domingo, 6 de janeiro de 2013

Análise Dos Sambas-Enredo Do Carnaval 2013 - Grupo Especial, Rio De Janeiro

Já virou tradição nesse blógui analisarmos os sambas-enredo das agremiações no Grupo Especial do Rio de Janeiro. Fizemos isso em 2010, em 2011, em 2012 e, pela quarta vez, estamos marcando presença para comentar as impressões a respeito de cada composição. Como esse tópico está sendo publicado antes dos ensaios técnicos na Sapucaí, não teremos vídeos como aqueles que foram vistos ano passado. De toda forma, espero que seja proveitosa a leitura.

Escola: Unidos da Tijuca
Enredo: "Desceu Num Raio, É Trovoada! O Deus Thor Pede Passagem Para Mostrar Nessa Viagem A Alemanha Encantada"
Trecho: Vai brilhar em cada cinema, um anjo sonhar / Em prosa e poema, se eternizar
Análise: O enredo é um passeio pela Alemanha, e o passeio é tão longo que pode ser considerado um mérito da escola o fato de o samba não ter ficado enfadonho. Pelo contrário. Tirando o refrão principal, que destoa pelo vazio de conteúdo, merece elogios a obra tijucana. E tudo deverá ficar ainda melhor quando se revelar cada ala e cada alegoria no desfile elaborado pelo genial Paulo Barros.

Escola: Acadêmicos do Salgueiro
Enredo: "Fama"
Trecho: Sou eu o artista, famoso sambista / Me chamo Salgueiro
Análise: É impressionante como qualquer coisa que caia nas mãos e no gogó do Quinho, dá samba. Se analisarmos friamente a letra do Salgueiro para 2013, a composição é muito abaixo da do ano passado. Mas a alegria é a mesma de sempre e dá aquela vontade de se mexer, de sambar sem parar quando se ouve essa parceria dos intérpretes com a Furiosa Bateria.

Escola: Unidos de Vila Isabel
Enredo: "A Vila Canta O Brasil Celeiro Do Mundo – Água No Feijão Que Chegou Mais Um…"
Trecho: Agradeço a Deus por ver o dia raiar / O sino da igrejinha vem anunciar
Análise: A Vila está se mostrando especialista em fazer samba que concilia poesia e empolgação. No meu entendimento, é isso o que se espera de um bom samba-enredo. Essa é a segunda ou terceira vez nos últimos quatro anos que vejo na escola de Noel Rosa a melhor composição da safra. Salve, Martinho! Parabéns, Tinga!

Escola: Beija-Flor
Enredo: "Amigo Fiel – Do Cavalo Do Amanhecer Ao Mangalarga Marchador"
Trecho: Eu vou cavalgar pra encontrar / A minha história nesse mundo de meu Deus
Análise: É a Era dos patrocínios. Exploradores de equinos derramaram dinheiro em Nilópolis e a escola resolveu falar sobre o "puro sangue". Estivéssemos no século dezenove, grandes seriam as possibilidades de algum grêmio recreativo escola de samba se prestar a promover a escravidão de pretos para honrar as verbas injetadas pelos senhores de engenho. E Neguinho, de tão "profissional", se prestaria a cantar. E sabe o que mais? Muitos sambariam...

Escola: Acadêmicos do Grande Rio
Enredo: "Amo O Rio E Vou À Luta: Ouro Negro Sem Disputa"
Trecho: Um Grande Rio de amor, sou eu / Vem cá, me dá, o que é meu, é meu
Análise: É a Era dos patrocínios... A Grande Rio, que "surgiu" como uma escola que dava um banho de cultura, passou a ser uma captadora de recursos sem critérios. Dessa vez, foram os royalties do petróleo que seduziram a agremiação caxiense. O pior não é nem isso: a letra é medonha e há inclusive comentários levianos sobre a extração do combustível fóssil. Levianos para não dizer falaciosos. A palavra "preservar" deveria ser proibida de ser colocada em vão. Fico eu aqui imaginando se Nêgo, que retornou à tricolor, não sente saudades daqueles tempos em os enredos da Grande Rio eram escolhidos com menos influência financeira do que filosófica.

Escola: Portela
Enredo: "Madureira… Onde O Meu Coração Se Deixou Levar"
Trecho: Cai na folia comigo, meu bem, vem na fé
Análise: O samba portelense desse ano me lembra muito o do ano passado. Gilsinho seguiu a mesma linha melódica de 2012 e, novamente, a escola virá com uma composição gostosa de se cantar. Dessa vez, o apelo aos torcedores da escola é maior, pois o enredo conta a história do bairro de Madureira. Ninguém me perguntou nada, mas preferi o samba do ano passado.

Escola: Estação Primeira de Mangueira
Enredo: "Cuiabá, Um Paraíso No Centro Da América"
Trecho: Meu samba é madeira, é Jequitibá / É poesia dedicada a Cuiabá
Análise: Achei interessante o fato de as rimas mangueirenses serem verso-a-verso, praticamente na totalidade da letra. Isso não é receita de sucesso, mas quando a melodia ajuda, facilita demais para o samba cair na boca do povo. E essa é a impressão que tenho: será um dos sambas mais cantados em 2013. Com as bênçãos da Surdo Um.

Escola: União da Ilha do Governador
Enredo: "Vinícius, No Plural. Paixão, Poesia E Carnaval"
Trecho: Onde anda você, "Poetinha"? / Saudade mandou te buscar
Análise: Não apenas gostei - e muito - do samba da Ilha como achei esse trecho acima um dos mais belos feitos nos últimos anos. É simples e profundo, direto e reflexivo. Ito Melodia, mais uma vez, acertou no tom. Na Era dos patrocínios, há que se valorizar um enredo autoral homenageando um "imortal". Dinheiro nenhum compra isso.

Escola: Mocidade Independente
Enredo: "Eu Vou De Mocidade Com Samba E Rock In Rio – Por Um Mundo Melhor"
Trecho: Um mundo melhor… que felicidade / No Rock in Rio eu vou de Mocidade
Análise: Sou suspeito pra falar de samba da Mocidade pois não sei precisamente onde fica a fronteira entre o analista e o apaixonado. E, somando-se a isso o fato de ser um apreciador do festival denominado Rock In Rio, o melhor a fazer seria ficar calado dada tamanha parcialidade. Mas há pelo menos duas coisas que não posso deixar de dizer. A primeira é que não achei um grande samba e muito disso se deve às limitações que o próprio enredo impõe. A segunda é que, apesar disso, acho que há grandes chances de o samba puxado pelo Luizinho Andanças casar com o desfile preparado pelo Alexandre Louzada. De toda forma, nada que possa se comparar com a poesia que se fez ao Portinari no carnaval passado.

Escola: Imperatriz Leopoldinense
Enredo: "Pará, O Muiraquitã Do Brasil"
Trecho: Oh! Mãe… Mesmo se um dia a força me faltar, / A luz que emana desse teu olhar / Vai me abençoar
Análise: Muito legal ver um samba nas vozes de Dominguinhos e Wander. E o samba da Imperatriz tem muito a cara deles, principalmente do Dominguinhos. Não sei como será o funcionamento disso na avenida, mas torço para que seja o melhor possível. O refrão principal me parece um pouco problemático no sentido de que pouco passa de mensagem. Mas o trecho que o antecede é de tamanha beleza que talvez consiga amenizar um eventual estrago.

Escola: São Clemente
Enredo: "Horário Nobre"
Trecho: Nem adianta me ligar agora / Eu estou grudado na tela
Análise: Tem a irreverência característica da São Clemente. Ano passado, o "bububu no bobobó" funcionou bem na Sapucaí, ajudando a agitar componentes e arquibancadas. Resta saber se, em 2013, nessa apologia noveleira, o resultado poderá ser semelhante. A letra não me agrada, mas em meio a uma safra tão fraquinha, esse samba está longe dos piores do ano.

Escola: Inocentes
Enredo: "As Sete Confluências Do Rio Han – 50 Anos Da Imigração Sul-coreana No Brasil"
Trecho: Coréia do Sul, suas águas cristalinas são o espelho / Na cadência da Baixada / Deságuam no meu Rio de Janeiro
Análise: Estreante no Grupo Especial, a Inocentes traz um samba com cara de Grupo de Acesso. Mas isso não é problema para quem tem um gogó como o do Wantuir puxando o samba da escola. A melodia até flui bem, mas sinto a falta de um suingue daqueles que ajudem a bateria a brincar um pouco na avenida. O trecho que antecede o refrão principal me parece o ponto alto da obra belford-roxense.

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