dos piores do ano.

Escola: Inocentes
Enredo: "As Sete Confluências Do Rio Han – 50 Anos Da Imigração Sul-coreana No Brasil"
Trecho: Coréia do Sul, suas águas cristalinas são o espelho / Na cadência da Baixada / Deságuam no meu Rio de Janeiro
Análise: Estreante no Grupo Especial, a Inocentes traz um samba com cara de Grupo de Acesso. Mas isso não é problema para quem tem um gogó como o do Wantuir puxando o samba da escola. A melodia até flui bem, mas sinto a falta de um suingue daqueles que ajudem a bateria a brincar um pouco na avenida. O trecho que antecede o refrão principal me parece o ponto alto da obra belford-roxense.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Que Democracia É Essa?

No Brasil, o voto é obrigatório. Chamam isso de "festa da democracia". Não é um direito, uma opção, uma escolha. É um dever.

As eleições acontecem nos anos pares, sendo realizadas no primeiro domingo de outubro (primeiro turno) e no último domingo do mesmo mês (segundo turno, quando necessário).

No dia primeiro de janeiro do ano seguinte, isto é, cerca de três meses depois do certame eleitoral, acontece a posse dos "escolhidos". Entre aspas porque nem sempre estes são os mais votados - existe um tal de coeficiente eleitoral no meio do caminho entre o eleitor e a urna eletrônica.

De toda forma, na suposta festa da suposta democracia, agendada para o primeiro dia do ano ímpar (caso de 2013), eis que são barrados na porta da Câmara Municipal... os eleitores! Sim, aqueles mesmos que eram saudados calorosamente pelos então candidatos, agora são figuras dispensáveis.

Quando um segurança pergunta para você se você vai "se manifestar ou assistir" para impedir ou liberar o acesso, como se fosse uma senha-não-secreta, estamos falando em democracia? Quem, num ambiente democrático, tem o poder ou mesmo o direito de proibir um cidadão de bem a assistir (ou se manifestar, por que não?) a cerimônia dos recém-empossados?

Se todo poder emana do povo e é o povo aquele que não tem acesso ao ambiente onde são tomadas as decisões, então não estamos falando do mesmo regime de governo. E talvez pior do que tiranos, déspotas e ditadores, que têm rosto, nome e sobrenome, é essa alguma coisa em que vivemos. Essa tem vários semblantes, diversas facetas e recebe o nome de democracia. Deve ser nome de fantasia.

No Rio de Janeiro, a militância em defesa da Aldeia Maracanã (antigo Museu do Índio), reivindica o tombamento de um prédio histórico a fim de preservar a manifestação legítima da cultura indigenista naquele território. O governador Sérgio Cabral Filho (PMDB), o prefeito Eduardo Paes (PMDB) e aquilo que vem se chamando de "base aliada" (maioria da bancada na Câmara de Vereadores) prefere a idéia de transformar o local em estacionamento. Algo absolutamente contrário ao interesse da população e que afronta qualquer bom senso. Argumenta-se que a demolição do prédio será para atender recomendações da FIFA para a Copa do Mundo 2014. Acontece que a própria FIFA desmentiu essa informação, afirmando ser favorável à manutenção daquele espaço como centro cultural indígena. Alguém mente nessa história. E o povo, na festa da democracia, parece não ter direito a voz. Voz. Porque o voto, esse não é um direito. Esse é um dever.