quinta-feira, 30 de outubro de 2014

4.348.950!

Quatro milhões, trezentos e quarenta e oito mil, novecentos e cinqüenta!

Esse é o número que marcou as eleições no Rio de Janeiro. Marcou silenciosamente, porque as forças midiáticas deram pouca ou nenhuma atenção ao fato histórico. E, tenhamos certeza, deram pouca ou nenhuma atenção ao fato histórico não porque o julgam irrelevante. Ao contrário: a grandeza do acontecimento assusta os acomodados. Como assustaram as manifestações de junho de 2013. Resta saber até quando conseguirão esconder a verdadeira vitória eleitoral no Rio: votos em branco, votos anulados e abstenções foram maiores que os votos em Luiz Fernando Pezão.

Surgem, imponentes, algumas perguntas: qual a representatividade de um governo que nasce da escolha de uma minoria? Qual a legitimidade desse representante? Até que ponto um processo que ignora a voz da maioria pode ser considerado efetivamente uma democracia?

Mais do que a questão estritamente matemática de que 4348950 é maior que 4343298, essa vitória da negação a Crivella e Pezão demonstrou, nas urnas eletrônicas, que ainda ecoam os gritos entoados nas calçadas, praças, ruas e avenidas do Rio de Janeiro. Os milhões de manifestantes e os milhões de eleitores têm em comum a lucidez de identificarem quem não os representa. Falta à legislação eleitoral a sensibilidade de validar esses anseios e refazer - com outros candidatos - todo e qualquer pleito com resultados como esse. Seria, pelo menos, democrático.

Propagandas para votar em Pezão ou Crivella preencheram sistemas de rádio, internet e televisão. Estavam também em jornais, revistas e panfletos. Invadiram casas, condomínios e guetos. Era a "livre" escolha do eleitor por um ou por outro. Só que a liberdade, sem aspas nem manipulações, se fez de fato presente no último domingo de outubro de 2014. Não queremos um nem outro! Esse grito, legítimo, não ressoou nos meios de comunicação. Algo que reforça o teor da vitória, casando com aquela máxima de que a revolução não será televisionada (pelo menos não numa mídia antidemocrática). E se alguém ousar dizer que o Rio escolheu Pezão, lembre a esse alguém que a escolha da população se concentrou em branco, nulo e abstenção. A negação é a vencedora dessa eleição. O vacilo é dar ao 2º colocado o poder de governar. Não nos representa.