domingo, 17 de agosto de 2014

Renovação Em Alto Paraíso


Domingo passado vivenciei algo marcante. Algo que começou no sábado, quando viajamos mamãe, irmã e eu para Alto Paraíso de Goiás. Essa cidadezinha pertencente à Chapada dos Veadeiros tem todo um astral especial. É em Alto Paraíso que está situado o ponto mais alto do Planalto Central, estimado em 1691 metros. Ou seja, o nome da cidade é correto por ambos adjetivos.

A viagem para lá no último final-de-semana foi a nossa primeira conjuntamente, e certamente outras virão. Se Deus quiser, virão! Ar bom de se respirar, lugar bom de se caminhar, cachoeira capaz de até a alma lavar... Enfim, vale visitar.

Mas o que aqui quero compartilhar transcende essa dimensão paradisíaca da localidade a nordeste no estado de Goiás. Trata-se de um fato envolvendo uma perda provisória que se transformou em um ganho definitivo. Eis a história.

No sábado, por volta das três da tarde, chegamos à cachoeira dos Cristais. Conseguimos carona com nosso primo, numa daquelas sincronias incríveis da vida: tão logo desembarcamos na rodoviária, caminhamos até um restaurante que anunciava comida vegana e, enquanto iniciávamos o contato com funcionários no convidativo estabelecimento gastronômico, nosso primo passou de carro com o padrinho de mamãe. Se tivéssemos marcado previamente, duvido que acontecesse de maneira tão precisa. E lá fomos nós deixar bagagens na pousada para de lá partirmos para a supracitada cachoeira.

Depois de caminhar, mergulhar e saborear - física e espiritualmente - as maravilhas do lugar, voltamos para casa. Digo, para a pousada onde ficamos hospedados. Somente lá, já à noite, demos falta de um objeto. Era a pochete de mamãe, contendo dinheiro (cerca de R$300), celular, documentos e algo mais. Documentos que, se não recuperados, impediriam a viagem de volta (a de Alto Paraíso para Brasília, de ônibus, e a de Brasília para o Rio de Janeiro, de avião).

Entramos em contato com o "proprietário" das cachoeiras (nossa, como é difícil escrever uma frase como essa... uma paisagem naturalmente concedida jamais deveria ser propriedade de alguém!). Ele disse que, antes da abertura do local para visitação (marcado para às 8h), iria procurar pela pochete. Fomos dormir preocupados, mas de alguma maneira confiantes de que na manhã seguinte receberíamos uma boa notícia. Como o local tinha diversas cachoeiras, foi primordial identificar nas fotos em que lugar a pochete havia sumido, até para facilitar a procura. Segundo nossa pesquisa na máquina fotográfica, estaria no "Espaço Zen". Então, vamos tentar ficar nesse estado, em sintonia com o nome do lugar... Tudo vai dar certo...

Na manhã seguinte, o rapaz disse, por telefone, que não poderia descer até a cachoeira pois naquele domingo não havia funcionários para ficarem na lanchonete (local de recepção dos visitantes) enquanto ele fosse fazer a busca. A partir dali, iniciamos os procedimentos para sair da pousada em direção à cachoeira. Para não incomodar a manhã dominical de nossos primos, fomos "de táxi" (entre aspas pois não era exatamente um táxi, mas uma espécie de carona paga), cujo motorista e filho de dois anos e cinco meses eram duas figuras simpáticas.

Chegando lá, desci na frente. Mamãe e irmã realizavam registros fotográficos do caminho enquanto fui aceleradamente na expectativa de sair do Espaço Zen dizendo amém. Hare Krishna Hare Krishna / Krishna Krishna Hare Hare / Hare Rama Hare Rama / Rama Rama Hare Hare. Era o mahamantra na mente e aquela belíssima paisagem nos olhos.

Chegando na cachoeira do Espaço Zen, encontrei aquela beleza já vislumbrada na tarde anterior. Com uma iluminação diferente, pois agora aquele ambiente era banhado pelo sol matutino. Mas nada da pochete. Infelizmente, nem sinal dela. Alguns minutos depois, ainda ali, por alguma razão misteriosa eu simplesmente me recusava a sair. Razão que a razão não explica. Até que chegou uma senhora, sorridente, indo dar um mergulho. Acho que a cumprimentei com um "bom dia". Acho que ela respondeu reciprocamente. Perdoem-me não lembrar os detalhes, adoraria relatar cada vírgula com exatidão. Segundos depois da chegada da senhora, apareceu um senhor que a acompanhava. Com um astral leve, como se sempre tivesse boas notícias. O cumprimentei. E ele, vendo-me olhando ao redor praticamente sem sair do lugar, me perguntou se eu estava procurando alguma coisa.

- Estou... É uma pochete, que na verdade nem é minha, mas de minha mãe... Perdemos ontem nessa cachoeira e viemos hoje tentar procurar... Só que não achei...

Então, tal qual um anjo anunciando uma boa nova, o senhor declarou:

- E se eu te dissesse que achei essa pochete?

A partir daí, a manhã de domingo foi transformada. A pochete estava com ele, intacta. Disse ter pego com a intenção de posteriormente procurar o dono pela agenda de celular, o que seria mais seguro do que deixar lá.

Olha só como são as coisas... Saímos da pousada para a cachoeira com pressa para sermos os primeiros a localizar a pochete. Não fomos. Por sorte, ou melhor, por bênção, quem a pegou foi um anjo disfarçado de gente. "Nem sei como te agradecer", disse para ele. E não sabia mesmo. Como não sei até hoje. Como provavelmente jamais saberei. Talvez seja para situações assim que existe a palavra "obrigado". E minha gratidão não cabe em um vocábulo.

Ali, no Espaço Zen, renovei minha fé na humanidade.