terça-feira, 18 de maio de 2010

Ele Apenas Queria Comer

Saudações a cada indivíduo que faz essa leitura nesse momento.

Hoje aconteceu um fato que achei interessante relatar aqui. É verdade que tomei como hábito nesse blógui de postar os fatos de um determinado mês agrupados numa espécie de "balanço mensal", mas temo acontecer de esquecer-me disso que ocorreu algumas horas atrás e omitir algo que acho pertinente compartilhar com você(s). Sem mais delongas, vamos ao fato.

Acordei por volta das 6h, talvez meu recorde nesse ano de 2010. Havia combinado de levar o material para minha irmã fazer a aula de Música, que começaria às 8h. Como meus movimentos são meio lerdos de manhã, acordei com antecedência de duas horas para diminuir os riscos de atraso. Levantei, bebi um copo com água, separei o dito material, mexi no computador (etapa que me consumiu mais tempo) e fui andando para o destino (caminhada de uns 2 ou 3km, não conferi). Cheguei lás às 7:40h e logo depois chegaram mamãe e irmã. Tudo no esquema, etc e tal, minha mãe combinou de esperar pela minha irmã até que a aula acabasse. Então, fui pra rua tomar um açaí. Cheguei ao estabelecimento, pedi 500mL do precioso alimento, paguei os R$3,70 e fui aguardar no balcão de atendimento para que fosse processada a bendita e saborosa fruta.

Eis que surge um indivíduo provavelmente mendicante. Vestindo roupas aparentemente sujas, com um visual despojado, mas sem transmitir qualquer odor desagradável e portando-se civilizadamente, foi presenteado por um outro cliente com um pastel. O sujeito entrou no estabelecimento direcionando-se com a notinha para o balcão de atendimento. O mesmo procedimento que adotei segundos atrás e que a maioria dos clientes - senão sua totalidade - adotaria. Mas ele tinha aparência de mendigo, morador de rua. Unicamente por esse motivo, surge uma figura que aparentava ser o dono do estabelecimento e o obrigou a sair do local onde se encontrava. Nesse momento, o camarada que havia presenteado o ser-humano em extrema carência material interviu, já engrossando a voz:

- Não faz isso com ele não, eu paguei pra ele!

Ao que respondeu o suposto dono do estabelecimento:

- Não vamos criar confusão aqui não, ele come lá fora.

Não me contive em ser mero espectador e mandei o seguinte:

- Ele é tão cliente quanto a gente.

Veja você, em momento algum apelei para direitos humanos. Talvez fosse inclusive um pastel de carne e aí seria cabível apelar para os direitos animais. Apenas ressaltei que ele era tão cliente quanto qualquer um que pagasse pelo produto pedido.

Esse episódio - o qual lamento profundamente - muito me lembrou a excelente estréia do programa "A Liga", da Rede Bandeirantes de Televisão. Nesse programa, jornalistas "disfarçaram-se" de mendigos para experienciar um dia "na pele" desses tantos indivíduos anônimos - para não dizer invisíveis mesmo - que estão por todas as partes desse país.

Quero pedir a você, que por acaso tenha um negócio com fins lucrativos ou que trabalhe para alguém que gerencie algo dessa natureza, o seguinte. Olhe "o outro" como um ser vivente, capaz de experienciar alegria, prazer, dor, sofrimento. Talvez isso o convença de veganizar o estabelecimento, mas a proposta inicialmente nem é essa. É simplesmente que não aconteça episódios como esse que testemunhei hoje. Ou, do alto da minha inocência, apenas eu acho que aquele indivíduo de baixo poder aquisitivo é tão sujeito de direitos quanto eu? Reitero: ele estava pagando pelo que iria consumir.

Já vi em portas de estabelecimentos cartazes com dizeres do tipo "proibida a entrada de quaisquer animais". Não vou me alongar muito no quanto essa frase é absurda, pois, biologicamente, os seres humanos são todos eles animais. Só seria compreensível caso fosse um estabelecimento 100% robotizado, o que não era o caso. Torço para que não me depare, qualquer dia desses, com algo como "proibida a entrada de mendigos". Se bem que, infelizmente, isso na prática já ocorre.

Fraternais abraços.

P.S.: quanto ao desfecho do episódio, não fiquei pra ver. Preferi pegar o açaí e levá-lo para outro lugar, tomando-o pelo caminho.

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