sábado, 15 de dezembro de 2012

E O Padre Ficou Sem Argumentos...

A Igreja tem lá sua virtudes. Mas vamos combinar: tratar a Criação de Deus sob uma ótica utilitarista, onde só a vontade humana importa e a vida do outro é descartável na medida em que satisfaça os interesses da 'espécie dominante', não se trata de um sentimento cristão.

Mas a insituição católica, ainda hoje - e até quando? -, considera os animais não-humanos como sendo... como sendo... é, pelo visto acho que sequer os considera como algo.

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Para Onde - E Com Quem - Caminha O Movimento Ecológico?

De Sérgio Cabral Filho nenhuma conduta me surpreende mais. Nesses seis anos de governo estadual fluminense já foram expostos exemplos suficientes de quem se trata e para quem governa. É a antítese da democracia, a caricatura da ditadura a serviço do capital. Enoja a tal ponto que eu penso o que penso a respeito dos royalties.

Não bastasse tudo o que vem acontecendo com relação ao funcionalismo público, os direitos humanos, a onda privatizatória no melhor estilo entreguista - pra tucano nenhum botar defeito -, a novidade do momento (até que surja outra, até porque o tempo corre e os especuladores não querem esperar) é com relação ao EIA/RIMA. Um absurdo sem tamanho, talvez sem precedente no país (leia a notícia publicada no Jornal do Brasil).

Por coincidência ou não, fato é que venho nas últimas semanas estudando a legislação ambiental brasileira, incluindo aí o mecanismo do estudo prévio de impacto ambiental e o relatório de impacto sobre o meio ambiente - instrumento para minimizar a degradação proveniente de atividades potencial ou efetivamente poluidoras. Cabral quer "liberar geral".

Mas Cabral, tal como mencionei anteriormente, não me surpreende mais. Nesses seis anos de governo estadual fluminense já foram expostos exemplos suficientes de quem se trata e para quem governa. O que me causa maior espanto - atravessando para a fronteira da decepção - é ver que o senhor secretário do ambiente do estado do Rio de Janeiro, Carlos Minc Baumfeld, caminha na mesma direção anti-ecológica.

Caro Carlos Minc, o que estás fazendo com a sua história de vida? Você, mais do que muitos, sabe o que representa esse Projeto de Lei esdrúxulo proposto pelo governador. Foste ministro do Meio Ambiente, sabes o quão fundamental é o cumprimento do artigo 225 da Constituição Federal. Não apenas por uma questão do Estado Democrático de Direito, mas sobretudo pelo zelo da integridade ambiental, que é o zelo pela qualidade de vida - vegetal e animal, humana e não-humana.

Em minha monografia, citei uma obra de sua autoria. Hoje vejo-o afrontar os princípios mais básicos da ecologia. Peço-o que não cometa essa traição. Não há dinheiro nenhum que possa recuperar um suicídio ideológico. Aliás, o nome da obra é "Como Fazer Movimento Ecológico", de 1985, ano em que nasci. Acho que naquela época você ainda não conhecia Sérgio Cabral Filho.

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Índios Em Apuros No Mato Grosso Do Sul - Por Justiça!

Explorados desde o século XV, os indígenas brasileiros continuam sofrendo abusos por essas terras. Se antes era via colonialismo europeu, hoje em dia é por força da lei e ação de pistoleiros.

Compartilho abaixo uma carta de socorro da comunidade Guarani-Kaiowá, em vias de ser exterminada na cidade de Naviraí, no Mato Grosso do Sul.

“Nós (50 homens, 50 mulheres, 70 crianças) comunidades Guarani-Kaiowá originárias de tekoha Pyelito kue/Mbrakay, vimos através desta carta apresentar a nossa situação histórica e decisão definitiva diante de despacho/ordem de nossa expulsão/despejo expressado pela Justiça Federal de Navirai-MS, conforme o processo nº 0000032-87.2012.4.03.6006, em 29/09/2012.

Recebemos esta informação de que nós comunidades, logo seremos atacada, violentada e expulsa da margem do rio pela própria Justiça Federal de Navirai-MS. Assim, fica evidente para nós, que a própria ação da Justiça Federal gera e aumenta as violências contra as nossas vidas, ignorando os nossos direitos de sobreviver na margem de um rio e próximo de nosso território tradicional Pyelito Kue/Mbarakay.

Assim, entendemos claramente que esta decisão da Justiça Federal de Navirai-MS é parte da ação de genocídio/extermínio histórico de povo indígena/nativo/autóctone do MS/Brasil, isto é, a própria ação da Justiça Federal está violentando e exterminado e as nossas vidas. Queremos deixar evidente ao Governo e Justiça Federal que por fim, já perdemos a esperança de sobreviver dignamente e sem violência em nosso território antigo, não acreditamos mais na Justiça Brasileira.

A quem vamos denunciar as violências praticadas contra nossas vidas?? Para qual Justiça do Brasil?? Se a própria Justiça Federal está gerando e alimentando violências contra nós. Nós já avaliamos a nossa situação atual e concluímos que vamos morrer todos mesmo em pouco tempo, não temos e nem teremos perspectiva de vida digna e justa tanto aqui na margem do rio quanto longe daqui. Estamos aqui acampados 50 metros de rio Hovy onde já ocorreram 4 mortos, sendo 2 morreram por meio de suicídio, 2 morte em decorrência de espancamento e tortura de pistoleiros das fazendas. Moramos na margem deste rio Hovy há mais de um (01) ano, estamos sem assistência nenhuma, isolada, cercado de pistoleiros e resistimos até hoje. Comemos comida uma vez por dia. Tudo isso passamos dia-a-dia para recuperar o nosso território antigo Pyleito Kue/Mbarakay.

De fato, sabemos muito bem que no centro desse nosso território antigo estão enterrados vários os nossos avôs e avós, bisavôs e bisavós, ali estão o cemitérios de todos nossos antepassados. Cientes desse fato histórico, nós já vamos e queremos ser morto e enterrado junto aos nossos antepassados aqui mesmo onde estamos hoje, por isso, pedimos ao Governo e Justiça Federal para não decretar a ordem de despejo/expulsão, mas solicitamos para decretar a nossa morte coletiva e para enterrar nós todos aqui. Pedimos, de uma vez por todas, para decretar a nossa dizimação/extinção total, além de enviar vários tratores para cavar um grande buraco para jogar e enterrar os nossos corpos. Esse é nosso pedido aos juízes federais.

Já aguardamos esta decisão da Justiça Federal, Assim, é para decretar a nossa morte coletiva Guarani e Kaiowá de Pyelito Kue/Mbarakay e para enterrar-nos todos aqui. Visto que decidimos integralmente a não sairmos daqui com vida e nem morto e sabemos que não temos mais chance em sobreviver dignamente aqui em nosso território antigo, já sofremos muito e estamos todos massacrados e morrendo de modo acelerado. Sabemos que seremos expulsas daqui da margem do rio pela justiça, porém não vamos sair da margem do rio. Como um povo nativo/indígena histórico, decidimos meramente em ser morto coletivamente aqui. Não temos outra opção, esta é a nossa última decisão unânime diante do despacho da Justiça Federal de Navirai-MS.”

A todos que vêem necessidade de prestar solidariedade a essa causa, peço que assinem a petição "Salvemos os índios Guarani-Kaiowá - URGENTE!". Se possível, também faz-se de grande valia a presença no local, para fortalecer o movimento. Enfim, toda e qualquer forma de colaboração pode ser decisiva para o destino de pessoas inocentes e vítimas de uma Justiça que nem sempre é justa.

Com gratidão.

domingo, 7 de outubro de 2012

O Rio Que Queremos, Iremos Buscar

Eleger Rosinha Garotinho, César Maia, Sérgio Cabral e, agora, Eduardo Paes em primeiro turno são marcas negativas para o eleitor do Rio de Janeiro. Refletem a falta de consciência política e são alimentadas por uma (des)educação pública da (falta de) qualidade que é vista há algumas décadas, com o sucateamento dos CIEPs como uma das medidas para tentar perpetuar esse cenário.

Mas, animai-vos!, alguma coisa está acontecendo de positivo para a Cidade Maravilhosa. Os mais de 900.000 votos para Marcelo Freixo mostram um movimento contrário ao discurso dominante promovido pelo prefeito reeleito. Isso sem se falar nos centenas de milhares que optaram pela anulação do voto - o que me faz pensar que o voto nulo deveria ser, sim, um voto válido.

Precisamos caminhar para a frente, com cabeça erguida, e mostrar para o poder público que a cidade pertence à população que aqui habita. O império peemedebista, a serviço de empreiteiras, construtoras e especuladores, se fortaleceu. Mas está surgindo uma voz de resistência, alimentada pela votação maciça em Freixo para prefeito e nos vereadores do PSOL.

Acredite: o "pequenino" PSOL passa a ser o segundo partido de maior representação na Câmara Municipal, igualando-se ao PT com quatro cadeiras de vereadores. Pode parecer pouco diante dos treze nomes ostentados pelo PMDB, mas a verdade não precisa de muito para prevalecer. Ela precisa ser, primeiramente, dita. E é um Rio verdadeiramente democrático o que devemos buscar.

Afinal, nada deve parecer impossível de mudar.

Abaixo, listagem completa com os nomes dos vereadores eleitos e seus respectivos partidos, além do número de votos. Nosso papel como cidadão não termina com o pleito da eleição. Pelo contrário, diria que é ali que ele começa. Daqui em diante, nossa atuação precisa ser encarada como ferramenta legítima e inalienável para construirmos a cidade que queremos.

PMDB - Eleitos
ROSA FERNANDES 68.452
GUARANÁ 53.306
JORGE FELIPPE 37.520
CHIQUINHO BRAZÃO 35.644
ALEXANDRE ISQUIERDO 33.356
JORGE BRAZ 27.596
RAFAEL ALOISIO FREITAS 25.278
S. FERRAZ 21.982
JORGINHO DA SOS 20.625
WILLIAN COELHO 16.505
THIAGO K. RIBEIRO 16.096
LEILA DO FLAMENGO 14.304
PROF. UOSTON 13.452

PT - eleitos
REIMONT 18.014
MARCELO ARAR 16.756
ELTON BABU 12.630
EDSON ZANATA 12.120

PSOL - eleitos
PAULO PINHEIRO 28.539
ELIOMAR COELHO 23.662
RENATO CINCO 12.498
JEFFERSON MOURA 12.424

DEM - eleitos
CESAR MAIA 44.095
TIO CARLOS 21.378
CARLO CAIADO 15.148

PSDC - eleitos
LUIZ CARLOS RAMOS DO CHAPÉU 15.262
DR. JOÃO RICARDO 10.281
EDUARDÃO 10.209

PP - eleitos
VERA LINS 31.827
CARLOS BOLSONARO 23.679
MARCELO CID HERACLITO QUEIROZ 8.428

PRB - eleitos
JOÃO MENDES DE JESUS 24.973
TANIA BASTOS 24.850

PDT - eleitos
LEONEL BRIZOLA NETO 24.044
DR. JORGE MANAIA 15.812

PSB - eleitos
DR. CARLOS EDUARDO 33.894
MARCELINO D'ALMEIDA 23.239

PSDB - eleitos
JUNIOR DA LUCINHA 31.182
TERESA BERGHER 27.344

PSC - eleitos
JAIRINHO 43.181
DRº EDUARDO MOURA 17.869

PR - eleitos
VERONICA COSTA 31.515
MÁRCIO GARCIA 13.740

PTB - eleitos
CRISTIANE BRASIL 28.169
LAURA CARNEIRO 14.621

PHS - eleito
MARCELO PIUI 6.015

PSL - eleito
ÁTILA A. NUNES 13.252

PTN - eleito
DR. GILBERTO 9.780

PSD - eleito
ELISEU KESSLER 12.717

PV - eleito
PAULO MESSINA 10.112

PRTB - eleito
JIMMY PEREIRA 10.551

PTC - eleito
RENATO MOURA 15.775

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Minha Alma (Paes Que Eu Não Quero)

Estamos em época de eleições municipais pelo Brasil e aqui no Rio de Janeiro isso não é diferente. Com uma campanha milionária, o candidato Eduardo Paes, que tenta a reeleição com uma coligação gigantesca, tem como maior adversário o deputado estadual Marcelo Freixo, cuja candidatura pelo PSOL, humilde e sem aliados suspeitos, torna o duelo um tanto desigual. Uma desigualdade que diria ser inversamente proporcional na medida em que, enquanto um lado tem mais minutos no horário político e mais dinheiro na campanha, o outro apresenta a melhor proposta para caminharmos na direção de um Rio menos desigual. Afinal, de desigualdade basta a eleitoral.

Como "paz com voz, não é Paes, é Freixo", a música do Rappa, cujo antigo integrante Marcelo Yuka é candidato a vice com Freixo, acabou sendo a inspiração para essa postagem. Então, vamos a ela.

Minha Alma (Paes Que Eu Não Quero)

A minha alma tá armada e apontada
Para a cara do prefeito
(Feito! Feito! Feito! Feito!)
Pois paz com voz, paz com voz
Não é Paes, é Freixo!
(Freixo! Freixo! Freixo! Freixo!)

Às vezes eu falo com a vida
Às vezes é ela quem diz:

"É no Paes em quem não vou votar
Prá tentar ser feliz!"

As bases de UPP
São prá trazer proteção
Mas também trazem a dúvida
Se não é outra forma de opressão

Me abrace e feche com Freixo,
Faça esse voto comigo!
Mas não deixe o Paes ser reeleito
No dia de domingo, domingo!

Procurando novas formas de cartel
Neste Rio sem sentido...
Eduardo Paes eu não quero seguir admitindo

É com o Paes que eu não quero seguir
É com o Paes que eu não quero seguir
Eduardo Paes eu não quero seguir admitindo

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

Luz Do Bhagavata - Verso 26

O Senhor desfrutava na companhia do Senhor Baladeva e dos outros vaqueirinhos, e às vezes sentava-Se com eles na mesma pedra. Juntos, eles comiam alimentos simples como arroz, dhal, vegetais, pão e coalhada, que tinham trazido de suas casas e que compartilhavam em intercâmbios amigáveis.

No Bhagavad-gita o Senhor expressou seu desejo de aceitar frutas, flores, folhas e água de Seus devotos quando oferecidas a Ele com afeição devocional. O Senhor pode comer toda e qualquer coisa, porque tudo não passa de uma transformação de Sua própria energia. Porém, quando surge a questão de se Lhe oferecer algo, os oferecimentos devem estar dentro da classe de alimentos que o Senhor exigiu. Não podemos oferecer ao Senhor algo que Ele não tenha pedido. Não se pode oferecer à Personalidade de Deus, Sri Krsna, nada que esteja fora da classe de comestíveis saudáveis como arroz, dahl, trigo, vegetais, leite, preparações lácteas e açúcar. Em Jagannatha Puri esses alimentos são oferecidos ao Senhor, e em todas as escrituras os mesmíssimos alimentos são mencionados em toda a parte.

O Senhor nunca está com fome, nem precisa de comida alguma para encher Seu estômago vazio. Ele é completo em Si mesmo. Entretanto, devido à Sua misericórdia, Ele sempre come os alimentos oferecidos com afeição sincera por Seus devotos. Os vaqueirinhos trouxeram alimentos simples de casa, e o Senhor, que é servido constantemente por centenas de milhares de deusas da fortuna, fica sempre alegre de aceitar tais alimentos simples de Seus amigos devotos. Todos os parentes do Senhor são apenas Seus devotos, e estão situados em diferentes sentimentos transcendentais como amigos, pais e amantes. O Senhor sente prazer transcendental em aceitar os serviços de Suas diversas classes de devotos, que estão situados em diversas classes de rasas. Essas rasas transcendentais refletem-se de maneira pervertida na atmosfera material. Assim, o ser vivo espiritual, devido apenas à ignorância, busca em vão a mesma bem-aventurança na matéria.

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Festival De Cinema Francês 2012


Vamos aqui fazer breves considerações sobre os filmes assistidos, mais ou menos nos mesmos moldes de como analisamos ano passado e retrasado. Dessa vez, tive a felicidade de, durante os dezesseis dias de festival, assistir 14 dos 17 filmes exibidos (a grande maioria deles de altíssimo nível). Que venha a edição 2013. E viva o cinema francês!

E Agora, Aonde Vamos?
Vamos falar aqui de um filme maravilhoso. Ousado, trata de um tema delicado como o confilto entre cristãos e muçulmanos mesclando drama e comédia (e vice-versa). Prima pela sensibilidade na narração dos acontecimentos, sendo capaz de proporcionar risos e lágrimas. Ou seja, sucesso completo a obra assinada por Nadine Labaki. Imperdível.

O Barco Da Esperança

Retratando a realidade de uma travessia oceânica perigosa que parte de uma faminta África para um suposto paraíso europeu, O Barco Da Esperança navega por águas que conduzem o espectador a momentos de angústia e alívio. O diretor Moussa Touré conseguiu cumprir a proposta, mostrando ao mundo algo que não costuma aparecer nos noticiários.

Uma Garrafa No Mar De Gaza
Com o poder de debater sob uma ótica diferenciada a já banalizada guerra entre palestinos e israelenses em Gaza e adjacências, o filme consegue mergulhar no drama de uma família de cada lado "do muro". Com um roteiro muito bem amarrado, o desenrolar da história vai prendendo a atenção de um espectador que acaba se vendo condenado a torcer para que o encontro entre a bela Tal e o tal "Gazaman" aconteça. Surpreendente, o filme guarda o clímax para o final. Ou para depois dele.

A Filha Do Pai
Tinha todo o enredo para ser mais uma história de amor proibido daquelas que estamos cansados de assistir. Mas não. Eis um filme que capricha em cada sequência, em cada diálogo, em cada proposta de reflexão, fluindo num ritmo precisamente adequado para que a obra dialogue com o espectador da melhor maneira possível. Fiquei fã de Daniel Auteil, que deu aula de direção e de atuação. E também da bela Astrid Berges-Frisbey, protagonista que encanta e convence em sua interpretação. Vida longa a essa dupla!

Adeus Berthe Ou O Enterro Da Vovó
Como comédia, o filme funciona relativamente bem, com boas sacadas. Mas, no contexto geral, acaba deixando a impressão de que faltou (ou sobrou) alguma coisa para deixar a história melhor amarrada. Pode ser que o filme seja melhor do que a mim pareceu, mas assistí-lo depois dos dois filmes que tinha acabado de assistir talvez tenha pesado contra, pois definitivamente este não se encontra no mesmo nível daqueles anteriores.

Paris-Manhattan
A história cativa pela simplicidade, com a relação entre a protagonista e Woody Allen sendo um tempero especial que possibilita alguns risos e muitas reflexões. Embora tenha saído da sessão com a sensação de que alguma coisa não encaixou bem no filme, o agradável desenrolar da história e a própria personalidade de Alice (Alice Taglioni) compensam qualquer eventual falha.

Aqui Embaixo
Poderia indicar esse filme simplesmente pela espetacular atuação de Céline Sallette, irrepreensível na pele de Irmã Luce. Não bastasse isso, há que se enaltecer que a história (real) dessa religiosa foi um achado cinematográfico, tratada de maneira brilhante pelo diretor Jean-Pierre Denis. Filmaço.

Um Evento Feliz
A maternidade é tratada de maneira tão real que o filme parece conseguir a proeza de fazer o espectador se sentir um pouco mãe - no meu caso, foi perturbador "encarar" as cenas do parto, e naquele momento dava graças a Deus de ter nascido homem. As reflexões da protagonista e a química do casal principal são dois pontos fortes numa obra que abusa do poder de passar as emoções vividas pelos personagens.

Americano
Tinha tudo para ser um filme comum, mas, como num toque de mágica, a história ganha força e o que temos é um final arrebatador, daqueles para serem guardados na memória. Mas o nome disso não é mágica, não: é a ótima direção de Mathieu Demy.

O Monge 
Suspense com "S" maiúsculo, pra fazer acelerar os batimentos cardíacos, prender a respiração, arrancar o fôlego. Daqueles filmes que acompanham nossos pensamentos pra muito além do final da sessão, fazendo-nos (re)pensar muitas condições da existência humana. Com o perdão do trocadilho, a atuação de Vincent Cassel está impecável.

Abaixo, filmes assistidos durante o período de Repescagem.

Intocáveis
A obra dirigida por Olivier Nakache e Eric Toledano é conduzida de maneira magistral. Isso se deve não somente à exímia direção, mas também às ótimas músicas e, talvez principalmente, às irrepreensíveis atuações de François Cluzet e Omar Sy. Ao mesmo tempo cômico e comovente, este é daqueles filmes para rir muito e refletir bastante.

Polissia
Com cara de longa-metragem e alma de documentário, Polissia é um filme necessário. Pelo tema que aborda, já não há como ignorá-lo. E como se não bastasse a ousadia na narrativa, há um outro mérito exaltável na obra de Maiwenn (diretora e atriz): o de conseguir mergulhar no drama de praticamente todos os personagens que aparecem no filme, mesmo que presentes por apenas alguns segundos. O desfecho é exuberante, pra emocionar de tão perturbador e genial.


Alyah
No retrato da vida de Alex (Pio Marmai vai muito bem no papel, auxiliado pela atuação convincente de Cédric Kahn), o jovem de 27 anos que leva uma vida sem grandes projetos e aspirações acaba contagiando o próprio filme em si, que também acaba por parecer uma obra despretensiosa. Talvez esse seja justamente seu grande atrativo, embora, mesmo entre tantos encontros e desencontros, a história careça de emoção.


A Vida Vai Melhorar
Realista até dizer chega, o filme ilustra de maneira simples e direta aquilo que deve fazer parte do cotidiano da maioria dos seres humanos que vivem nas cidades: sonhos e poder aquistivo em grandezas inversamente proporcionais. Guillaume Canet brilha na pele do protagonista (o cozinheiro Yann) e, amparado pela ótima direção de Cédric Kahn, carrega o filme no colo.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Tomar Partido E Fazer Política: Onde Estão Os Direitos Dos Animais?

2012 é ano de eleições municipais pelo Brasil e, embora o pleito seja realizado em outubro, em julho já vemos - e ouvimos - propagandas políticas de diversos candidatos.

Vivemos em um país pluripartidário, com dezenas de legendas diferentes e coligações bizarras, daquelas que fazem dividir o palanque dois sujeitos hoje abraçados e ontem inimigos declarados.

Recentemente, foi fundado o 30º partido (denominado PEN - Partido Ecológico Nacional). O nome é sugestivo e insere-se num contexto histórico onde o debate ambientalista é crescente em praticamente todos os cantos do mundo, notadamente pela ameaça global das mudanças climáticas.

Não sei, sinceramente, o que esperar do PEN no cenário nacional. E nem é meu objetivo especular isso nesse presente momento. Quero, isto sim, apresentar dois partidos políticos de fora do Brasil que colocam como tema central os direitos dos animais, algo que seria muito bem-vindo no país que mais exporta carne no mundo e que financia fortemente a pecuária (perceba como acaba se tratando, também, de uma questão ambiental).

Na Holanda, em 2002, surgiu o Partido pelos Animais (Partij voor de Dieren, em holandês), atualmente presidido pela ativista Marianne Thieme, figura simpaticíssima que tive a felicidade de conhecer em julho de 2009, no Festival Vegano Internacional, realizado no Rio de Janeiro. O trabalho que vem sendo realizado na Holanda é inspirador no sentido de que nós podemos - e devemos - aplicar algo dessa natureza nessa nação, onde a exploração animal concentra renda, degrada ecossistemas e tortura milhões de seres inocentes.

O outro exemplo ocorre em Portugal, país onde, em 2009, surgiu o PAN (Partido pelos Animais e pela Natureza), que elegeu seu primeiro deputado nas eleições de 2011. Pode-se acompanhar as atividades desse partido através da rede social Facebook.

Vejo esses casos na Holanda e em Portugal como feixes de luz a iluminarem uma escuridão que assola os direitos dos animais. No Brasil, a legislação determina que nenhum animal deverá ser submetido à crueldade. Precisamos, portanto, fazer valer esse direito. Talvez seja necessário, para isso, criar um partido político focado nesse ideal de libertação animal. Pode ser que, com ele, nasça uma nova ética de respeito pela vida, que não vem sendo zelada como deveria pelos trinta partidos já existentes.

quarta-feira, 4 de julho de 2012

Luz Do Bhagavata - Verso 25

O Senhor reciprocava os sentimentos dos habitantes da floresta de Vrndavana. Quando a chuva caía, o Senhor Se refugiava aos pés das árvores ou nas cavernas e desfrutava o sabor de diferentes frutas com Seus associados eternos, os vaqueirinhos. Ele brincava com eles, sentava-Se com eles e comia frutas com eles.

Tornar-se uno com Deus nem sempre indica que o ser vivo tenha de se fundir na existência do Senhor. Tornar-se uno com Deus significa que a pessoa alcança sua qualidade espiritual original. A menos que obtenha essa qualidade espiritual, ela não poderá entrar no reino de Deus. Os membros da escola impersonalista explicam sua idéia de unidade através do exemplo da água do rio que se mistura com a água do mar. Contudo, devemos saber que dentro da água do mar existem seres vivos que não se fundem na existência da água, senão que conservam suas identidades separadas e gozam a vida dentro da água. Eles são unos com a água no sentido de que alcançaram capacidade de viver dentro da água. Analogamente, o mundo espiritual não está à parte de sua parafernália separada. O ser vivo pode conservar sua identidade espiritual distinta no reino espiritual e gozar a vida com o ser espiritual supremo, a Personalidade de Deus.

Em Vrndavana, todas as entidades espirituais - os vaqueiros, as vaqueirinhas, a floresta, as árvores, as colinas, a água, as frutas, as vacas etc - desfrutam a vida espiritual na associação do Senhor, Sri Krsna. Eles são simultaneamente unos com o Senhor e diferentes dEle. Mas, em última análise, eles são iguais em diferentes variedades.

quinta-feira, 28 de junho de 2012

terça-feira, 26 de junho de 2012

Crueldade Que Compactuamos

Na última edição do programa CQC (Custe o Que Custar), exibido ontem, 25.06.2012, na TV Bandeirantes, o quadro Proteste Já tratou de um tema absolutamente necessário para debate: abatedouros.

No Brasil, estima-se que aproximadamente metade dos matadouros de animais atuem na clandestinidade, isto é, sem qualquer inspeção quanto aquilo que é regulamentado para funcionamento. Se você pensar que o CQC foi até um matadouro municipal (isto é, sob "os cuidados" da Prefeitura) e encontrou o que encontrou, imagine o que não existe pelo país naqueles estabelecimentos tidos como ilegais.

E estamos falando de um país onde existe mais boi do que gente, alimentando o mundo com 1/3 da carne bovina consumida nesse planeta. O programa mostrou as questões de ordem sanitária, escancarando um cenário caótico para a saúde pública. Mas a abordagem, por se limitar a essa esfera, acabou pecando por omissão: é eticamente inaceitável falar de matadouros sem entrar no mérito do direito dos animais. Direito dos animais não se resume ao fato de matar à marretadas ou via pistola pneumática. Direito dos animais inclui - ou pelo menos deveria incluir - o direito de viver em liberdade, livre de qualquer forma de exploração. Como diz o filósofo Tom Regan, não interessa se foi aumentado o tamanho da jaula - o que interessa é que a jaula esteja vazia.

A Band, através do CQC, perdeu uma grande oportunidade de realizar uma reportagem revolucionária na TV aberta brasileira, expondo para o público fatos que, para alegria da indústria alimentícia que lucra horrores pela exploração animal, estão convenientemente ocultos aos olhos da massa. E fez pior, pois quando o repórter Oscar Filho coloca como considerações finais a sua preocupação com os postos de trabalho perdidos pelos funcionários do matadouro (o estabelecimento foi fechado pelo poder público), ele deixa a mensagem de que a barbárie de ceifar vidas de seres sencientes se justifique pelo argumento de que gere renda para um sujeito. Argumento inválido, além de perigoso. Ou será que Oscar Filho não pouparia esforços para promover o sustento honesto dos coveiros?

Numa sociedade onde se procura justiça, ética e respeito, é fundamental que esses valores atemporais sejam colocados acima do dinheiro. Custe o que custar.
Abaixo, a matéria veiculada pelo programa.

terça-feira, 19 de junho de 2012

Luz Do Bhagavata - Verso 24

Quando o Senhor entrou na floresta de Vrndavana, todos os habitantes da floresta, tanto animados quanto inanimados, ficaram ansiosos por recebê-lO. Ele viu que todas as flores da floresta, desabrochando inteiramente, choravam de êxtase, com mel a fluir de suas pétalas. As cascatas fluíam alegremente das rochas das montanhas, e podia-se ouvir sons doces provenientes das cavernas próximas.

O Senhor possui multifárias energias, entretanto, o Senhor e Suas energias são idênticos. A energia material é uma de Suas variadas energias, e afirma-se no Bhagavad-gita que a energia material, em qualidade, é inferior à energia espiritual. A energia espiritual é superior porque sem o contato com a energia espiritual a energia material sozinha não pode produzir nada. Mas a fonte de todas as energias é a todo-atrativa Personalidade de Deus, Sri Krsna.

Este mundo material é uma combinação de matéria e espírito, mas o mundo espiritual, que está muitíssimo distante do céu material, é puramente espiritual e não tem nenhum contato com a matéria. No mundo espiritual, tudo é espírito. Já expusemos isso. A Personalidade de Deus, a fonte original de todas as energias, é capaz de converter espírito em matéria e matéria em espírito. Para Ele não há diferença entre matéria e espírito. Portanto, ele é chamado de kaivalya.

Nos passatempos transcendentais do Senhor Sri Krsna, Ele reciproca com o espírito, e não com a matéria. Quando Ele está no mundo mortal, as qualidades materiais não podem influenciá-lO. Um eletricista sabe como produzir força da eletricidade. Com a ajuda da eletricidade ele pode congelar ou ferver a água. De forma semelhante, a Personalidade de Deus, através de Seu poder inconcebível, pode transformar a matéria em espírito e o espírito em matéria. Logo, mediante a graça do Todo-poderoso, tudo é matéria e espírito, embora, do ponto de vista do ser vivo comum, haja diferença entre matéria e espírito.

Flores, cascatas, árvores, frutas, colinas, cavernas, pássaros, feras e seres humanos não são mais do que combinações de energia de Deus. Portanto, quando a personalidade de Deus apareceu, todos eles manifestaram sua inclinação espiritual, e em virtude da afeição natural desejaram servir ao Todo-poderoso segundo suas diferentes capacidades.

Existem níveis distintos de desenvolvimento espiritual na matéria. No mundo material, as centelhas espirituais da Personalidade de Deus estão cobertas pela energia material em diferentes proporções, e gradualmente, enquanto transmigram em várias espécies de vida, elas vão se espiritualizando. A forma de vida humana representa o desenvolvimento completo dos sentidos através dos quais pode-se lograr a realização espiritual da afeição original pelo Senhor. Por conseguinte, se a despeito desta oportunidade da vida humana formos incapazes de reviver nossa afeição natural pelo Senhor, é bom que saibamos que estamos desperdiçando nossa vida em troca de nada. Entretanto, pela graça do Senhor, a consciência espiritual de todas as espécies de vida pode ocupar seu lugar apropriado, e estas espécies podem exprimir sua afeição espiritual pelo Senhor na santa-rasa, como exibida pela terra, pela água, pelas colinas, pelas árvores, pelas frutas e pelas flores de Vrndavana durante a presença do Senhor Sri Krsna, a Personalidade de Deus.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Franz Ferdinand São Paulo 2012: A Arte De Contagiar O Público

Em março de 2010 tive a oportunidade de assistir aquele que era meu primeiro show internacional. A banda escocesa Franz Ferdinand se apresentaria na Fundição Progresso, casa de espetáculos situada relativamente perto de casa (vira e mexe passo em frente quando me desloco pela cidade do Rio de Janeiro). Naquele show memorável, conheci pessoas com as quais conservo relação de amizade até hoje e experienciei uma performance, uma presença de palco, uma interação artista-público absolutamente singular. Por coincidência, ou melhor, por aquilo que considero ter sido um capricho dos deuses da música, aquele show aconteceu no dia do aniversário do vocalista Alexander Kapranos, que ouviu um "parabéns para você" cantado por milhares de pessoas e foi aos braços do público, numa cena que tive a felicidade de testemunhar a alguns metros de distância, com direito a um registro fotográfico que beira o inacreditável, tamanha a improbabilidade (clique e confira).

Passados 26 meses e eu, com 26 anos de idade, pude reencontrar o quarteto britânico em solo brasileiro - dessa vez em São Paulo. Uma viagem que me animei de fazer tão logo tomei conhecimento de que o Franz Ferdinand faria uma apresentação gratuita no 16º Cultura Inglesa Festival. Embarquei à meia-noite e quinze e às sete da manhã já estava em Sampa, sentindo o frio matinal daquela que é a maior cidade do país. Os minutos se passavam, o sol aquecia o dia e já não era necessário fazer uso de casaco nem de camisa com manga comprida. Vestindo a mesma camisa do Botafogo que usei na noite de 24 de setembro, no Rock In Rio 2011, fui para a enorme fila que esperava por mim e por meu irmão, parceiro de viagem. Acho que ficamos cerca de uma hora no percurso que nos separava da entrada da área destinada aos shows. O relógio devia estar marcando algo em torno das onze horas da manhã e o momento mais esperado daquele domingo ensolarado, com ares de outono carioca, estava agendado para às 18h30. As bandas que se apresentavam entretiam, embora sem necessariamente empolgarem. Amigos virtuais de longa data foram chegando e "se tornaram reais", fazendo a ocasião ainda mais especial. Até chegar o grande momento, aquele período de tempo tão reduzido porém eterno, quando você visualiza o grupo e, ao ouvir os primeiros sons, já se deixa contagiar. Começou com Darts Of Pleasure e terminou com This Fire aquela apresentação que incendiou o Parque da Independência. Quando tocou Take Me Out, senti estar vivendo um momento mágico. Revendo a gravação, creio que aquilo ali na verdade se trata de algo épico, inapagável e impagável. Tocar ainda Michael, sair do palco e voltar com Jacqueline me fez pensar: "oh deuses da música, obrigado por fazerem um show especialmente para mim". Desconfio não ser merecedor de tamanho mimo, e sou grato eternamente por essa dádiva. 27.05.2012 é para se guardar. Na memória e no coração.

Preciso dizer se valeu cada metro percorrido e cada real investido nessa viagem?

Set list do show do Franz Ferdinand no Parque da Independência, em São Paulo, 27.05.2012

01. Darts of Pleasure
02. Tell Her Tonight
03. Right Thoughts
04. Do You Want To
05. No You Girls
06. Brief Encounters
07. Walk Away
08. Dark of The Matinée
09. Fresh Strawberries
10. Can't Stop Feeling (com I Feel Love)
11. Take Me Out
12. Ulysses
13. Trees and Animals
14. 40´
15. Outsiders
16. Michael

Bis:
17. Jacqueline
18. This Fire

Galeria de fotos











quinta-feira, 24 de maio de 2012

Luz Do Bhagavata - Verso 23

As vacas que seguiam o Senhor dentro da floresta movimentavam-se vagarosamente por causa de seus pesados úberes cheios de leite. Mas quando o Senhor as chamava por seus nomes elas imediatamente ficavam alertas, e enquanto se apressavam em direção a Ele suas tetas derramavam leite no chão devido à afeição pelo Senhor.

Compreende-se através de escrituras tais como o Brahma-samhita que na morada espiritual do Senhor as casas são feitas de pedra filosofal e as árvores são todas árvores-dos-desejos. Lá, o Senhor costuma apascentar milhares e milhares de kamadhenus (vacas capazes de suprir ilimitada quantidade de leite). E todas as casas, árvores e vacas são qualitativamente não-diferentes do Senhor. O Senhor e Sua parafernália na morada espiritual são idênticos em qualidade, embora, para o prazer do Senhor, existam diferenças. No mundo material, também temos uma diversidade de parafernália para os prazeres de nossa vida, contudo, porque toda esta parafernália é feita de matéria, ela é, afinal, perecível. No céu espiritual, existem as mesmíssimas variedades de prazer, mas todas elas são destinadas ao Senhor. Lá, apenas o Senhor é o desfrutador e beneficiário supremo, e todos os demais são desfrutados por Ele. O Senhor é servido por todas as classes de servos, e tanto o amo quanto os servos são da mesma qualidade. Esta variedade espiritual é exibida pelo Senhor quando Ele desce em Vrndavana, e assim temos conhecimento de que o Senhor desce com Seu cortejo pessoal de vacas, vaqueirinhos e vaquerinhas, todos os quais são tão somente expansões espirituais do Senhor para o Seu próprio prazer. Dessa maneira, ao serem chamadas pelo Senhor, as vacas ficaram dominadas pela afeição e prazer, assim como o seio de uma mãe verte leite quando a criança chora por ele.

Todos nós, seres vivos, somos expansões diferenciadas do Senhor. Porém, nossa afeição pelo Senhor está latente em nós, artificialmente coberta pela qualidade material da ignorância. A cultura espiritual tem como propósito reviver esta afeição natural do ser vivo pelo Senhor. Os ingredientes do fogo já estão presentes num palito de fósforo, e basta apenas um leve atrito para acender o fogo. De igual modo, nossa afeição natural pelo Senhor tem de ser revivida através de um pouco de cultura. Sobretudo, devemos receber o conhecimento acerca do Senhor com um coração purificado.

Para lograr a compreensão espiritual, deve-se purificar o coração e conhecer as coisas na sua perspectiva verdadeira. Tão logo alguém faça isto, o fluxo de sua afeição natural começa a fluir em direção ao Senhor, e com o progresso desse fluxo a pessoa torna-se cada vez mais auto-realizada nos vários relacionamentos com o Senhor. O Senhor é o centro de toda a afeição de todos os seres vivos, os quais são todos suas partes integrantes. Quando o fluxo da afeição natural pelo Senhor fica obstruído pelo desejo de imitar Seu domínio, diz-se que a pessoa está em maya, ou seja, ilusão. Maya não tem existência substancial, mas enquanto suas alucionações prosseguirem, sentir-se-á sua influência. O Senhor, por Sua misericórdia imotivada, exibe a realidade da vida de modo que nossas alucinações possam ser completamente dissipadas.

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Aborto E Abandono

Recentemente, uma discussão acerca do aborto de anencéfalos foi parar no Supremo Tribunal Federal e dividiu opiniões pelo país. A maioria dos ministros do STF mostrou-se favorável à prática abortiva, opinião a qual não compartilho. Por definição, o aborto consiste na expulsão ou remoção prematura de um embrião ou feto do útero, matando a vítima. No caso dos anencéfalos (em caso de dúvidas, leia sobre anencefalia), muitos argumentam que o aborto se justifica pelo fato de a criança com má formação cerebral estar condenada biologicamente a morrer logo após o nascimento - o que não é necessariamente verdadeiro e, creio, tampouco razoável para deliberar pela antecipação proposital do encerramento das funções biológicas de alguém.

Fazer a conexão entre aborto e abandono é simples: o aborto trata-se do abandono intra-uterino. Reciprocamente, abandono seria o aborto fora do útero. A diferença básica é que o aborto mata instantaneamente, enquanto o abandono deixa a vítima entregue à própria sorte. Acho curioso observar o código penal brasileiro no que tange o "abandono de incapaz", caracterizando no artigo 133 o incapaz como sendo qualquer pessoa que não possui condições de se defender dos riscos resultantes do abandono. Pergunta-se: existe, então, alguém mais incapaz de se defender dos riscos resultantes do abandono do que um feto ligado à sua progenitora pelo cordão umbilical?

Paradoxalmente, no mesmo país em que se delibera pena de 4 a 12 anos de reclusão nos casos de abandono que resultam em morte, passa a ser legalizado o abandono, digo, o aborto de anencéfalos.

Considero-me um defensor da liberdade. Acontece que, em casos como esses aqui mencionados, a liberdade de dar seqüência ou não a uma gestação ocasiona uma decisão com vítima fatal. Não seria nada razoável apoiar a liberdade de um em detrimento da vida de outro. Até porque o exercício da liberdade de qualquer ser depende, fundamentalmente, de que este ser esteja vivo.

Encerro esse texto com um dado que ilustra firmemente como o abandono é algo meramente subjetivo: um estudo realizado na Alemanha, país onde o aborto terapêutico é permitido, demonstrou que as mães optam menos pela interrupção da gravidez em casos de anencefalia do que em casos de síndrome de Down. Não dizem por aqui que devemos respeitar as diferenças? Que façamos isso então, dentro e fora das fronteiras uterinas.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

Luz Do Bhagavata - Verso 22

Terminada a estação das chuvas, a floresta de Vrndavana encheu-se de frutas, tais como tâmaras e amoras silvestres que amadurecem nas árvores e arbustos. O Senhor Sri Krsna, juntamente com Seu irmão mais velho, Sri Baladeva, e outros vaqueirinhos da vizinhança, entraram na bela floresta acompanhados das vacas para exibir passatempos transcendentais com Seus amigos eternos.

O Senhor Sri Krsna, a Suprema Personalidade de Deus, aparece com Seu séquito pessoal a cada 4.320.000.000 de anos e exibe Sua parafernália transcendental, só para atrair as almas condicionadas do mundo material. Embora o mundo material seja apenas uma sombra do mundo espiritual, as entidades vivas encarceradas pela matéria buscam aqui a felicidade espiritual sob a forma pervertida decorrente do apego material. Filósofos empiristas com pobre fundo de conhecimento imaginam um quadro espiritual impessoal. Porém, o ser vivo espiritual, menos atraído pela forma impessoal da emancipação espiritual, torna-se mais atraído pela forma material, ficando sem nenhuma esperança de emancipação espiritual.

Portanto, a Absoluta Personalidade de Deus, em virtude de Sua misericórdia ilimitada e imotivada, desce do reino espiritual e exibe Seus passatempos pessoais em Vrndavana, a réplica do planeta Krsnaloka do céu espiritual. Vrndavana é o lugar mais sagrado dentro deste universo cósmico, e as pessoas que procuram alcançar a emancipação espiritual e entrar no reino de Deus podem fazer um lar em Vrndavana e tornar-se estudantes sérios dos seis Gosvamis, que foram instruídos pelo Senhor Sri Caitanya Mahaprabhu. Os seis Gosvamis eram encabeçados por Srila Rupa Gosvami, que era seguido por Srila Sanatana, Srila Bhatta Raghunatha, Srila Jiva, Srila Gopala Bhatta e Srila Raghunatha dasa Gosvami. Todos eles se ocuparam seriamente na pesquisa e escavação do mistério de Vrndavana-dhama.

O Senhor Sri Krsna, a Suprema Personalidade de Deus, apareceu em Vrndavana cerca de cinco mil anos atrás, e as relíquias de Seu aparecimento em Vrndavana desapareceram de vista. Contudo, o Senhor Sri Caitanya Mahaprabhu, que é o mesmíssimo Senhor Sri Krsna sob a forma de um grande devoto, apareceu em Navadvipa, um distrito da Bengala Ocidental, e escavou os locais sagrados dos transcendentais passatempos do Senhor Sri Krsna. Ele ordenou aos seis Gosvamis que escrevessem livros autorizados sobre o culto de Vrndavana. Logo, todo estudante sério e ansioso por conhecer acerca do Senhor Supremo pode tirar proveito desta literatura inestimável e da orientação de eruditos autorizados e assim informar-se a respeito do Senhor de Vrndavana, Sri Krsna, a Personalidade de Deus.

terça-feira, 10 de abril de 2012

A Fé Ateísta

O argumento básico - pelo menos aquele com o qual mais me deparo - para não se acreditar em divindades (posicionamento defendido pelo ateísmo) reside no fato de vivermos num mundo recheado de dor, sofrimento e crueldade, aspectos que não condiziriam com a existência de um Deus amoroso e onipotente. Se esse Deus amoroso e onipotente existisse, pensam muitos ateus, ele interviria no sentido de não permitir que alguém fosse oprimido por outro alguém. Não quero aqui entrar no debate sobre o livre-arbítrio, mas faz necessário deixar uma pergunta no ar: se fosse para intervir arbitrariamente na criação, onde estaria a liberdade e o mérito na evolução? De toda forma, compartilho da ideia de que devemos extirpar do mundo qualquer relação de exploração, de opressão. E pergunto: o que você, sujeito livre, faz nesse sentido? OK, vamos parar esse parágrafo por aqui.

O presente tópico não procura discutir criação do universo, leis de ação e reação etc. O que estou propondo nesse texto é observarmos a fé ateísta no sentido do esforço que é acreditar (ou pelo menos dizer acreditar) que todo o cosmos como é concebido tenha se configurado única e exclusivamente pela força do acaso. Se for esse o caso, Acaso daria um bom nome para Deus. No fundo, me parece muito mais fácil atribuir a um ser supremo toda a confecção das maravilhas que testemunhamos, de tamanha complexidade que não damos conta de explicar - quando achamos que estamos convictos, surge outra teoria para colocar a anterior em dúvida. Então, o ateísta é, basicamente, alguém de muita fé no coração. Claro que há também aquele sujeito que "escolhe o ateísmo" meio que como forma de protesto ao fato de ver tantas incoerências nas instituições religiosas. Mas aí é uma outra discussão. Gosto de ilustrar o que penso a esse respeito com um pensamento de Huberto Rohden: "o maior cristão do século vinte foi um hindu".

Enfim, o importante mesmo é agirmos no bem. No final das contas, agir no bem estará agradando a Deus - existindo Ele ou não. Aos ateístas, deixo um recado final: que Deus conserve essa sua capacidade de ter fé. Desde que isso não atente contra seu livre-arbítrio, é claro...

segunda-feira, 26 de março de 2012

Luz Do Bhagavata - Verso 21

O vento carrega as nuvens para diferentes partes do globo, e as nuvens distribuem chuvas, para a satisfação das pessoas em geral, assim como os reis e os mercadores ricos distribuem sua riqueza acumulada, inspirados pelos sacerdotes.

Como já explicado, as quatro classes da sociedade - isto é, a classe de homens inteligentes (os brahmanas), a classe governante (os ksatriyas), a classe mercantil (os vaisyas) e a classe dos trabalhadores braçais (os sudras) - destinam-se a alcançar um objetivo na vida: auto-realização, ou seja, o cultivo do espírito humano. A classe de homens inteligentes, os brahmanas, deve estimular os ksatriyas e os vaisyas a executar sacrifícios em prol do cultivo espiritual, e assim a cooperação dos brahmanas, ksatriyas e vaisyas elevará as pessoas em geral, ou a classe dos trabalhadores comuns. Tão logo esta cooperação entre as quatro classes de homens na sociedade é interrompida e os princípios básicos da cultura espiritual são negligenciados, a estrutura social da humanidade torna-se uma reedição da vida animal, baseada nas propensões a comer, dormir, temer e acasalar-se. É dever dos homens inteligentes induzir os membros de comunidades mais ricas - os ksatriyas e os vaisyas - a fazer sacrifícios conducentes ao cultivo espiritual. Só desta maneira poderá a tensão entre os capitalistas e os operários ser devidamente mitigada.

Nesta era de Kali, quando uma mera diferença de opinião conduz à discórdia, chegando a ponto de causar motins, é dever dos homens inteligentes, os brahmanas, estimular altruistamente as pessoas mais ricas a fazer sacrifícios para este propósito. Sugere-se com isso que os próprios homens da classe inteligente não devem tentar tornar-se ksatriyas ou vaisyas, nem devem imiscuir-se nas ocupações das outras classes; em vez disso, os brahmanas devem apenas guiá-las no cultivo espiritual, assim como o vento transporta as nuvens para outros lugares para derramarem água. O vento por si mesmo não assume a responsabilidade de derramar a água. 
Os homens mais inteligentes da sociedade são os santos e os sábios que sacrificaram tudo a serviço do cultivo espiritual. Sempre prontos a sacrificar suas palavras, dinheiro, inteligência e vida, seu dever é viajar por toda a parte e estimular todos os seres humanos a se ocuparem em atividades conducentes ao cultivo espiritual. Esse deve ser o objetivo da vida humana a fim de fazer dela um êxito completo. Uma sociedade que não tem gosto pelo cultivo espiritual é como um incêndio ardente, onde todos sofrem perpetuamente as três classes de misérias. Assim como as nuvens derramam água sobre um incêndio ardente na floresta e assim o extinguem, os homens inteligentes, que agem como mestres espirituais da sociedade, derramam água no incêndio ardente das misérias, ao disseminar o conhecimento espiritual e estimular as classes mais ricas da sociedade a ajudar esta causa. Templos de adoração, por exemplo, são construídos pelos ricos, e esses templos visam dar educação espiritual às pessoas em geral. Cerimônias espirituais periódicas são realizadas para dar inspiração, e não para explorar. Se existem falhas agora, devido à era de Kali, elas deverão ser retificadas, mas a instituição tem que ser salva.

domingo, 25 de março de 2012

Sobre O Jejum

Muitos afirmam que há maior credibilidade no discurso de uma pessoa que tenha vivenciado aquilo que esteja abordando. Concordo, mas não acho que a experiência seja requisito obrigatório para se analisar o que quer que seja. Por exemplo: é necessário que um comentarista esportivo seja um craque na modalidade por ele analisada? É necessário que um indivíduo tenha se tornado um viciado em entorpecentes para afirmar que o consumo de drogas é degradante ao usuário? Provavelmente, você respondeu "não" para ambas as indagações.

De toda forma, devemos reconhecer que há maior impacto quando vemos que quem está falando, de alguma forma, tem alguma ligação com aquilo que é dito (ligação esta que é reforçada pela experiência, mas que não se limita a ela). E o tema que tratamos aqui é o jejum. Tema esse que iremos observar do ponto de vista teórico e, com a ajuda da experiência deste que vos digita, também do ponto de vista prático. O que seria o jejum? Por que fazê-lo? Como fazê-lo? Quando fazê-lo?

O que é o jejum

Numa definição bem básica (disponível na Wikipédia), o jejum consiste na opção do indivíduo em reduzir ou até mesmo eliminar a ingestão de alimentos, geralmente por um período de tempo pré-determinado. Particularmente, acho essa definição um pouco problemática, pois acho que reduzir o consumo alimentício está mais para "dieta" do que para jejum. No meu entendimento, jejuar é cessar o consumo por completo.

Analogamente, a noção de jejum é freqüentemente utilizada no jornalismo esportivo: "time está num jejum de vitórias há sete rodadas no campeonato". Isso indica que o time ganhou poucas vezes nas últimas sete rodadas ou que simplesmente não somou nenhuma vitória nesse período? Se você pensou na segunda opção, é sinal que pensa de modo semelhante a mim. Portanto, jejum seria o zero de consumo. 


Motivos para jejuar

São diversas as razões que levam alguém a praticar o jejum. Entre elas, me identifico com algumas e vejo outras como repugnantes. Por exemplo, há pessoas que optam por jejuar motivadas meramente pela vaidade (geralmente estética, isto é, buscando "melhorias" na aparência física). Se você entrou nesse tópico com essa motivação, direito seu, mas o foco aqui não é esse. De toda forma, sugiro que continue a leitura.

A busca que me parece a mais usual na prática do jejum é a de ordem espiritual. Escrituras sagradas abordam o jejum apontando para uma transcendentalidade, motivando os adeptos a reservarem dias na semana, no mês ou no ano para essa atividade. Coincidentemente - ou não - estamos nesse exato momento num período no calendário cristão que remete ao histórico jejum de Jesus no deserto, por quarenta dias consecutivos (a Quaresma). Não que os religiosos jejuem como Jesus, muito pelo contrário, o que vemos nas festas das igrejas ao longo do ano mais se assemelham a um incentivo a comilança do que a prática do jejum. Certamente, Jesus não seria um adepto dessas insituições religiosas que o carregam como símbolo e referência.
Ilustração remetendo ao Mestre Jesus de Nazaré, meditativo no deserto: quarenta dias de jejum não é para qualquer um.

De toda forma, retornemos ao jejum como prática espiritual. A idéia de jejuar gira em torno de causar aflição ao corpo, dando, assim, prioridade para a alma. Os judeus, que no Yom Kippur (Dia Do Perdão) ficam por 25 horas em jejum e em oração, têm uma interessante analogia sobre essa relação: o cavalo seria o corpo, e o cavaleiro seria a alma - é sempre melhor o cavaleiro estar acima do cavalo. Quer dizer, particularmente acho que o melhor é que humano e cavalo sigam seus caminhos sem que um explore o outro, em harmonia plena, sem qualquer relação hierárquica. Mas a analogia ajuda a entender a essência do jejum para os judeus.

Mahatma Gandhi, hindu que o filósofo Huberto Rohden classificou como "o maior cristão do século XX", praticou cerca de dezessete jejuns ao longo da vida. Suas motivações eram de ordem espiritual, sem dúvidas, mas com forte conotação político-social. Afinal, mostrar solidariedade com os oprimidos e reivindicar a libertação destes é, fundamentalmente, um ato espiritual.
 "Seja a mudança que você quer ver no mundo", frase de Mahatma Gandhi, que deu ao mundo um exemplo experienciado através de seus próprios atos.

Como jejuar

Acho que não precisa de uma explicação pormenorizada. Bastaria não consumir alimentos e o jejum estaria automaticamente em curso. Mas isso quer dizer que, dormindo, estamos em jejum? Sim e não. Sim, porque nesse período não há a ingestão de alimentos. Não, porque não se trata de um movimento consciente.

Se eu pudesse dar somente dois conselhos a quem pretende praticar o jejum, seriam esses: [1] busque uma motivação nobre para isso e [2] esteja consciente durante o processo, perceba o seu corpo, vigie seus pensamentos e contemple o quão maravilhoso é o auto-conhecimento. Em última análise, a vigilância completa dos pensamentos, palavras e ações é a meditação.

Quando jejuar

Se você chegou até esse ponto no texto, sinal de que as coisas parecem ter caminhado bem. Nas mais variadas religiões, o jejum tem recomendações de acordo com o calendário. Particularmente, não acho que seja necessário seguir uma data rígida - se você sentir que o momento para jejuar e buscar um auto-conhecimento através de uma experiência dessa natureza é o próximo sábado, então prepare-se e faça no próximo sábado, independentemente de que dia seja o próximo sábado. Alguns ativistas jejuam de acordo com o momento político em curso, como por exemplo jejuar em frente a uma sede governamental em protesto contra alguma medida considerada prejudicial para a coletividade - e isso não tem uma data rígida.

Venho jejuando sistematicamente desde 2007 ou 2008 (não recordo exatamente), buscando uma maior percepção dos meus processos internos, bem como diminuir a minha "pegada ecológica", optando geralmente pelo último domingo de cada mês para realizar a prática - sendo essa escolha muito mais uma questão disciplinar para comigo mesmo do que qualquer outra coisa. Às vezes, tenho ciência prévia de que terei algum compromisso no dia que seria o do jejum, e no caso de entender que o compromisso possa afetar a "eficiência" do jejum, constumo antecipar a data (mas isso é bem raro de ocorrer). Ano passado (2011), por exemplo, o último domingo de dezembro foi o Natal de Jesus Cristo. Uma data maravilhosa para jejuar, a qual tive o prazer de manter para o dia 25 de dezembro (até porque abomino essa cultura ocidental de achar que comer animais na ceia seja um ato religioso). Hoje, não por acaso, é o último domingo do mês de março. E cá estou, em jejum há cerca de quinze horas, tentando compartilhar um pouco dessa experiência. E que venham as próximas nove!

quinta-feira, 1 de março de 2012

Luz Do Bhagavata - Verso 20

Torrentes violentas de chuva investem contra as margens do rio e as barragens do campo de arroz. Esses distúrbios assemelham-se àqueles criados pelos oponentes sazonais dos princípios modelares dos Vedas, oponentes estes que estão influenciados pela era de Kali.

Originalmente o caminho da auto-realização foi estabelecido pelas instruções básicas dos Vedas. Srila Vyasadeva dividiu o Veda original em quatro seções, isto é, Sama, Atharva, Rg e Yajur. Em seguida dividiu os mesmos Vedas em dezoito Puranas (suplementos) e o Mahabharata, e mais tarde o mesmo autor resumiu-os nos Vedanta-Sutras. O propósito de todas essas escrituras védicas é levar a pessoa a compreender que ela é um ser espiritual, eternamente relacionado com a Suprema Personalidade de Deus, a forma todo-atrativa (Sri Krsna).

Porém, todas essas diferentes escrituras védicas foram sistematicamente deformadas pelas investidas da era de Kali, assim como as barragens do campo de arroz e as margens do rio são deformadas pelas investidas de chuvas violentas. Esses ataques deturpadores são perpetrados por filósofos ateístas que estão preocupados apenas em comer, beber, divertir-se e desfrutar. Esses ateístas são todos contra as escrituras reveladas porque estão muitíssimo apegados aos prazeres sensuais e ao materialismo grosseiro. Existem também outros que não acreditam na eternidade da vida. Alguns deles propõem que a vida será, afinal, aniquilada e que apenas a energia material é que se conserva. Outros estão menos interessados em leis físicas, mas não crêem em nada além de sua experiência. E ainda outros igualam o espírito à matéria e afirmam que a distinção entre eles é ilusória.

Não há nenhuma dúvida de que os Vedas figuram como os mais reconhecidos compêndios de conhecimento, de todos os pontos de vista. Mas com o passar do tempo o caminho védico tem sido atacado por filósofos, tais como Carvaka, Buddha, Arhat, Kapila, Patanjali, Sankara, Vaikarana, Jaimini, os nyayakas, os vaisesikas, os sagunistas, os empiristas, os pasupata saivas, os saguna saivas, os brahmas, os aryas e muitos outros (a lista de especuladores não-védicos cresce dia a dia sem restrição). O caminho dos Vedas rejeita qualquer princípio desprovido de relacionamento eterno com Deus, obtenção do Seu serviço devocional e culminância em transcendental amor por Ele.

quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

Brincando De Jurado No Carnaval 2012

Caros companheiros na arte de admirar a expressão máxima da cultura popular brasileira (considerada também o maior espetáculo da Terra), pela primeira vez nessa presente existência material, consegui assistir aos dois dias de desfiles oficiais no Grupo Especial do Rio de Janeiro. E o que é melhor: numa boa localização (o setor 4, inaugurado por esses dias). E o que é ainda melhor: muito bem acompanhado. Então, cá estamos para fazer uma breve análise e também um breve julgamento (não necessariamente nessa ordem) sobre aquilo que foi visto/ouvido/sentido nessas duas noites memoráveis.

Renascer de Jacarepaguá. Muito agradável o desfile dessa escola, nem parecendo se tratar de uma estreante no Grupo Especial. O colorido e o traço de muito bom gosto do carnavalesco Édson Pereira no enredo homenageando o artista Romero Britto levaram a Renascer a desempenhar um belo papel, abrindo lindamente os desfiles nesse ano. O ponto forte da escola esteve justamente na parte estética, me levando a crer que esse carnavalesco tem muito a acrescentar nos desfiles do Grupo Especial futuramente. O bonito samba, embora não tenha contagiado a massa, também foi um ponto positivo. Mas cabe colocar que o intérprete Rogerinho Renascer cometeu um deslize grave aos 22 minutos de desfile, quando puxou a palavra "sensibilidade" em momento inoportuno, ignorando a repetição do refrão. A escola também vacilou no quesito evolução (seu último carro passava pelo setor 1 com cerca de 56 minutos no cronômetro, e os componentes aceleraram o passo para que a agremiação não estourasse o tempo-limite condedido em regulamento). Clique para ver foto do desfile, vídeo da comissão de frente, vídeo da bateria.

Portela. Guiada por um chão forte e por um samba altamente funcional, a Portela empolgou a massa ao falar sobre a Bahia. E nesse sentido foi um contraste muito grande com relação ao desfile anterior (também pudera, estamos colocando em sucessão uma estreante no Grupo Especial com a maior campeã no carnaval no Rio de Janeiro). O ponto forte do desfile foi o samba-enredo interpretado por Gilsinho, que, aliado a uma comunidade bastante animada, foi capaz de fazer um saldo positivo na apresentação. Esteticamente, o início do desfile me pareceu melhor do que o final e, embora a escola de Madureira tenha sido a mais premiada pelo júri do "Estandarte De Ouro" (5 nomeações: samba-enredo, intérprete, bateria, passista masculino e passista feminino), não acho que o conjunto da obra portelense vá levar a águia para o desfile das campeãs. Se o andamento do barracão preocupava alguns quanto a um rebaixamento da escola, esse pensamento pode ser afastado: pelo que foi apresentado no domingo, é mais fácil a escola desfilar no sábado das campeãs em 2012 do que no sábado de carnaval em 2013 (embora ache que não vá acontecer nem uma coisa, nem outra). Clique para ver foto do desfile.

Imperatriz. A escola de Ramos fez um desfile recheado de bonitas fantasias (como por exemplo a da bateria), de alegorias interessantes (como por exemplo o belo carro que trazia uma sensacional escultura de uma baiana mexendo a panela com a colher) e apresentou uma impactante comissão de frente. Mas devo confessar que achei o desenvolvimento do enredo sobre Jorge Amado aquém. Não aquém de uma escola concorrente, mas aquém das próprias capacidades do ótimo carnavalesco que é o Max Lopes. Em alguns momentos, sequer reconheci o "Mago das Cores" pela sucessão cromática das alas - embora, no conjunto, ainda tenha sido um belo desfile. Problemas com pelo menos dois carros alegóricos deverão sacramentar a ausência da Imperatriz no desfile das campeãs. E eu já tenho dúvidas de se Max durará muito tempo mais nessa agremiação. Clique para ver foto do desfile.

Mocidade. Nesse momento o blogueiro torna-se (mais) suspeito para falar. Foi a primeira vez que assisti a um desfile da Mocidade de corpo presente na Sapucaí e a emoção tomou conta desde antes mesmo do cronômetro ser iniciado. E a Mocidade, tão capenga nos últimos anos, fez uma linda apresentação nesse ano de 2012. A homenagem a Portinari ratificou o talento de Alexandre Louzada, que trouxe um conjunto alegórico dos mais belos da noite, mostrando bom gosto na concepção e fácil leitura para os espectadores. A performance da bateria foi um espetáculo marcante, para coroar uma apresentação de alto nível da escola de Padre Miguel. O orçamento inferior ao das demais escolas (diz-se que foi o menor nesse ano) foi compensado pela força da comunidade, pela beleza artística do desfile e pelo bonito samba-enredo da escola. Se vai voltar no sábado é outra história - penso que não voltará, infelizmente -, mas o independente deve se lembrar de 2012 como um grande ano para escola, no que foi talvez o melhor desfile da estrela-guia desde a saída de Renato Lage. Clique para ver foto do desfile, foto do carro abre-alas, foto da bateria, vídeo da comissão de frente, vídeo da bateria, vídeo do 5º carro alegórico ("Êxodo Sertanejo").

Porto da Pedra. O patrocínio vindo de uma empresa que enriquece comercializando laticínios trouxe ônus e bônus para a agremiação de São Gonçalo. Se por um lado parece ter entrado bastante dinheiro na escola (haja visto a monumentalidade de determinadas alegorias e o uso de tecnologias em diferentes pontos do desfile), por outro o desenvolvimento de um enredo onde o samba diz coisas como "iogurte é leite, tem saúde e muito mais" foi um negócio complicado. Plasticamente, o resultado foi até satisfatório. Mas temo, ou melhor, torço para que a Porto da Pedra caia para o Grupo de Acesso. Acho que fará bem a escola, que pensará como mais critério da próxima vez que um investimento pomposo bater a porta. E fará bem também para o samba em geral, já que esse daí destoou da safra atual. Clique para ver foto do desfile.

Beija-Flor. Rica, exuberante, com um visual impactante. Patrocinada pelo governo do estado do Maranhão, a escola nilopolitana homenageou a capital São Luís com um desfile emocionante. Alegorias que retratavam os infortúnios passados na "escravidão negra" e a homenagem a Joãosinho Trinta no último carro alegórico foram de arrancar lágrimas. Mas não consigo admitir que São Luís do Maranhão se limite a escravismo, reggae e Joãosinho, conforme parece ter sugerido a escola. O uso de monstros na Beija-Flor voltou a marcar presença com força e foi visto com tamanha intensidade que fica difícil imaginar que alguém possa se atrair por um dia visitar a capital maranhense após assistir essa apresentação. Ano passado, a Unidos da Tijuca foi penalizada no quesito enredo. Creio que o mesmo possa - e deva - ser feito com a Beija-Flor nesse ano: o desfile da agremiação de Laíla e companhia mais parecia com "Essa Noite Levarei Sua Alma" do que qualquer outra coisa. Tudo indica que brigará pelo título, mas, na leitura de quem viu uma escola cuja comissão de frente passou por todo um setor sem fazer qualquer coreografia, não é merecedora nem de voltar no sábado. Clique para ver foto do desfile.

Vila Isabel. O melhor desfile da noite. Talvez o melhor desfile do ano. A Vila Isabel incorporou mais uma vez Kizomba e apresentou Angola com um vigor e uma autoridade narrativa dignas de campeonato. Rosa Magalhães deu um show na concepção das fantasias e foi muito correta no traço das alegorias. A comissão de frente representando a savana africana foi simplesmente sensacional, tendo sido possivelmente o fato mais marcante no Grupo Especial 2012. Vencedora de seis Estandartes de Ouro (escola, mestre-sala, porta-bandeira, enredo, baianas e personalidade com Rosa Magalhães), a Vila é favorita ao título. Clique para ver foto do desfile, vídeo da comissão de frente, vídeo da bateria.

São Clemente. O samba de ritmo acelerado interpretado por Igor Sorriso funcionou plenamente na avenida e embalou a escola numa apresentação bastante correta. Será difícil cravar se a São Clemente conseguirá escapar do descenso, mas a boa estética do carnavalesco Fábio Ricardo e a fácil leitura do enredo são dois fatores que podem pesar a favor da agremiação de maneira decisiva na empreitada de saborear por mais tempo um lugar no Grupo Especial. Clique para ver foto do desfile, vídeo da comissão de frente.

União da Ilha. Não era um samba tão fácil de cantar quanto o "bububu no bobobó" que o antecedeu. Nem de uma melodia tão atraente quanto o que viria a sucedê-lo. Mas a riqueza contida no enredo, a inteligente maneira de narrar a temática escolhida, o bom gosto para a elaboração de alegorias e fantasias e a sensacional comissão de frente (vencedora do prêmio "Estandarte De Ouro" foram ingredientes que compuseram um excelente desfile por parte da União da Ilha do Governador. O problema presente no último carro foi talvez o grande lamento do Grupo Especial esse ano, sobretudo levando-se em consideração a maravilha que era cada alegoria anterior àquela derradeira. De toda forma, a Ilha passou muito bem e fica a torcida para que possamos ver a chama olímpica acesa no sábado das campeãs. Clique para ver foto do desfile, vídeo da comissão de frente.

Salgueiro. Depois de assistir um desfile desenhado por Alex de Souza, que tal acompanhar um de autoria de Renato Lage? Presente dos deuses do samba essa seqüência de tão alto nível. E o Salgueiro veio belíssimo, como não poderia deixar de ser: o samba interpretado pelo ótimo Quinho sacudiu, a bateria conduzida por Mestre Marcão levantou e a agremiação passou a mensagem do "Cordel Branco E Encarnado" lindamente. No meio de tantos pontos positivos, onde era difícil eleger uma alegoria mais bonita em meio a tantas obras de arte, cabe colocar um porém: a escola teve dificuldades na entrada de pelo menos dois carros alegóricos e deixou um clarão nos primeiros metros de Sapucaí, restando saber se o jurado de evolução presente no primeiro módulo identificou a falha. Ano passado o gigantismo salgueirense também complicou a evolução da escola, só que dessa vez o dano foi, felizmente, muito menor que o visto naquela oportunidade. Clique para ver foto do desfile, vídeo da comissão de frente.

Mangueira. A Estação Primeira vestiu a camisa do Cacique de Ramos e incorporou o bloco festejado pela Verde-e-Rosa. A desenvoltura dos componentes, a leveza do desfile, a intensidade da interação com o público e a fluidez do samba fizeram mais parecer que na avenida passava um grande bloco do que exatamente uma escola de samba. E a Mangueira contagiou, emocionou, tocou. Só que ficou devendo na parte estética, vítima do gosto duvidoso do carnavalesco Cid Carvalho e talvez de alguma restrição orçamentária, embora o presidente Ivo Meirelles tenha exaltado algumas corporações instantes antes do início do desfile, fazendo uma propaganda pra lá de deselegante. A bateria de Mestre Aílton voltou a mostrar a sua marca e marcou época com outra performance ousada, com os ritmistas ficando por mais de dois minutos sem tocar seus instrumentos. Vamos ver para que lado essa balança de pontos altos e baixos vai pesar - pelo aspecto emocional, a Mangueira seria muito bem-vinda ao desfile das campeãs. Pelo lado puramente estético, é candidata ao rebaixamento. Clique para ver foto do desfile, vídeo da comissão de frente, vídeo da bateria.

Unidos da Tijuca. Da comissão de frente novamente surpreendente e impactante ao último carro, Paulo Barros voltou a trazer para o sambódromo um desfile recheado de sacadas geniais. Pode não ter sido o seu carnaval mais inspirado (particularmente achei que faltou um "algo mais" naquilo que tange as alas, embora sem compromenter a mensagem do enredo), mas sem dúvidas a Tijuca, mais uma vez, deu um espetáculo ímpar na Sapucaí. O carro alegórico homenageando Mestre Vitalino foi o ponto alto do desfile. Acho que a apresentação teria sido ainda melhor se a Tijuca desfilasse após uma escola menos "explosiva" que a Mangueira, pois houve um contraste nítido entre os dois sambas e as duas baterias. De toda forma, o trabalho foi bem realizado e os gritos de campeão ouvidos no setor 4 soaram bem. Clique para ver foto do desfile, vídeo da comissão de frente, vídeo do 3º carro alegórico ("Do Barro, Se Fez A Vida"), vídeo do 6º carro alegórico ("Festas Juninas"), vídeo do 7º carro alegórico ("Festa Da Coroação"), vídeo da saudação do público presente no setor 4.

Grande Rio. Não sei se a Grande Rio conseguiu superar os desfiles de Vila Isabel e Unidos da Tijuca, mas quer saber? Não importa. A história contada pela escola foi realmente de emocionar, fechando com chave-de-ouro os desfiles pelo Grupo Especial. Alegorias como a "Superação Sobre Rodas" e alas como a "Lembrando Gabrielle Andersen: Maratonistas" foram de levar às lágrimas. A mensagem foi passada com as boas soluções artísticas de Cahê Rodrigues, o gogó de Wantuir e a bateria de Mestre Ciça, levando a crer que a Grande Rio não somente volte a desfilar no sábado das campeãs, como também pode mostrar que chegou a sua hora de faturar o carnaval. Mas, depois de tudo o que foi mostrado, isso não importa. Importa é a beleza da mensagem que foi transmitida, renovando o sentimento de esperança. Clique para ver foto do desfile, vídeo da comissão de frente, vídeo da bateria, vídeo do 4º carro alegórico ("Superação Sobre Rodas").

Classificação (sem dar notas, mas basicamente pelo gosto de assistir o desfile)

Vila Isabel
Unidos da Tijuca
Grande Rio
União da Ilha
Salgueiro
Mocidade
Renascer de Jacarepaguá
Beija-Flor
Mangueira
São Clemente
Imperatriz
Portela
Porto da Pedra

Pitaco: Beija-Flor, Vila Isabel, Unidos da Tijuca e Grande Rio disputam o título. Salgueiro retorna no sábado. Outra vaga no desfile das campeãs fica entre Ilha, Mangueira, Mocidade e Portela. Caem Renascer e Porto da Pedra.

(Nos pitacos feitos ano passado, até que cheguei perto).