quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Festival De Cinema Do Rio

Do dia 23 de setembro até hoje, cariocas e/ou viajantes que encontram-se na Cidade Maravilhosa puderam curtir o Festival de Cinema do Rio de Janeiro. Não me considero um cinéfilo (esse termo me sugere algo como "sujeito alucinado por cinema", creio que esteja num estágio pouco mais são que esse) mas o fato é que consegui ver vários filmes. De segunda-feira até ontem foram 4 (sendo um de fora do Festival). Vamos a alguns pitacos.

Comer, Rezar, Amar

É, esse não era pelo Festival (estava sendo exibido no circuito comercial). O filme tem várias paradas com as quais me identifico: aborda a Itália, a Índia, futebol, devoção, vegetarianismo, espiritualidade, trilhazinha sonora brasileira. E tem a Júlia Roberts, né? De toda forma, achei o olhar demasiado hollywoodiano (leia-se superficial). O início do filme parece fragmentado, meio que sem sentido, mas aos poucos a história vai ficando interessante. A atuação de Júlia é convincente (pra variar) e, mesmo com o tanto de estereótipos toscos (por acaso é comum no Brasil o pai beijar o filho na boca?), vale dar uma olhada. Pra quem não sabe, esse filme deu bastante polêmica entre os torcedores da Lazio: no livro que deu origem à obra audiovisual o personagem torcia pelo clube da camisa celeste, enquanto na película o cara "virou" torcedor da Roma. Roma, justamente a maior rival da Lazio. Alguns adeptos mais exaltados sugeriram o seguinte: "coma, reze, ame, leia o livro, mas não vá ao cinema". Eu, teimoso, acabei indo. Não empolgou, mas achei que valeu. Detalhe: meiaentrada segunda-feira por R$3,50 é o que há!

José Martí: O Olho Do Canário

Inspirador! História bem contada, que flui bem, se desenrola com coerência. O diretor conseguiu adentrar no drama dos personagens de uma forma muito sensível e contar a história de um dos pilares da Revolução Cubana. Confesso que pouco - quase nada - sabia a respeito da opressão espanhola sob o povo da ilha da América Central, e a biografia de José Julián Martí Pérez me comoveu. O desfecho da história com uma das poesias de José Martí associada à imagem da cena foi absolutamente memorável. "Viva Cuba libre"! Viver por um ideal, pense nisso.

Poesia

Filme coreano que retrata a vida de uma senhora humilde, empregada doméstica e que cuida do neto sozinha. A história, ao meu ver, carece de um clímax, mas é de alta sensibilidade. A relação da senhora com o Alzheimer, a vida do neto, o trabalho que lhe dá sustento e a poesia tecem uma trama cheia de mensagens sutis. Me lembrou um pouco o filme "Mother". Esse seria o "Grandmother". Grandiosa é a atuação da atriz Yun-Jung Hee.

Lope

Na cerimônia de encerramento do Festival de Cinema do Rio, muita badalação no Cinema Odeon. Lá estava eu, quase que de penetra, sendo cumprimentado por alguns "famosos" que deveriam achar que eu também tô no ramo haha... Falando do filme, pode-se dizer que a obra cresce. Cresce absurdamente, a ponto de parecer que trata-se de uma co-produção onde os primeiros enfadonhos minutos foram de autoria de algum amador da indústria cinematográfica e, a partir de um certo momento, a obra ganha vida e toma ares de um filmaço. Recomendo que assista e dou a dica: não saia antes de terminar. Mais um daqueles filmes com um final para se guardar na memória.

Também assisti o filme israelense "O Errante" (semana passada). Esse daí achei de uma genialidade sinistra. Tão genial que foi mal compreendido pelo público. Justifica-se: quadros mal encaixados (certamente propositalmente, talvez para causar desconforto), 0 de trilha sonora (a vida real também não tem musiquinha de fundo, senhoras e senhores), seqüências demoradas de cenas (pela primeira vez pude ver um ovo ser fritado na grande tela). A realidade perturbadora do protagonista é tratada de forma seca, mostrando que o diretor Avishai Sivan veio não para ser mais um, mas para deixar a sua marca. Em tempos onde o cinema-entretenimento trás cenas em ritmo alucinante e tirando do espectador a mera possibilidade de "pensar o filme", O Errante está aí. Vá preparado para algo que escapa do comum. Ou então, nem vá.

O Errante: pessoas acostumadas com o "jeito Hollywood de ser" terão dificuldades de encarar o filme israelense.

Antes ou depois de "O Errante" (desculpem, não lembro mesmo), assisti ao filme "A Última Estação", que conta a biografia de Liev Tolstói. Como não poderia deixar de ser, o filme tem significativo viés filosófico, apoiado na mente iluminada daquele russo, que optou por um modo de vida baseado no voto de pobreza, no vegetarianismo e na castidade. É agradável o fluir do filme, mas senti que a história de Tolstói "não coube" na película de 112 minutos. Merece uma trilogia. E, se possível, com a mesma equipe que participou dessa obra.

A Última Estação: Christopher Plummer parece a própria encarnação de Tolstoi, em filme com sabor de quero mais.

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