terça-feira, 26 de junho de 2012

Crueldade Que Compactuamos

Na última edição do programa CQC (Custe o Que Custar), exibido ontem, 25.06.2012, na TV Bandeirantes, o quadro Proteste Já tratou de um tema absolutamente necessário para debate: abatedouros.

No Brasil, estima-se que aproximadamente metade dos matadouros de animais atuem na clandestinidade, isto é, sem qualquer inspeção quanto aquilo que é regulamentado para funcionamento. Se você pensar que o CQC foi até um matadouro municipal (isto é, sob "os cuidados" da Prefeitura) e encontrou o que encontrou, imagine o que não existe pelo país naqueles estabelecimentos tidos como ilegais.

E estamos falando de um país onde existe mais boi do que gente, alimentando o mundo com 1/3 da carne bovina consumida nesse planeta. O programa mostrou as questões de ordem sanitária, escancarando um cenário caótico para a saúde pública. Mas a abordagem, por se limitar a essa esfera, acabou pecando por omissão: é eticamente inaceitável falar de matadouros sem entrar no mérito do direito dos animais. Direito dos animais não se resume ao fato de matar à marretadas ou via pistola pneumática. Direito dos animais inclui - ou pelo menos deveria incluir - o direito de viver em liberdade, livre de qualquer forma de exploração. Como diz o filósofo Tom Regan, não interessa se foi aumentado o tamanho da jaula - o que interessa é que a jaula esteja vazia.

A Band, através do CQC, perdeu uma grande oportunidade de realizar uma reportagem revolucionária na TV aberta brasileira, expondo para o público fatos que, para alegria da indústria alimentícia que lucra horrores pela exploração animal, estão convenientemente ocultos aos olhos da massa. E fez pior, pois quando o repórter Oscar Filho coloca como considerações finais a sua preocupação com os postos de trabalho perdidos pelos funcionários do matadouro (o estabelecimento foi fechado pelo poder público), ele deixa a mensagem de que a barbárie de ceifar vidas de seres sencientes se justifique pelo argumento de que gere renda para um sujeito. Argumento inválido, além de perigoso. Ou será que Oscar Filho não pouparia esforços para promover o sustento honesto dos coveiros?

Numa sociedade onde se procura justiça, ética e respeito, é fundamental que esses valores atemporais sejam colocados acima do dinheiro. Custe o que custar.
Abaixo, a matéria veiculada pelo programa.

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