segunda-feira, 28 de maio de 2012

Franz Ferdinand São Paulo 2012: A Arte De Contagiar O Público

Em março de 2010 tive a oportunidade de assistir aquele que era meu primeiro show internacional. A banda escocesa Franz Ferdinand se apresentaria na Fundição Progresso, casa de espetáculos situada relativamente perto de casa (vira e mexe passo em frente quando me desloco pela cidade do Rio de Janeiro). Naquele show memorável, conheci pessoas com as quais conservo relação de amizade até hoje e experienciei uma performance, uma presença de palco, uma interação artista-público absolutamente singular. Por coincidência, ou melhor, por aquilo que considero ter sido um capricho dos deuses da música, aquele show aconteceu no dia do aniversário do vocalista Alexander Kapranos, que ouviu um "parabéns para você" cantado por milhares de pessoas e foi aos braços do público, numa cena que tive a felicidade de testemunhar a alguns metros de distância, com direito a um registro fotográfico que beira o inacreditável, tamanha a improbabilidade (clique e confira).

Passados 26 meses e eu, com 26 anos de idade, pude reencontrar o quarteto britânico em solo brasileiro - dessa vez em São Paulo. Uma viagem que me animei de fazer tão logo tomei conhecimento de que o Franz Ferdinand faria uma apresentação gratuita no 16º Cultura Inglesa Festival. Embarquei à meia-noite e quinze e às sete da manhã já estava em Sampa, sentindo o frio matinal daquela que é a maior cidade do país. Os minutos se passavam, o sol aquecia o dia e já não era necessário fazer uso de casaco nem de camisa com manga comprida. Vestindo a mesma camisa do Botafogo que usei na noite de 24 de setembro, no Rock In Rio 2011, fui para a enorme fila que esperava por mim e por meu irmão, parceiro de viagem. Acho que ficamos cerca de uma hora no percurso que nos separava da entrada da área destinada aos shows. O relógio devia estar marcando algo em torno das onze horas da manhã e o momento mais esperado daquele domingo ensolarado, com ares de outono carioca, estava agendado para às 18h30. As bandas que se apresentavam entretiam, embora sem necessariamente empolgarem. Amigos virtuais de longa data foram chegando e "se tornaram reais", fazendo a ocasião ainda mais especial. Até chegar o grande momento, aquele período de tempo tão reduzido porém eterno, quando você visualiza o grupo e, ao ouvir os primeiros sons, já se deixa contagiar. Começou com Darts Of Pleasure e terminou com This Fire aquela apresentação que incendiou o Parque da Independência. Quando tocou Take Me Out, senti estar vivendo um momento mágico. Revendo a gravação, creio que aquilo ali na verdade se trata de algo épico, inapagável e impagável. Tocar ainda Michael, sair do palco e voltar com Jacqueline me fez pensar: "oh deuses da música, obrigado por fazerem um show especialmente para mim". Desconfio não ser merecedor de tamanho mimo, e sou grato eternamente por essa dádiva. 27.05.2012 é para se guardar. Na memória e no coração.

Preciso dizer se valeu cada metro percorrido e cada real investido nessa viagem?

Set list do show do Franz Ferdinand no Parque da Independência, em São Paulo, 27.05.2012

01. Darts of Pleasure
02. Tell Her Tonight
03. Right Thoughts
04. Do You Want To
05. No You Girls
06. Brief Encounters
07. Walk Away
08. Dark of The Matinée
09. Fresh Strawberries
10. Can't Stop Feeling (com I Feel Love)
11. Take Me Out
12. Ulysses
13. Trees and Animals
14. 40´
15. Outsiders
16. Michael

Bis:
17. Jacqueline
18. This Fire

Galeria de fotos











quinta-feira, 24 de maio de 2012

Luz Do Bhagavata - Verso 23

As vacas que seguiam o Senhor dentro da floresta movimentavam-se vagarosamente por causa de seus pesados úberes cheios de leite. Mas quando o Senhor as chamava por seus nomes elas imediatamente ficavam alertas, e enquanto se apressavam em direção a Ele suas tetas derramavam leite no chão devido à afeição pelo Senhor.

Compreende-se através de escrituras tais como o Brahma-samhita que na morada espiritual do Senhor as casas são feitas de pedra filosofal e as árvores são todas árvores-dos-desejos. Lá, o Senhor costuma apascentar milhares e milhares de kamadhenus (vacas capazes de suprir ilimitada quantidade de leite). E todas as casas, árvores e vacas são qualitativamente não-diferentes do Senhor. O Senhor e Sua parafernália na morada espiritual são idênticos em qualidade, embora, para o prazer do Senhor, existam diferenças. No mundo material, também temos uma diversidade de parafernália para os prazeres de nossa vida, contudo, porque toda esta parafernália é feita de matéria, ela é, afinal, perecível. No céu espiritual, existem as mesmíssimas variedades de prazer, mas todas elas são destinadas ao Senhor. Lá, apenas o Senhor é o desfrutador e beneficiário supremo, e todos os demais são desfrutados por Ele. O Senhor é servido por todas as classes de servos, e tanto o amo quanto os servos são da mesma qualidade. Esta variedade espiritual é exibida pelo Senhor quando Ele desce em Vrndavana, e assim temos conhecimento de que o Senhor desce com Seu cortejo pessoal de vacas, vaqueirinhos e vaquerinhas, todos os quais são tão somente expansões espirituais do Senhor para o Seu próprio prazer. Dessa maneira, ao serem chamadas pelo Senhor, as vacas ficaram dominadas pela afeição e prazer, assim como o seio de uma mãe verte leite quando a criança chora por ele.

Todos nós, seres vivos, somos expansões diferenciadas do Senhor. Porém, nossa afeição pelo Senhor está latente em nós, artificialmente coberta pela qualidade material da ignorância. A cultura espiritual tem como propósito reviver esta afeição natural do ser vivo pelo Senhor. Os ingredientes do fogo já estão presentes num palito de fósforo, e basta apenas um leve atrito para acender o fogo. De igual modo, nossa afeição natural pelo Senhor tem de ser revivida através de um pouco de cultura. Sobretudo, devemos receber o conhecimento acerca do Senhor com um coração purificado.

Para lograr a compreensão espiritual, deve-se purificar o coração e conhecer as coisas na sua perspectiva verdadeira. Tão logo alguém faça isto, o fluxo de sua afeição natural começa a fluir em direção ao Senhor, e com o progresso desse fluxo a pessoa torna-se cada vez mais auto-realizada nos vários relacionamentos com o Senhor. O Senhor é o centro de toda a afeição de todos os seres vivos, os quais são todos suas partes integrantes. Quando o fluxo da afeição natural pelo Senhor fica obstruído pelo desejo de imitar Seu domínio, diz-se que a pessoa está em maya, ou seja, ilusão. Maya não tem existência substancial, mas enquanto suas alucionações prosseguirem, sentir-se-á sua influência. O Senhor, por Sua misericórdia imotivada, exibe a realidade da vida de modo que nossas alucinações possam ser completamente dissipadas.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Aborto E Abandono

Recentemente, uma discussão acerca do aborto de anencéfalos foi parar no Supremo Tribunal Federal e dividiu opiniões pelo país. A maioria dos ministros do STF mostrou-se favorável à prática abortiva, opinião a qual não compartilho. Por definição, o aborto consiste na expulsão ou remoção prematura de um embrião ou feto do útero, matando a vítima. No caso dos anencéfalos (em caso de dúvidas, leia sobre anencefalia), muitos argumentam que o aborto se justifica pelo fato de a criança com má formação cerebral estar condenada biologicamente a morrer logo após o nascimento - o que não é necessariamente verdadeiro e, creio, tampouco razoável para deliberar pela antecipação proposital do encerramento das funções biológicas de alguém.

Fazer a conexão entre aborto e abandono é simples: o aborto trata-se do abandono intra-uterino. Reciprocamente, abandono seria o aborto fora do útero. A diferença básica é que o aborto mata instantaneamente, enquanto o abandono deixa a vítima entregue à própria sorte. Acho curioso observar o código penal brasileiro no que tange o "abandono de incapaz", caracterizando no artigo 133 o incapaz como sendo qualquer pessoa que não possui condições de se defender dos riscos resultantes do abandono. Pergunta-se: existe, então, alguém mais incapaz de se defender dos riscos resultantes do abandono do que um feto ligado à sua progenitora pelo cordão umbilical?

Paradoxalmente, no mesmo país em que se delibera pena de 4 a 12 anos de reclusão nos casos de abandono que resultam em morte, passa a ser legalizado o abandono, digo, o aborto de anencéfalos.

Considero-me um defensor da liberdade. Acontece que, em casos como esses aqui mencionados, a liberdade de dar seqüência ou não a uma gestação ocasiona uma decisão com vítima fatal. Não seria nada razoável apoiar a liberdade de um em detrimento da vida de outro. Até porque o exercício da liberdade de qualquer ser depende, fundamentalmente, de que este ser esteja vivo.

Encerro esse texto com um dado que ilustra firmemente como o abandono é algo meramente subjetivo: um estudo realizado na Alemanha, país onde o aborto terapêutico é permitido, demonstrou que as mães optam menos pela interrupção da gravidez em casos de anencefalia do que em casos de síndrome de Down. Não dizem por aqui que devemos respeitar as diferenças? Que façamos isso então, dentro e fora das fronteiras uterinas.