terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Grupo Especial 2013 - Segunda Noite De Desfiles

Assistir pela TV é muito diferente de estar presente na Sapucaí. Mas vamos assim mesmo analisar a noite de desfiles que encerrou as apresentações no carnaval 2013 no Rio de Janeiro (veja os comentários sobre a noite dominical).

São Clemente

Com um canto forte (que ficou evidenciado nas ousadas paradinhas da bateria onde até o intérprete Igor Sorriso parava de cantar) e um desfile irreverente, a São Clemente abriu bem a segunda noite de apresentações no sambódromo. O carro "Caminho das Índias" estava primoroso, com esculturas irrepreensíveis de Shiva. As baianas vieram com um bonito colorido, mas num chapéu que parecia desconfortável de tão grande. Mas talvez pior do que o chapelão seja o fato de as senhoras clementianas desfilarem enfileiradas, o que me passa uma idéia de restrição à liberdade de movimentos. Quem mais do que as baianas merece passar pela Sapucaí bem à vontade?

Entre altos e baixos na passagem da aurinegra de Botafogo, foi a primeira vez que vi um merchandising em pleno tripé de comissão de frente, onde os telões mostravam o logotipo da mesma emissora de televisão que transmitia o desfile e que monopolizava o "Horário Nobre" enredado. O que se viu foi muito mais uma reverência à empresa de comunicações, pois não houve espaço para nenhuma obra que tenha sido transmitida em outros canais. A bateria, ponto alto da apresentação tanto pela fantasia irreverente quanto pela performance dos ritmistas, contava com ninguém menos do que Mestre Marcão (ele mesmo, que dirige a bateria Furiosa do Salgueiro) tocando caixa. Humildade e competência.

Mangueira

A Mangueira teve um grande avanço na parte estética se compararmos esse desfile de 2013 com o de 2012, ambos com Cid Carvalho como carnavalesco contratado. Se naquele ano a escola conseguiu um sétimo lugar, poderíamos pensar que não seria difícil a Mangueira partir em direção ao título dessa vez, notadamente por se tratar de uma escola de forte apelo popular e que parecia encontrar uma plástica funcional para narrar o enredo. Mas o desfile da Manga teve problemas. Algumas alas pareciam repetitivas, a evolução foi irregular, componente da comissão de frente deixou o chapéu cair em frente a uma das cabines de jurados e, de quebra, a escola concluiu o desfile sete minutos além do tempo máximo regulamentar.

Mas a Estação Primeira tem mais motivos para ser lembrada por seus acertos do que erros. A bateria ousou em vir com 496 ritmistas, fazendo transições entre os grupos que tocavam os instrumentos. Porém, o que mais me impressionou não foi nem essa transição, e sim o recuo "inventado", pois o tradicional não comportaria todos eles - foi uma parte para o recuo de sempre e outra para um corredor, do lado oposto, alguns metros a frente. Manobra arriscada e muito interessante. Só que a agremiação não soube lidar com as inovações conciliadas à grandeza da escola, e a correria e o atraso foram consequências quase naturais. O agravante foi o último carro alegórico, que tinha uma libélula em altura maior do que o último obstáculo. Tentaram de várias maneiras abaixar a libélula, mas a solução acabou sendo inusitada e inédita: o inseto voador passou por cima do concreto! Isso sim é que é passar voando pela Sapucaí. No geral, considero que a Verde-e-Rosa esteja de parabéns, principalmente pela homenagem ao eterno Delegado, em plena comissão de frente.

Beija-Flor

Chamando de "Amigo Fiel" aquele mesmo ser que é explorado e escravizado para as mais diversas atividades, a Beija-Flor fez do Mangalarga Marchador um enredo trágico filosoficamente. Primeiramente, pela falácia de que haja uma relação de amizade com o oprimido. Segundo, e não menos importante, pelo uso abusivo de penas de animais para a confecção de fantasias e alegorias. Fantasias e alegorias essas que souberam transmitir a mensagem calculada pela agremiação, a maioria delas de uma estética belíssima e efeitos deslumbrantes.

A alegoria com 20 mil tufas de palha foi um ponto alto no desfile nilopolitano. Além do visual bem resolvido e funcional visto nesse carro alegórico, antes 20 mil tufas de palha do que uma pena de faisão. O carnaval precisa se desvincular do sofrimento animal. Urgência ética. Diria que o desfile da Beija-Flor nessa segunda-feira foi a antítese do desfile da Renascer de Jacarepaguá, no sábado, onde a mensagem de preservação foi passada pelo enredo e pela escolha dos materiais. Ademais, parabéns ao Kennedy pelo magnífico trabalho de pintura desenvolvido na agremiação.

Grande Rio

Como de hábito, Roberto Szaniecki e Grande Rio trouxeram um carnaval carregado de gigantismo. O tema patrocinado dos royalties foi um prato cheio para a megalomania, que passava por fantasias individuais como a dos robôs, alas como a das baianas e alegorias como a da plataforma petrolífera. Sobrou até pra comissão de frente, trajando pés-de-pato enormes e passando pela Sapucaí de maneira heróica, pois imagine você a dificuldade de andar naquelas condições.

O pior samba do ano não foi de todo trágico, e isso se deve à sensacional bateria Invocada. Sob o comando de Mestre Ciça, os ritmistas caxienses deram um show com paradinhas e coreografias que são o atestado de genialidade desse ícone do carnaval carioca. O final do desfile da escola foi arrebatador, com uma das mais belas alegorias de todo o carnaval desse ano: um lindo iguana com deslumbrantes águas vivas que pareciam flutuar na Sapucaí, seguidos pelo contraste com a poluição de desastres ambientais. Adoraria ter visto a saída da bateria do recuo, até por se tratar de um momento do desfile conhecido por os ritmistas fazerem uma graça. Mas a emissora preferiu filmar o próprio estúdio montado na dispersão...

Imperatriz

Cahê Rodrigues estreou de maneira sublime na escola de Ramos. Foi possivelmente o desfile mais surpreendente do Grupo Especial: poucos falavam da Imperatriz como capaz de trazer uma bela apresentação, mas o que se viu foi uma passagem digna de escola campeã do carnaval. A comissão de frente estava sensacional, as alegorias de muito bom gosto e as fantasias eram praticamente todas elas de um visual limpo e caprichado. Não sei se houve alguma escola mais bem vestida do que a Imperatriz Leopoldinense, com destaque para a ala das baianas e a bateria. Aliás, que som da Swing da Leopoldina... #MestreMarconeVive

O Pará e os paraenses devem ter ficado orgulhosos pela homenagem prestada, mas há que se dizer que faltou um teor crítico. O tal "exemplo pro mundo" é um verso muito sério para retratar um cenário onde índios são assassinados por fazendeiros, coisa que em momento algum foi exposto no desfile, desfile esse que trouxe a figura de indígenas em praticamente todos os setores. Ótimas fantasias, alegorias e esculturas, mas a mensagem mascarou um estado de covardia que nem todos querem admitir que existe. Oremos à Virgem de Nazaré, pois mesmo se um dia a força nos faltar, a luz do seu olhar vai nos abençoar.

Vila Isabel

Os gritos de "é campeã" vieram sob medida para a apresentação arrebatadora da Vila de Noel, Martinho e... Rosa Magalhães. A Maga do carnaval acertou a mão mais uma vez e trouxe a escola praticamente impecável para a Sapucaí. A comissão de frente era de arrancar lágrimas dos olhos. O abre-alas, de uma deslumbrante riqueza e limpeza. As primeiras alas, impactantes.

Mas a grande covardia era o samba-enredo, um dos melhores da história catalogada do carnaval. Poesia do início ao fim. Coube à bateria dos Mestres Paulinho e Wallan a tarefa de não ofuscar o samba, pois não havia nada que precisasse ser melhorado. Missão cumprida. E, não satisfeitos, fizeram mais: sob coreografia de Carlinhos de Jesus, a Swingueira de Noel saiu do recuo e montou um arraiá em plena Sapucaí. Me arrepiam os pêlos só de digitar, olhos começam a lacrimejar. Enfim, não haveria maneira melhor de se encerrar as apresentações. Faltou só o dia clarear. Ainda era noite na manhã de terça-feira. Mas o galo jamais cantou tão alto. Parabéns, Vila Isabel!
O espantalho Julinho e o canavial Rute: casal de mestre-sala e porta-bandeira da Vila Isabel estava arrebatador. Desfile coloca a escola como forte candidata a levantar o terceiro título.

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