quarta-feira, 17 de abril de 2013

513 Anos Depois...

Inédito. Como diria o outro, nunca antes na história desse país um grupo de indigenistas adentrou o Congresso Nacional, encarando a ordem estabelecida institucionalmente e reivindicando os seus direitos constitucionais, para espanto e surpresa de amedrontados deputados.

Brasília. Construída estrategicamente para sediar a capital da República Federativa do Brasil, afastando geograficamente os governantes do grande contingente populacional. O Congresso, inacessível que só ele, recebeu ontem ilustríssimos visitantes em seu plenário.

Estranhos. Mas que visitantes são esses? Não usam ternos nem gravatas. Cobrem pouco o corpo e estão demasiadamente coloridos para os padrões desta Casa. O que querem fazer aqui? O Estado Democrático de Direito não pode tolerar esse tipo de situação.

Direitos. Aqueles indivíduos ali presentes estavam reivindicando direitos que foram conquistados após séculos de dizimação e opressão, seja por colonizadores europeus, seja por engravatados eleitos. Um grito pacífico de indigenistas contra a PEC (Proposta de Emenda à Constituição) 215.

Pecado. Essa PEC é um pecado. Mortal. Quer dar (mais) poderes ao Congresso Nacional, retirando da FUNAI a incumbência da demarcação das terras indigenistas. E se as coisas caminham muito mal nas supostas mãos da Fundação Nacional do Índio, imagine sob domínio da bancada ruralista!

Revoga, revoga! Basta de afrontar os direitos dos verdadeiros donos dessa terra. Não são estranhos, são e somos nós, nosso sangue. E se há alguma barbárie ou selvageria nos tempos de hoje, esta é o massacre diário que se promove a mando de latifundiários usurpadores da liberdade alheia.

Foi numa terça-feira, datada dezesseis de abril de dois mil e treze, quase quinhentos e treze anos depois de Pedro Álvares Cabral berrar Terra à vista! à bordo de uma caravela. Jornais impressos podem evitar publicar, emissoras televisivas podem fingir não existir, portais de grandes grupos midiáticos podem se esforçar para ignorar e omitir. Mas a verdade ninguém apaga. Em 16.04.2013, na opinião deste que vos digita, aconteceu o fato mais marcante da história desse país. E hoje, um dia após o acontecimento emblemático em pleno plenário, aumenta a convicção de que a revolução não será noticiada. Pelo menos não por esses que estão no poder.