domingo, 10 de fevereiro de 2013

Noite De Encerramento Da Série A 2013 Foi Belíssima No Rio De Janeiro

A segunda noite de desfiles no novo Grupo de Acesso no carnaval do Rio de Janeiro (Série A 2013) foi maravilhosa. Além de apresentações bonitas visualmente e alguns sambas interessantes, tivemos um memorável encerramento através da Renascer de Jacarepaguá de Paulo Barros: um desfile sem uso de nada de origem animal. Considero isso como um marco para o carnaval. A prova viva de que é possível, viável e aconselhável trazer uma escola ética, colocando na prática a preservação e o respeito que tantas vezes são teorizados em diversos enredos. Espetacular. Que vire tendência! A vida agradece!

Agora vamos analisar as apresentações dessas últimas dez escolas, assim como fizemos com relação às nove primeiras.

União de Jacarepaguá

Veio falando da cidade de Vassouras e, enquanto desfilava, a emissora que deveria transmitir a passagem da escola preferiu manter sua grade habitual, com novelas, reáliti e companhia. O jeito foi aguardar o VT, que passou após o encerramento da Renascer de Jacarepaguá. E valeu esperar: a escola veio bem, desfilando um colorido muito bem distribuído. Os primeiros setores foram quase que integralmente nas cores da agremiação alviverde, com direito à presença do carnavalesco Jorge Caribé num belo tripé vegetacional. Foi um desfile leve, com três alegorias (a maioria das escolas trouxe quatro) e o encerramento com um tripé (nesse caso não achei uma escolha acertada, pois "esfriou" o desfecho da apresentação). A bateria de Mestre Marquinhos foi generosa em suas bossas, sendo o destaque nessa "abertura" da segunda noite (abertura para quem estava lá, quase fechamento para quem acompanhava pela emissora noveleira).

Paraíso do Tuiuti

Carente de irreverência, o enredo sobre Chico Anysio passou pela Sapucaí de maneira sem graça. Teve um ou outro momento interessante, mas o conjunto da obra foi um desfile pesado esteticamente, por vezes beirando a confusão visual. A comissão de frente, que teve dois componentes sendo flagrados com mal-estar após a apresentação, me pareceu mal concebida, não aproveitando a versatilidade do humorista retratado no enredo. De mais belo, achei a rainha de bateria Mayra Cardi. De mais engraçado, a entrevista de um repórter com uma integrante da ala das baianas (elas vieram vestidas de noivas): "Dona Edna, como você faz para segurar seu casamento?", perguntou. Ao que a componente respondeu: "Eu matei os dois". Chico deve ter sorrido, onde quer que estivesse.

Tradição

Foi a primeira escola pela transmissão televisiva, a terceira para quem estava lá. Estou aqui pensando se seria melhor (ou menos pior) para a escola entrar abrindo a noite ou vir na posição que veio. Sinceramente? Pouco importa. O desfile foi feio visualmente, com fantasias de gosto pra lá de duvidoso. Sem entrar no mérito do orçamento limitado, já sabendo que isso realmente interfere significativamente na execução das idéias, mas o fato é que não é porque não se tem de dinheiro que as coisas tenham que ser bizarras. De toda forma, a Tradição possibilitou um dos grandes momentos da Série A: o compositor Davi Corrêa, autor da obra original de 1981 e que foi reeditada 32 anos depois, não apenas estava lá esbanjando carisma como cantou junto do intérprete oficial, Marquinhos Silva. Uma viagem no tempo. Irregular esteticamente, a Tradição foi a dona da noite na parte sonora do espetáculo, com um samba que funcionou novamente. E tem cara de que funcionará sempre, sobretudo na ilustre presença de Davi Corrêa. Cabe também elogiar a proposta da escola de reciclar os materiais. O gosto a gente discute, uns podem se agradar e outros nem tanto (meu caso). Mas um desfile reciclado e com uso de materiais alternativos será sempre melhor que um degradante ética e ambientalmente.

Império Serrano

Trazendo a cidade de Caxambu como enredo, o Império Serrano conseguiu fazer um desfile abordando as águas sem cair na mesmice que o tema tanto escorrega. Mérito para o carnavalesco Mauro Quintaes, que proporcionou um desfile com alguns momentos memoráveis. A começar pela comissão de frente, que sofreu o desfalque do tripé (por alguma razão, o elemento alegórico ficou de fora do desfile) mas que não sentiu a falta da alegoria: com uma coreografia funcional e fantasias sensacionais, a comissão imperiana inovou e encantou. O carro abre-alas, limpo e tecnológico, remete ao estilo raitéqui de Renato Lage, com direito a um telão circular que deu um efeito muito legal de movimentos de água. Por fim, o último carro alegórico foi belíssimo: mulheres grávidas formavam a coroa, símbolo da agremiação. As fantasias foram de alto nível, mantendo um padrão de qualidade do início ao fim. Se vai subir para o Grupo Especial, não sei. Mas foi um baita desfile da escola.

Cubango

"Teimosias da Imaginação" foi a confirmação do talento desse carnavalesco chamado Severo Luzardo. Acertou a mão na ala das baianas (espetaculares em preto-e-branco), trouxe o mais belo tripé da Série A 2013 (um rinoceronte em vime) e teve na figura de Shangai, homenageado, um momento a ser lembrado por muitos carnavais, de emocionar mesmo. Um enredo ousado e uma bateria abusada, com o talento de Mestre Jonas ajudando a tornar o desfile ainda melhor. Faltou o canto dos componentes, prejudicando a harmonia, mas foi um desfile com vários atributos que colocam a Cubango entre as mais fortes concorrentes ao troféu.

Sereno de Campo Grande

Caçula do grupo, a Sereno de Campo Grande nem alcançou a maioridade e já fez um desfile de gente grande. O enredo é daqueles que são sempre bem-vindos, trazendo a proposta de um mundo com mais consciência. É uma temática que cai para o abstracionismo, mas que materializada em alegorias e fantasias consegue passar a mensagem. O samba era praticamente um hino à paz, com passagens belíssimas, porém de difícil memorização. Fantasia e maquiagem da comissão de frente, esculturas no florestal abre-alas e a ala da reciclagem foram momentos fortes no desfile. Lamento é o camarada falar em paz, harmonia, unicidade e colocar tantas penas de seres abatidos covardemente. A se repensar, para que teoria e prática caminhem e desfilem juntas.

Império da Tijuca

Juninho Penambucano, carnavalesco da escola, é pra mim a revelação do carnaval 2013. A África estilizada no abre-alas causou bonito impacto visual, que me remeteu ao desfile da Vila Isabel homenageando Angola, ano passado. Deve ter rolado influência sobre esse desfile. O jogo cromático foi dos mais bonitos na noite e há que se dizer que encerrar o desfile sobre mulheres negras com uma imagem de Nossa Senhora da Conceição Aparecida trata-se de algo formidável. Abençoando a apresentação. Teve perfil de campeão. Aguardemos a apuração.

Caprichosos de Pilares

Com um dos enredos mais originais do ano (diria até que possivelmente o mais original), a Caprichosos trouxe sua irreverência habitual para falar sobre os fanatismos. A performance ilusionista da comissão de frente, a bateria vindo de Profeta Gentileza e a crítica ao fanatismo religioso foram momentos para se recordar. Pelo conjunto, tivemos um desfile cheio de mensagens, algumas talvez até mesmo menos explícitas do que outras, mas também presentes, sendo ao mesmo tempo crítico e irreverente, porém, pecando no visual. E pecar no visual após uma apresentação como a da escola que a antecedeu tem um peso maior. Uma questão de fanatismo por comparações.

Unidos de Padre Miguel

África novamente. E lá vamos nós comparar com tantos desfiles que retrataram o continente. Dessa forma, por mais que a Unidos de Padre Miguel tenha conseguido uma apresentação correta, pouco ou nada acrescentou de novo. Achei belíssima a roupa do primeiro casal de mestre-sala e porta-bandeira, reunindo cores que não são habituais nessas vestimentas. Também gostei muito do setor em torno da alegoria da Galinha de Angola: o carro ficou bacana, a ala que o antecedeu era uma das mais bonitas da noite e ala seguinte, das crianças, estava o maior barato. Possivelmente a ala de crianças que melhor passou pela Sapucaí. No final das contas, um desfile que você gosta mas se pergunta se é só isso. Era.

Renascer de Jacarepaguá

Um encerramento de Série A para lavar a alma. Com um enredo preservacionista, a Renascer desfilou o preservacionismo em todos os seus componentes, da comissão de frente ao último integrante da escola. As alegorias-vivas marcaram presença com a assinatura do gênio Paulo Barros, proporcionando momentos como o belíssimo carro das joaninhas nas plantas, onde humanos faziam uma revoada de pássaros. Soluções como os guarda-chuvas floridos foram muito interessantes. Mas o grande destaque foi o conjunto das fantasias, impecável. Impecável na estética, impecável na mensagem, impecável na confeccção. Nada de origem animal, ou seja, a crueldade com faisões, patos, gansos, araras, pavões e tantas outras vítimas da depenagem não esteve presente. Desfile pra nos fazer renascer em uma nova consciência. Que se esteja criando uma nova tendência! Parabéns, Renascer! Parabéns, Paulo Barros!
 Renascer de Jacarepaguá fechou os desfiles na Série A 2013 com uma apresentação memorável, que marca época pela confecção de um carnaval sem uso de penas nem plumas, preservando a vida e trazendo soluções muito felizes para fantasias e alegorias. Mais uma marca deixada por Paulo Barros, para o bem do carnaval.

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