quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

Marchinhas Banidas? Trago Soluções!

Está rolando um reboliço por conta de alguns blocos carnavalescos estarem banindo de seus repertórios musicais algumas marchinhas.

Primeiramente, há que se destacar o óbvio: o repertório é do bloco, então o bloco se responsabiliza pelo repertório. Simples assim. Sendo mais específico: você dificilmente verá a execução do hino do Clube de Regatas Vasco da Gama num bloco de exaltação ao Clube de Regatas Flamengo.

Desta forma, se o bloco zela por igualdade de gênero, fenótipo, espécie, escolha afetiva, religiosa ou seja lá o que for, cabe a este bloco selecionar o seu repertório. Se isso soa chocante, acho melhor terminar a leitura por aqui.

(Obrigado por continuar)

Mencionaram quatro dessas marchinhas. Vou opinar sobre cada uma delas e apresentar possíveis soluções não traumáticas.

1. Maria Sapatão

A letra é tão simples, mas tão simples, que substituí-la seria uma tarefa elementar para analfabetos funcionais. Imagine se os responsáveis por essa composição quisessem colocar em evidência um homem heterossexual em vez de uma mulher supostamente homoafetiva.

Teríamos, por exemplo:

João heterozão, heterozão, heterozão
De dia é João, de noite é João.

Lembrando que o fato da Maria ter supostamente preferências homoafetivas no período da noite, isso não gera uma mudança de nome no RG ou a necessidade de emissão de uma nova cédula identitária para uso noturno. Maria continua sendo Maria. Incrível, né?

2. Cabeleira Do Zezé

Na extrema falta do que fazer e no que refletir, não há nada como... cuidar da vida dos outros. Pausa para lembrar que estamos nesse momento na 17ª edição do Bígui Bróder Brasil. Fim da pausa.

Zezé, indivíduo de cabelo considerado grande em suas dimensões aparentes, tornou-se alvo de suspeitas comportamentais absolutamente irrelevantes para o convívio social.

Mas para não ficarmos sem essa tradicional marchinha (seria muito difícil viver sem ela, praticamente uma obra-prima da música brasileira, talvez tendo sido composta por algum pseudônimo de algum gênio do carnaval), vai uma sugestão de adaptação.

Olha a cabeleira do Zezé
Será que ele quer? Será que ele quer?

Será que ele quer deixar grande?
Será que ele já vai cortar?
Parece que o cabelo é dele.
Então é melhor respeitar.

Deixa o cabelo dele!
Deixa o cabelo dele!

3. O Teu Cabelo Não Nega

Considerando que o termo "mulata" seja de origem espanhola (feminina de "mulato", "mulo", indicando um animal híbrido que descende do cruzamento de uma égua com um jumento ou de uma jumenta com um cavalo), não há muito o que fazer. Estamos nos referindo a um vocábulo propositalmente depreciativo, usado em referência aos filhos mestiços das escravas que coabitaram com os senhores (leia-se escravocratas) brancos.

Uma sugestão automática seria trocar "mulata" por uma cor. "Branca", por exemplo.

4. Índio Quer Apito

Evidentemente, índio não faz questão de apito. Índio, em 2017, está mais interessado em simplesmente existir enquanto índio mesmo. Por falar nisso, a Imperatriz Leopoldinense, tradicional escola de samba do Rio de Janeiro, trouxe como enredo neste ano "Xingu - O Clamor Que Vem Da Floresta". E por falar algumas verdades inconvenientes (bem sutis, por sinal), a agremiação foi repreendida por membros da bancada ruralista no Congresso Nacional. É uma boa ilustração para mostrar quem é que manda e quem é que sofre nesse país.

Trazendo um pouco mais de veracidade à marchinha, poderíamos cantar assim:

Ê, ê, ê, ê, índio quer demarcação
Tá na Constituição

Lá no bananal, capanga de branco
Deu no índio uma surra a pedido do patrão
Índio ficou dolorido e estatelado no chão
- Eu não quero violência! Eu quero demarcação!

Provavelmente, essa última marchinha seria banida. Mas não por meros mortais blocos carnavalescos...

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