terça-feira, 30 de novembro de 2010

Luz Do Bhagavata - Verso 8

O verde vívido da grama recém-crescida, as flores sazonais, os cogumelos, as borboletas e as outras variedades da estação chuvosa representam perfeitamente uma família próspera absorta na vaidade de suas posses.

O homem rico exibe sua opulência de várias maneiras coloridas. Ele possui uma bela mansão residencial com um enorme terreno e um jardim bem cuidado. A mansão é decorada com mobília e tapetes modernos. Ele possui automóveis com polimento ofuscante e um aparelho de rádio que recebe e transmite notícias ao vivo e canções melodiosas. Tudo isto cativa o seu proprietário como se ele estivesse numa terra de sonhos por ele mesmo criada.

Quando esse mesmo homem era tão árido quanto a terra não cultivada e não tinha nehuma dessas opulências, seu comportamento era simples. Porém, desde que obteve todos esses meios materiais de desfrute, ele esqueceu-se do princípio de que tudo no mundo vem e vai como as estações mutáveis. O belo Forte Vermelho e o Taj Mahal foram construídos por Xá Jahan, que deixou o local há muito tempo, e muitos outros vieram ao mesmo local e se foram, como flores sazonais. As posses mundanas assemelham-se às flores sazonais. Ou as flores murcham, ou o próprio jardineiro se vai. Esta é a lei da natureza. Portanto, se desejamos vida, conhecimento e bem-aventurança permanentes, devemos buscá-los em outro lugar, não na estação chuvosa, temporária e mutável, que é repleta de muitas variedades de visões prazerosas que se desvanecem quando a estação acaba.
A manifestação dos elementos materiais não passa de representação sombria da realidade. Ela é comparada à miragem no deserto. No deserto não existe água, mas o cervo estulto corre em direção à água ilusória do deserto para saciar sua sede. A água não é irreal, porém, o lugar onde a procuramos é ilusório. O avanço da civilização materialista é exatamente como uma miragem no deserto. O tolo cervo corre atrás da água no deserto com toda a velocidade, e a ilusão da água move-se à sua frente à mesma velocidade. A água não é falsa, mas não devemos buscá-la no deserto. A entidade viva, devido a sua experiência passada, lembra a verdadeira felicidade de sua original existência espiritual, contudo, desde que se esqueceu de si mesma, busca felicidade espiritual ou permanece na matéria, embora isto seja impossível de alcançar.

sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Purgatório Da Beleza E Do Caos

Mais uma vez, veja só, o Rio de Janeiro é notícia internacionalmente.

Alguns me perguntaram (meses atrás, antes do pleito eleitoral) a respeito das UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora), implementada na gestão do atual governador, reeleito mês passado. Minhas respostas costumavam ser reticentes: 'isso está estranho', 'esse negócio está esquisito'. E aconteceu. Para alegria do senhor governador Sérgio Cabral, aconteceu depois das eleições. Mas, para tristeza e medo da população carioca, aconteceu. Após desterritorializarem o narcotráfico em 14 favelas escolhidas, os indivíduos economicamente prejudicados (leia-se narcotraficantes) reagiram. E, pela primeira vez na história dessa cidade, vê-se uma união da criminalidade: nesse momento, não importa a facção às quais os narcotraficantes "pertencem", nesse momento a UPP desses indivíduos significa "Unidos Pelo Pó".

Apoiadas pela grande mídia e aplaudidas por grande parte da população residente, as ações das forças policiais prometem o máximo de ostensividade, seguindo a estratégia do enfrentamento e alimentando a lamentável estatística de ser essa polícia - a do Rio de Janeiro - a que mais mata e a que mais morre no mundo.

Não sei quanto tempo durará essa empreitada. A "cidade maravilhosa" está, na data dessa postagem, no 6º dia de ações/reações armadas. A certeza que guardo é a de que nenhuma mazela social será totalmente desfeita sem que se reduzam drasticamente as desigualdades.

Agora é hora - como sempre é - de colocarmos a mão na consciência e auto-refletirmos o seguinte: "até que ponto estou envolvido nisso?". Poderia responder a essa indagação estendendo o tópico em mais um ou outro parágrafo, mas a idéia é que você responda por si próprio. Até porque, talvez, as respostas possam ser diferentes. Até que ponto estamos envolvidos nisso?

Em tempo, uma sugestão de leitura: "São Sebastião ainda olha por nós e algumas considerações".

Abraços.

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Luz Do Bhagavata - Verso 7

Os pequenos córregos que quase secaram durante os meses de maio e junho começam agora a transbordar suas margens, tal como os novos-ricos que subitamente excedem os limites de seus gastos.

Deve-se aprender a gravidade com o mar e o córrego. Embora muitos rios lancem suas águas no mar, este permanece sempre dentro de seus limites. De forma semelhante, deve-se usar apropriadamente os bens da vida e não esbanjá-los visando a propósitos que não têm valor permanente. Pessoas descontroladas e luxuriosas brincam com os bens do corpo e acumulam riqueza. Contudo, o vigor físico deve ser usado para auto-realização, não para gozo dos sentidos.


Os seres humanos têm duas classes de temperamento. Alguns são introspectivos e outros são esbanjadores. Aqueles que são esbanjadores ficam cativados pelos aspectos externos da beleza fenomenal e não têm compreensão da manifestação total. Sua introspecção está praticamente adormecida, e por isso são incapazes de auferir qualquer lucro permanente da riqueza da forma de vida humana. Porém, quem desenvolveu a introspecção é tão grave quanto o mar. Enquanto os esbanjadores permanecem calmos e tranqüilos em seu torpor, aqueles que são graves usam toda a vantagem oferecida pela forma de vida humana.


Embora as propensões animais do corpo devam ser minimizadas, aqueles que são esbanjadores excedem-se por certo tempo no desfrute material. Entretanto, tão logo a estação chuvosa da vida termina, eles tornam-se tão áridos quanto os leitos de rios secos. A vida tem por objetivo a causa certa, ou sat - aquilo que existe para sempre. No mundo material nada é sat, eterno, todavia, o mau negócio do mundo material pode ser usado para o melhor propósito. A mente dedicada ao esbanjamento é um mau negócio, mas pode-se fazer o melhor uso da mente através da introspecção.