sábado, 10 de janeiro de 2015

Análise Dos Sambas-Enredo Do Carnaval 2015 - Grupo Especial, Rio De Janeiro

12 agremiações, duas noites, milhões de espectadores. É o carnaval carioca se aproximando e trazendo com ele o maior espetáculo já produzido pela espécie humana: o desfile das escolas de samba.

Vamos aqui analisar as doze composições de 2015 (letra, melodia e algo mais).

Unidos da Tijuca. Seu enredo é a Suíça e seu desafio imenso: não será simples para a Tijuca desenvolver um carnaval na ausência do gênio Paulo Barros. A voz de Tinga, atual bicampeão com Vila-2013 e Tijuca-2014, fortalece um samba que não empolga. Mas que tem tudo para funcionar na avenida. Ou quase tudo.

Acadêmicos do Salgueiro. Culinária mineira é dose. Sem o Quinho, então... O Salgueiro foi a escola que mais despencou na qualidade de sua composição, deixando saudades do ótimo enredo Gaia. É possível que as coisas melhorem na Sapucaí, notadamente devido à força da bateria Furiosa e da comunidade salgueirense. Além, é claro, da plástica de Renato Lage. Aguardemos. De preferência, ouvindo o samba do ano passado.

Portela. Não basta ser portelense, precisa participar. Parece que o prefeito Eduardo Paes está levando esse pensamento a sério. Desde que se tornou o manda-chuva da cidade, a Portela não cansou de falar do Rio de Janeiro. Em 2015, de novo e novamente mais uma vez. Wantuir e Wander são dois intérpretes de alto nível e o samba tem tudo para levantar poeira. Já estou até tossindo.

União da Ilha do Governador. Irreverência é a síntese e a essência de um samba descontraído e que dá o seu recado. Lembra o enredo "Fama", apresentado pelo Salgueiro em 2013. Com a voz do inconfundível Ito Melodia, a bateria do prestigiado Ciça e a concepção do talentoso Alex de Souza, a agremiação insulana tem tudo para proporcionar ótimos momentos na Sapucaí.

Imperatriz Leopoldinense. É o samba da emoção. O casamento da letra e da melodia beirou a perfeição, cabendo elogios aos compositores e ao intérprete Nêgo. O desafio é conseguir no tom poético e introspectivo da canção alcançar a energia necessária para agitar os componentes de uma escola tachada como "fria".

Acadêmicos do Grande Rio. O título é péssimo, fazendo alusão proposital a um palavrão. Só por isso, entendo já caber uma penalização. A composição em si possui passagens interessantes e um andamento melódico viciante. As repetições das rimas "ar" e "er" na estrofe que antecede o refrão principal tornam o trecho cansativo. Acredito que a grande aposta da escola resida na parte visual, pois o enredo é de fácil entendimento e o carnavalesco conseguiu fazer de Maricá um quase-paraíso em 2014.

Beija-Flor de Nilópolis. Depois de exaltar farsas como Roberto Carlos e Boninho (na primeira teve a complacência dos jurados e na segunda, não), a Beija-Flor vem com um enredo com mais cara de Beija-Flor: África. Neguinho da Beija-Flor, um patrimônio do carnaval, fez interpretação magistral: ele consegue cantar o mesmo tema na mesma entonação sem se tornar necessariamente repetitivo. "Negro canta, negro clama liberdade". A sensação é de que já ouvi isso antes. Mas, vá lá, antes repetir a exaltação à africanidade do que homenagens a marionetes da ditadura. Salve Guiné!

Estação Primeira de Mangueira. É o samba do ano. Os refrões carregam a cara e o DNA da Mangueira. Gostoso de ouvir, fácil de memorizar, prazeroso de cantar. Mulher brasileira em primeiro lugar! Só espero que não gere conotações xenófobas ou sexistas, porque pra quem curte uma polêmica, dá pra encontrar terreno fértil nesse trecho. Sugiro colocar isso de lado e deixar a Mangueira passar.

Mocidade Independente de Padre Miguel. Simples e direto, o samba da Mocidade é um prato cheio para as surpresas do inventivo Paulo Barros. Eu já fico viajando se o genial carnavalesco não vai inovar numa interação entre a ala das baianas e a bateria... Roda baiana, cai nesta folia! De verde e branco com a bateria! Que o mundo não acabe antes do desfile da Mocidade. Ironicamente, a escola que foi campeã pela última vez com a voz de Wander Pires, entregou ao Bruno Ribas (campeão com Paulo Barros) os dizeres "a hora é essa", logo após o refrão. Para quem acredita em superstição...

Unidos de Vila Isabel. Mais uma vez, a Vila traz para a Sapucaí um dos melhores sambas do ano. A letra é inteligente e o andamento é gostoso de cantar, mas talvez vacile pelo fato de não apresentar "quebras melódicas", isto é, não rola aquele suingado. De toda forma, é fato que quem nasce lá na Vila nem sequer vacila, ainda mais com a Swingueira de Noel na área. Se a dignidade volta pro ninho, é o momento certo para a comunidade de Isaac, Noel e Martinho cantar com força o samba esse ano. Com mais força do que o que se (ou)viu no primeiro ensaio de 2015.

São Clemente. A aurinegra de Botafogo trocou sua marca registrada - a irreverência - pela emoção. O enredo em homenagem a Fernando Pamplona, assinado por ninguém menos que Rosa Magalhães, chega a parecer uma declaração de amor. Se a escola (leia-se a comunidade clementiana) conseguir agitar o sambódromo mesmo tendo um samba sem explosão e sendo a primeira a desfilar na segunda-feira, o resto está em ótimas mãos: basta contar o número de carnavais conquistados por Fernando ou Rosa (ele é tetra e ela é hepta).

Unidos do Viradouro. Confesso ter dificuldades para analisar esse samba. Vejo nele qualidades e potencialidades permeadas por um ar de "tá faltando alguma coisa". É pouca coisa, acho. Até porque a letra tem beleza. Mas falta algo, principalmente por se tratar de uma escola com a incumbência de abrir os desfiles, uma posição historicamente ingrata no carnaval carioca (e isso é muito mais culpa dos jurados do que qualquer outra coisa). Torcendo para que esse algo que talvez esteja faltando apareça na Sapucaí, com a energia de uma comunidade que voltou ao seu lugar.

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