domingo, 23 de agosto de 2009

Começou O Ramadã

Como a data de ontem marcou o início do Ramadã, cá estou na tentativa de falar alguma coisa sobre esse período altamente importante para os muçulmanos e para o Islamismo.

Bom, não tenho lá muita familiaridade com o Ramadã, nem com muçulmanos e tampouco com o Islã, mas um trabalho realizado ano passado na faculdade abordando a guerra do Yom Kippur me despertou interesse no tema. Aliás, a guerra recebeu esse nome pois foi no dia do Yom Kippur (também conhecido como o Dia Do Perdão) que os egípcios começaram os ataques bélicos pra cima dos israelenses, no ano de 1973.

Imagem de conflito árabe-israelense, a guerra do Yom Kippur

O Ramadã não tem uma data fixa, pois se baseia nas fases da lua, sendo o calendário lunar 11 dias mais breve que o calendário solar. O fato é que ocorre no nono mês do calendário islâmico, sendo o 'tripé' do Ramadã baseado nas propostas de oração, jejum e caridade.

Acho interessante a questão do jejum e os propósitos vinculados a essa prática, até porque não é uma conduta exclusiva do islamismo. Os católicos, por exemplo, propõem que os seguidores da doutrina não comam carne no período de Quaresma. Curioso, né? Por quarenta dias no ano é considerado "errado" comer carne, mas nos demais 325 dias a mesma prática é "tolerável". Não quero me alongar numa comparação religiosa, mas acho pertinente colocar que embora haja uma simbologia forte em torno da Quaresma católica, a disciplina islâmica perante o Ramadã é muito maior, não havendo a ingestão de nenhum alimento entre o nascer e o pôr-do-sol.


Muçulmanos orando na mesquita Istiqlal, em Jacarta, marcando o início do Ramadã

Quanto ao Yom Kippur especificamente, é interessante observarmos as recomendações para essa que é uma das datas mais importantes do judaísmo:

Existem 5 proibições no Yom Kippur: 1. Comer (come-se um pouco antes do pôr-do-sol ainda na véspera do dia até o nascer das estrelas do dia de Yom Kippur); 2. Usar calçados de couro; 3. Relacionamento conjugal; 4. Passar cremes, desodorante etc. no corpo; 5. Banhar-se por prazer.

A essência destas proibições é causar aflição ao corpo, dando, então, prioridade à alma. Pela perspectiva judaica, o ser humano é constituído pelo yetzer hatóv (o desejo de fazer as coisas corretamente, que é identificado com a alma) e o yetzer hará (o desejo de seguir os próprios instintos, que corresponde ao corpo). Nosso desafio na vida é "sincronizar" nosso corpo com o yetzer hatóv. Uma analogia é feita no Talmud entre um cavalo (o corpo) e um cavaleiro (a alma). É sempre melhor o cavaleiro estar em cima do cavalo!


Dar uma data para "o desejo de fazer as coisas corretamente" é como uma encenação coletiva sob a batuta religiosa, onde o "bom homem" tem prazo de validade já estimado. Está no "dia do perdão", no "dia de ação de graças", na "sexta-feira santa" etc. Acredito que o verdadeiro sentido de re-ligare encontre-se abrigado num compromisso permanente, que transcenda a formalidade da espiritualidade institucionalizada e permeie o mais íntimo de nós no sentido de matermo-nos conectados sem precisar que um sacerdote ou um livro diga-nos o que fazer. Esse "agir corretamente" eu gosto de chamar de ética.

Oração, jejum e caridade pra você também.

Um comentário:

  1. Não tenho o direito de apontar pra ninguém e falar mal de sua religião/cultura, mas pelo menos posso criticar/discordar.
    Não vejo razão em proibir coisas durante o dia e essa mesma proibição ser liberada durante a noite. Parece mais uma maneira de fazer o que gosta (e não o correto) escondido do sol, à luz da lua! Logo a noite, momento em que a alma deveria estar mais pura, estar em paz.

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