sábado, 15 de outubro de 2011

Duas Noites Memoráveis No Rock In Rio 2011

Vivi duas noites mágicas na "Cidade do Rock". Venho nesse espaço compartilhar um pouco dessa experiência, que espero guardar para sempre na memória.

24 de setembro de 2011

Cheguei por volta das 16h e logo me chamou atenção a magnitude do espaço do evento. O banheiro masculino chegava a ser engraçado: um corredor de, sei lá, vinte metros de comprimento para que os homens urinassem. As filas para uso de brinquedos como a Roda Gigante, a Tirolesa e a Montanha Russa eram também de amplas dimensões - não me candidatei a enfrentar nenhuma delas, já que o entretenimento que buscava seria exibido em cima dos palcos. Então, vamos ao que mais interessa: falar dos shows.

No Palco Sunset assisti a duas apresentações. A primeira foi uma parceria entre Tulipa Ruiz e Nação Zumbi, que animou a galera. E, se animou a galera, o saldo foi positivo. Depois vieram Milton Nascimento e Esperanza Spalding, que mostraram um entrosamento muito bacana. Já bastaria a voz de Milton para o espetáculo ficar a contento, mas o show teve mais: sanfona e violão de Milton, baixo elétrico e contrabaixo de Esperanza (artista revelação do Grammy do ano passado) e uma harmonia que fazia parecer que os dois foram criados no mesmo berço (clique e confira a música "Maria, Maria", que encerrou a apresentação). Foi uma ótima deixa para rumar ao Palco Mundo.

No Palco Mundo, quem abriu as apresentações pontualmente às 19h foi a banda paulista NX Zero, rotulada emo por uns, rock por outros. E só pra deixar ainda mais dúvida sobre qual é a desse grupo, o rapper Emicida participou da primeira música ("Só Rezo 0.2"). Mas o fato é que os garotos do NX Zero surpreenderam positivamente minhas expectativas e, rótulos de gênero à parte, cumpriram o seu papel. A exaltação do vocalista Di por tocar no Rock In Rio no mesmo dia de Red Hot Chili Peppers deve ter conquistado o público (a mim pelo menos soou muito bem). Clique aqui para ver e ouvir a música "Cedo Ou Tarde".

Caía uma chuvinha gostosa (palavras de alguém que vestia uma capa) quando o Stone Sour fazia sua apresentação. E essa banda pode ser considerada a mais grata surpresa do Rock In Rio 4. Eu nem sabia que o enérgico vocalista Corey Taylor desse sua voz também ao Slipknot. Sem máscara e com muita interação com o público, Corey tomou conta do palco, da platéia e da Cidade do Rock. Foi um baita show, sem dúvida alguma. E tudo isso sem o baterista oficial do grupo: a primeira filha de Roy Mayorga estava para nascer naquele final-de-semana, e ele não veio para o Brasil. Espero que no Rock In Rio 5, prometido para 2013, o Stone Sour esteja de volta, com Roy Mayorga e toda essa intensidade que contagiou a galera. Três vídeos para vocês: "Made Of Scars", "Through Glass" e "Get Inside" + "Hell & Consequences".

São Pedro mandou fechar a torneira e lá veio o Capital Inicial para a 3ª apresentação no Palco Mundo naquela noite de sábado, 24 de setembro de 2011. O vocalista Dinho Ouro Preto sacodiu a multidão com músicas que estavam na ponta da língua da galera e com discursos de cunho político que chegaram a arrancar homenagens a José Sarney, convidado a tomar naquela região do corpo humano reduzida a duas letras - era a deixa para "Que País É Esse?". Sensível às pessoas que pareciam sofrer esmagadas na grade, Dinho distribuiu água e isotônico arremessando os recipientes para os eleitos. E, entre uma boa música e outra, foi tocante quando lembrou o desencarne de Rafael Mascarenhas, "fã de Red Hot Chili Peppers mais do que tudo", e que comemoraria vinte anos de nascimento naquela noite.

A 4ª banda a se apresentar era a escocesa Snow Patrol, a qual fui conhecer recentemente (depois de tomar ciência de que eles tocariam no dia do Red Hot Chili Peppers). Gostei de muitas das composições, e isso elevou as minhas expectativas com relação ao show. Mas, apesar da simpatia do vocalista e guitarrista Gary Lightbody, achei essa apresentação a mais fraca da noite. Não é que as músicas não tenham funcionado no palco - elas continuaram belas (clique e confira a 1ª música da apresentação: "You're All I Have"). Acho que o que faltou foi energia, sobretudo porque a galera vinha de três shows vibrantes. No festival de boas intenções, tiveram lugar a participação da brasileira Mariana Aydar, elogios ao futebol brasileiro e uma bandeira brasileira exibida de cabeça-para-baixo. A guitarra, por um momento, parou de funcionar. O público aguardou o reparo do instrumento, mas o que todos queriam mesmo é que aquela apresentação acabasse logo e que começasse o quanto antes o show mais esperado da noite - e um dos mais aguardados do Rock In Rio 2011.

E era chegada a hora! O Red Hot Chili Peppers iniciou sua épica apresentação com "Monarchy Of Roses", emendando "Can't Stop", "Charlie", "Otherside" e "Look Around". Ou seja, cinco músicas de quatro álbuns diferentes (incluindo duas do mais recente trabalho do grupo). Que banda no mundo consegue isso mantendo o mais alto nível nas composições? E isso porque ainda viriam, logo na seqüência, "Dani California" e "Under The Bridge", para delírio de cem mil pessoas e emoção desse que vos relata. Quando o RHCP tocou "Californication" era o êxtase na Cidade do Rock. E o que dizer quando, imediatamente após, vinha "By The Way"? Não tenho condições de descrever o sentimento. Os Chili Peppers deixaram o palco. Mas quem arredou pé? A multidão queria mais! E eles voltaram, vestindo camisas brancas estampadas com o rosto de Rafael Mascarenhas, em bonita homenagem ao filho de Cissa Guimarães. Voltaram tocando "Around The World"! E fecharam aquela noite inesquecível com "Blood Sugar Sex Magik" e "Give It Away". Só tenho a agradecer ao Red Hot por aquele momento que presenciei na minha cidade natal. E a Deus, por possibilitar que tudo isso acontecesse. Naquela noite, os deuses da música sonharam com os anjos. Dream on Californication. Dream on Californication. Clique e confira o solo de bateria de Chad Smith, minutos antes de a banda voltar ao palco.

2 de outubro de 2011

Com a experiência de quem estava indo pela segunda vez à Cidade do Rock (uau!), me posicionei mais ou menos perto de onde estive no dia 24 de setembro. E a vibração já começou lá em cima, com Tico Santa Cruz chamando a galera pra pular: o vocalista do Detonautas Roque Clube foi performático em cima do palco, alternando o visual que começou sob uma capa preta até a nudez do peito exibindo suas incontáveis tatuagens e incluindo o uso de uma máscara de Guy Fawkes (anarquista inglês que tentou explodir o parlamento britânico no século dezessete). A abertura foi com "Mercador Das Almas" e, com um repertório musical recheado de sucessos ("Olhos Certos", "O Dia Que Não Terminou" e "Quando O Sol Se For" são alguns exemplos) a harmonia da galera com o Palco Mundo foi total. E o negócio ficou ainda melhor quando rolou uma homenagem a Raul Seixas, com "Metamorfose Ambulante". Foi um bom "esquenta" para a noite de dois de outubro.

Pitty veio logo em seguida, tocou hits, tentou conversar com a multidão, enfim, até se esforçou. O ponto alto do show ficou para o final, quando homenageou Nirvana (o disco "Nevermind" completa vinte anos de lançamento) com a música "Smells Like Teens Spirit" - foi naquele momento que testemunhei a primeira rodinha da noite. O repertório da cantora não me agrada e também não gosto do seu linguajar, mas paciência. Até que passou rápido. Clique e confira trecho de "Na Sua Estante".

Para deleite de tímpanos e retinas, Evanescence chegou ao Palco Mundo exibindo belas músicas e toda a exuberância de Amy Lee. Tudo começou com "What You Want" , música do mais novo trabalho da banda. Aliás, funcionou muitíssimo bem a mesclagem de músicas novas com sucessos anteriores, mantendo lá em cima o nível do show. A apresentação terminou com o hit "Bring Me To Life" e, embora todos aguardassem por System Of A Down, o término do show de Evanescence já deixou saudades - a performance de Amy Lee no piano ficou certamente entre os momentos mais marcantes do Rock In Rio 2011 ("My Immortal" não permite que me desmintam).

Em vez de imagens nos telões, uma enorme cortina contendo os dizeres "System Of A Down" anunciava o que estava por vir. O delírio começou antes mesmo de os primeiros sons vindos dos instrumentos e, tão logo começava "Prison Song", a massa pulava enlouquecida na Cidade do Rock. Logo em seguida, "B.Y.O.B." (confira esse início de show clicando aqui)! E se o som do Palco Mundo ia aos trancos e barrancos (em alguns momentos era difícil escutar a voz de Serj Tankian), o uníssiono do público deu conta de manter a vibração lá no topo. Foram vinte e oito músicas na generosa apresentação, incluindo "Radio/Video", "Lost In Hollywood" e fechando com "Sugar". A banda, que tem um discurso político bastante ativo e presente em diversas composições, deixou o seu recado aos brasileiros, referindo-se aos povos indígenas, vítimas de um desenvolvimento desnecessário. Inspirador na luta contra a usina de Belo Monte! Ah! E pra quem curte uma rodinha, confira essa que rolou durante a música "Deer Dance".

Chovia firme sobre a grama sintética da Cidade do Rock, e várias poças se formavam sob os pés do público e também sobre o palco. O hiato de quase duas horas (que em pé, parado e molhado dão uma sensação de eternidade) entre o fim do show do SOAD e o início do show do Guns N' Roses foram o teste para ver quem estava disposto naquela madrugada de dois para três de outubro. Graças a Deus, resisti e pude curtir o show dessa banda de vinte e cinco anos de carreira e recheada de sucessos, que tocou trinta e duas músicas e sacodiu a galera. Um dos melhores momentos foi durante "Sweet Child O' Mine".

Se a edição de 2013 se confirmar, espero lá estar!